NOSSA HISTÓRIA

A incrível história da professora Claudia, que trouxe a santa para Escola Santa Tecla, resgatou antepassados e parte da história de Gravataí

A professora aposentada Claudia Rejane Monteiro conta, em artigo para o Seguinte:, a saga para garantir para a Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Tecla uma imagem da santa que dá nome à instituição. Siga abaixo na íntegra


A história que vou lhes contar se passou durante o final do ano de 2017, 2018 e 2019. Mas, tenho certeza que teve início muitos e muitos anos atrás, na época do início do Cristianismo, passou pelo final do século XVIII, no início da ocupação do Rio Grande do Sul, vindo parar nos dias atuais.

Sempre que penso nesta história vem muito forte em minha mente a certeza que a fé remove montanhas e que o ensinamento de Cristo é poderoso e vence todos os obstáculos, inclusive o tempo.

Basta lembrar que estamos a mais de 2000 anos que Ele esteve na Terra, e ainda não temos grandeza para entendermos e aplicar tudo que Ele ensinou.

Vamos aos fatos: eu, Claudia Rejane Monteiro era professora no município de Gravataí, na Grande Porto Alegre, e no início de 2017 fui transferida para Escola Estadual de Ensino Fundamental Santa Tecla, no meio rural do meu município, divisa com os municípios de Sapucaia do Sul e Novo Hamburgo.

No primeiro dia que fui para a escola nova fiquei muito emocionada porque adoro natureza e a escola é num lugar muito lindo – próximo tem um morro maravilhoso. Quando olhei para aquele morro comecei a chorar dentro do carro. Era um choro de felicidade, de como se eu estivesse reencontrando um lugar que há muito não via.

E, pensei: quanta sabedoria há nesta mata, quanta sabedoria e força temos escondida nesta natureza.

Agradeci a Deus por ter me mandado para aquele lugar. Mas, eu não sabia nada da localidade, suas histórias e sua origem. Ao longo do ano fui me inteirando da nova realidade e estava muito feliz de trabalhar ali.

Surgiu uma dúvida: Por que o nome Santa Tecla? Ninguém sabia me responder. Pedi então o histórico da escola e nada tinha sobre Santa Tecla. Me questionei: Será que é em homenagem a uma santa?

Conversei com a ex-diretora e moradora local, Dinoráh Tecla Bitelo Dias. Seu segundo nome em homenagem a santa, para qual sua mãe fez uma promessa quando a filha nasceu prematura e se a menina sobrevivesse levaria o nome o nome da santa.

Dinorah falou da santa e da capela local com o mesmo nome. Mas, não sabia o porquê se cultuava esta santa desconhecida.

A história não saia da minha cabeça, era como uma obsessão. Pesquisei na internet e descobri que esta santa é muito cultuada em parte da Espanha e parte da Turquia.

Santa Tecla foi a primeira santa católica, considerada pro mártir (título equivalente aos apóstolos para a Igreja Católica). Ela viveu onde é a Turquia, num lugar chamado Icônio, nos primeiros anos do Cristianismo.

Era de família nobre e fugiu da mesma para seguir o apóstolo Paulo e os ensinamentos de Jesus. Foi perseguida, sofreu várias tentativas de morte pelos soldados romanos, mas Paulo e Tecla sobreviveram e foram pregar onde é hoje a Espanha.

Em homenagem a ela foi construída uma Catedral em Tarragona, na Catalunha e há uma grande festa no mês de setembro.

No dia 8 de dezembro de 2017 comecei a fazer uma prática budista de culto aos antepassados, que pratico até hoje. Neste dia foi montado meu altar budista, e no dia 10 de dezembro daquele ano, domingo, quando eu fazia a oração na frente de meu altar veio muito forte na minha mente o seguinte pensamento: “Dê a santa para a escola, protege as crianças.”

Fiquei um pouco assustada com a força deste pensamento. Na segunda-feira quando cheguei na escola disse para o diretor: “Vou dar uma imagem da Santa Tecla para a escola, pois ela dá nome a mesma, e aqui não há nenhuma referência a santa”.

Mas, eu com minha ingenuidade e ignorância, achei que seria fácil. Liguei para a Cúria Metropolitana para ver se tinha a imagem da santa e nada. Continuei a pesquisar e descobri que em Bagé teve um Forte de Santa Tecla, construído pelos soldados espanhóis na época que o território do RS era possessão espanhola. Este forte foi construído em meados de 1750 e era um posto avançado do aldeamento de São Miguel, um dos Sete Povos das Missões.

Mas, o que tudo isto tinha haver com minha Santa Tecla em Gravataí? Por que o pedido aconteceu durante uma oração budista para os antepassados?

Tentei esquecer todos estes questionamentos e foquei na promessa que fiz para o diretor.

Também descobri que a imagem que tem na capela do bairro era uma imagem de Santa Bárbara.

Como vi que não tinha como conseguir uma imagem original contratei um artista plástico para fazer a imagem, baseada na imagem da Capela. Ele recebeu o dinheiro e sumiu. Não desisti mesmo com este infortúnio. Rezava e pedia a Deus que me mostrasse um novo caminho.

Lembrei que uma sobrinha do meu tio morava no sul da Espanha. Entrei em contato com a Cristiana da Rosa e contei toda a história. Ela disse que iria me ajudar mesmo morando em outra região do país. Então entrou em contato com o responsável pela loja da Catedral de Tarragona onde tinha a imagem.

Conversamos sobre o valor e era tranquilo para eu pagar. Então ela trouxe a imagem quando veio visitar a família aqui no sul, isto foi em janeiro de 2019, um ano e um mês do pedido ser feito a mim. Mas, quando fui acertar o valor, o mesmo era muito mais alto, ela havia se confundido. Porém, o marido dela, Jesus, quis pagar a diferença como um presente para a escola e as crianças.

Naquele ano fizemos na escola um projeto pedagógico de recuperação da história local e da história da Santa Tecla. A imagem havia sido abençoada na Espanha e também pelo pároco local no dia da festa na comunidade, que sempre ocorre um março. Mas, a data de Santa Tecla é 25 ou 26 de setembro.

Dentro do meu coração minha aposentadoria só sairia quando chegasse o dia da santa, que era a culminância do nosso projeto. E, mais uma vez minha intuição me mostrou que eu estava certa. Eu precisava resgatar algo com aquele lugar e só depois me aposentaria.

Minha aposentadoria saiu dia 26 de setembro de 2019. Foi logo depois que saiu minha aposentadoria que descobri o nome de um antepassado chamado José Antunes da Porciúncula. Ele foi alferes do Regimento dos Dragões da Coroa portuguesa na cidade de Rio Grande, quando os portugueses devolveram a Colônia de Sacramento para os espanhóis no ano de 1777, atual território do Uruguai. Trabalhando em Rio Grande José Antunes da Porciúncula, meu antepassado, por parte da minha avó materna, denunciou ao Exército Imperial o contrabando de gado realizado pelo Coronel Rafael Pinto Bandeira.

Ou seja, no ano de 1787 havia uma animosidade entre estes dois militares. Descobri que Rafael Pinto Bandeira também foi casado com Maria Teresa Monteiro, uma de suas esposas, também antepassada de minha avó materna.

Também nas minhas pesquisas descobri que Rafael Pinto Bandeira herdou terras de seu pai Francisco Pinto Bandeira onde é hoje o município de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul e parte de Gravataí, localidade de Santa Tecla. Ou seja, as terras onde é o bairro, a capela e a escola pertenceram ao inimigo do meu antepassado.

Entendi naquele momento que realmente havia um resgate do meu antepassado com o ex-dono da terra.

E, o nome Santa Tecla?

Rafael Pinto Bandeira nas lutas contra os espanhóis para domínio e demarcação do território gaúcho comandou a destruição do Forte de Santa Tecla, hoje território de Bagé, tomou às terras para o governo português e demarcou a fronteira Brasil-Uruguai. Reuniu os índios do aldeamento de Santa Tecla e levo-os para suas terras, onde é o local da minha escola. Os índios já catequisados levam o culto a Santa Tecla para este novo local.

Inclusive os moradores mais antigos da região contam histórias da presença dos índios e dos padres.

Após muita reflexão em busca de entendimento do porquê este pedido foi feito a mim pelo mundo espiritual, conclui que dando a imagem da santa para a escola fiz um resgate da atitude de meu antepassado para com Rafael Pinto Bandeira, algo que foi corrigido com o tempo e pela descendência de José Antunes da Porciúncula.

Passei a amar Santa Tecla desde este fato. Passei a amar a Santa Tecla e sua história rezar para ela.

Conclui também que o mundo espiritual, os espíritos de luz, todos os seres de luz estão interligados. E que para o bem não existe religião. Algo que tem a ver com o cristianismo pode se manifestar numa prática budista. E, que a luz sempre encontra seu caminho e atende os desígnios de Deus. Que a justiça divina sempre vem, indiferente do tempo e da geração.

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