opinião

A greve geral não foi pouca coisa

Manifestantes no ato em frente à Prefeitura | Foto JACKSON REIS

A greve geral de sexta parou o país e a capital do mundo, Gravataí. Obviamente porque não havia ônibus, mas as ruas parecendo um domingo mostraram que as estratégias dos grevistas deram certo.

Um dos principais objetivos dos organizadores era chamar atenção às monstruosas reformas trabalhista e previdenciária que estão passando pelo Congresso sem que muitos saibam do que se trata.

O ‘monstruosas’ – tamanho e/ou conteúdo – você interpreta a seu gosto, caso já tenha se informado sobre elas, ou se apaixonado por algum preconceito ou clichê contrário ou a favor.

Por estas bandas, as manifestações foram todas tranquilas, daí a pouca repercussão. Longe da quadra de carros incendiados que vimos semana passada na França, em protesto contra alterações nas leis do trabalho, contrários às reformas fizeram uma rápida caminhada, empunharam cartazes e gritaram palavras de ordem tendo como palco a frente da Prefeitura.

Também pacificamente, piquetes pararam a Sogil e gigantes como a Pirelli e a GM tiveram suas paralisações.

Mesmo sob ameaça de corte do ponto, educadores e o funcionalismo aderiram pesado, numa articulação aprovada ainda no dia 18 pelo sindicato dos professores e seguida pelos municipários.

Entre exemplos simbólicos, Bruno Kahle e Moacir Bitencourt, sócios de um dos maiores escritórios de advocacia de Gravataí fecharam as portas e botaram faixa apoiando a greve no palacinho onde atendem na Dorival.

César Peres, criminalista renomado, não abriu o escritório e transferiu a prova que aplicaria aos alunos da Ulbra.

É simplismo achar que tudo não passou de um aplique de sindicalistas preocupados com a perda das contribuições sindicais, quando a adesão, total ou parcial, chegou ao judiciário, a policiais e a profissionais das mais diferentes áreas e classes sociais, tal abrangência das reformas.

Se em Porto Alegre, sob a vigilância de helicópteros, gente apanhou, correu do Choque e voltou para casa cheirando a gás lacrimogêneo, e este jornalista é testemunha ocular, na aldeia a guerra se deu pelas timelines.

Vagabundos ou pelegos, petralhas ou coxinhas, eram alguns dos insultos trocados no Facebook por desempregados, assalariados, pequenos empresários, profissionais liberais e afins.

Muitos aprovando incondicionalmente a perda dos próprios direitos e benefícios, possivelmente não numa espécie de altruísmo cívico para salvar o país de uma das maiores crises de sua história, mas por já ter lado na divisão política que vivenciamos até nos almoços de família.

Porque ao fim, as reformas são isso: mais cortes e ajustes no arremedo de estado de bem-estar social criado pela Constituição de 88 e, parafraseando Belchior, esperança de jovens que não aconteceu, burlada selvagemente pelas relações da vida real.

Como o eco da greve nacional chegará ao Planalto e ao Congresso, os próximos dias dirão.

Não é preciso conhecer muito da situação do país para saber que reformas são necessárias, tanto nas relações de trabalho, como na previdência. A questão que este articulista deixa para quem quiser responder, e demanda um exercício de nudação de ideologias e distanciamento para observação da história como História, é:

– Não seria o tempo errado para votar reformas de tal magnitude, quando temos um presidente não eleito para ser presidente e um Congresso cujo sobrenome é corrupção?

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