Foi um erro o corte, pelo governo Marco Alba, do centenário eucalipto que era um símbolo do Parcão, para abertura de um recuo na Avenida Dorival de Oliveira e construção de um paradão e de banheiros públicos. Reputo, porém, que a ‘polêmica dos banheiros’ é uma pauta ‘lacração’, que, na maioria das manifestações que correram minha timeline no Grande Tribunal das Redes Sociais, exerce a crítica de forma hipócrita. Politicamente, é motosserra no próprio pé da oposição, principalmente de petistas e ex-petistas que já governaram Gravataí e compartilharam bastante.
Antes de tudo: é difícil alguém me convencer de que não é um mau exemplo, e de que não valeria o esforço, e a criatividade, para adaptar o projeto arquitetônico e manter a árvore – mesmo que eucaliptos mais prejudiquem, do que ajudem o meio ambiente. A Prefeitura promete o plantio de 100 vezes mais árvores, o que fará como compensação ambiental, mas não é recomendável botar abaixo um símbolo de um parque no Centro da cidade, em um momento em que a Amazônia vive em 50 anos em 5 de desmatamento.
Nesse ponto, a melhor crítica veio de quem sabe, que é a Associação de Preservação da Natureza Vale do Gravataí (APN-VG), assinada pelo nosso ambientalista maior, Paulo Müller, que lamenta outros cortes e podas, como a guaianuba da rua Oto Alves Pereira, no bairro de mesmo nome, e possivelmente uma das árvores mais antigas da região, ou a figueira do Parque dos Anjos e os jacarandás da Av. Anápio Gomes.
– Quando se passa pela Dorival e se vê aquele imenso tronco, ali decepado, para as pessoas que possuem alguma sensibilidade, a vontade que se tem é de chorar, não só de pena pelo velho eucalipto, mas pela humanidade – diz o biólogo, no manifesto "A obra do absurdo", que você lê inteiro CLICANDO AQUI.
Ok também alguém julgar a pauta tão importante ao ponto de convocar manifestação em meio à pandemia, como o faz para às 17h desta terça evento no Facebook que você acessa CLICANDO AQUI.
O que considero hipocrisia é a crítica em relação ao custo do projeto, licitado em 16 de agosto por R$ 300 mil e apresentado nas redes sociais como dinheirama para construir “o banheiro”.
Gente do povo, que acharia caro fosse divulgado R$ 3 mil, R$ 30 mil, R$ 300 mil ou R$ 3 milhões, até pode estar desinformada sobre o que será feito no Parcão. Já alguns informados do mal não. Sabem bem que não é apenas uma latrina. Os tais banheiros são masculinos, femininos e família, com fraldário, espaço coberto de convivência, água potável e chimarródromo. Os R$ 300 mil cobrem também a abertura do recuo na pista e a construção do paradão.
“É coisa de primeiro mundo”, como defendem governistas, também nas redes sociais, em um mesmo texto publicado inicialmente pelo ex-prefeito Edir Oliveira, em post que você lê CLICANDO AQUI.
– Durante 16 anos ouvi sempre a queixa dos gravataienses pela ausência de sanitários para quem frequenta o Parcão – escreveu o governante de Gravataí entre 93 e 96.
O vereador Alan Vieira (MDB) também explicou o investimento detalhadamente, e mostando onde cada obra será feita, em live que você assiste CLICANDO AQUI.
Já o vereador Wagner Padilha (PDT) me envia WhatsApp em que critica que “enquanto somos vergonha nacional em saneamento básico” o prefeito fará “banheiros no Parcão” e constrói outro parque “em um bairro o qual 50% não tem saneamento”.
São argumentos como esses que considero ruins para oposição, além de meias verdades – e toda meia verdade tem uma metade próxima da mentira.
Incontestável que Gravataí ocupa a 94ª posição no ranking divulgado em junho deste ano pelo Instituto Trata Brasil, e, entre os 100 maiores municípios brasileiros, está entre as 10 com pior desempenho na área de saneamento básico no país. Só que R$ 300 mil dos banheiros não resolveriam isso. Talvez não resolvam os R$ 300 milhões prometidos para os próximos 15 anos pela PPP a Corsan, a parceria público-privada assinada neste ano. Da mesma forma, não seria o investimento na obra do Parcão do Rincão a resolver o problema histórico do bairro.
Wagner, que chamo vereator, porque é um artista premiado, que tem a cultura como vocação, é do partido de Daniel Bordignon, que quando foi prefeito, ou no governo de seu sucessor, Sérgio Stasinski, promoveu e curtiu shows e eventos nacionais no Parcão. Até hoje se ouvem críticas do “dinheiro jogado fora”. Lanço a questão: não merecem as pessoas arte e cultura? Não pode o pobre da vila assistir a um show que jamais assistiria? Ou o pipoqueiro vender sua pipoca num Parcão cheio?
Hipócrita é quitos que criticam o investimento de hoje no Parcão não achavam ruins os shows – e, inclusive, ganharam politicamente com isso. E muitos dos que aplaudem os banheiros, criticavam Bordignon e Stasinski!
Questiono também, sobre o Parcão do Rincão: não merecem os pobres tem um lugar bonito, amplo e bem iluminado para conviver? Para quem não conhece vila, lembro que para muita gente, cujas casas tem menos metros quadrados que habitantes, a rua, a esquina, são extensões do lar, por absoluta falta de espaço.
A hipocrisia na crítica ao custo dos banheiros do Parcão da 79 também me transporta aos estertores do governo Rita Sanco. Pouco antes do golpeachment que a tirou da Prefeitura com 11 denúncias, das quais ou foi absolvida, ou foram arquivadas, a prefeita, e também o vice Cristiano Kingeski foram alvos de denúncias por vereadores pelo suposto superfaturamento nos gastos para manutenção dos banheiros públicos da praça central e do quiosque.
A conta era apresentada da mesma forma malandra. Ao invés de detalhar o custo de, por exemplo, manter servidores em diferentes turnos para manter os quatro banheiros, apenas o valor total mensal, de dois dígitos, era usado para desinformar. Hoje, vejo ex-integrantes do governo Rita compartilhando meias verdades, o que até entendo ser coisa da política, do fazer oposição, mas…
Ao fim, todo e qualquer tema de uma cidade deve ser publicizado e debatido. Entendo, porém, que a lacração, o exagero da grita em algumas pautas transforma a oposição naquele cão que ladra atrás do motoqueiro. Quando a moto para o latido para. Assim o é na relação entre as esquerdas e Bolsonaro. Não me excluíndo de parte da culpa, onde estão os grandes debates, para além da ferradura ideológica, do identitarismo ou de ativismos setoriais?
Inegável é que a oposição pautar o governo traria mais ganhos para Gravataí, do que ser pautada por ele. Ainda em obras que tem algo, ou muito de bom. Do jeito que está, entre elogios e críticas desequilibradas, Marco Alba é tornado cada vez mais popular.