SAÚDE

A luta de Preta Gil revela a invisibilidade dos ostomizados: Cachoeirinha é modelo de acolhimento

A jornada pública da cantora Preta Gil contra o câncer colorretal tornou-se um símbolo de resistência. Após seu falecimento em julho de 2025, sua luta evidenciou uma realidade pouco conhecida: a dos ostomizados. Diagnosticada em 2023, Preta enfrentou cirurgias, septicemia e uma colostomia definitiva, referindo-se à bolsa coletora como sua “salvadora de vida”. Sua coragem trouxe à tona os desafios de milhares de brasileiros que dependem de estomas para eliminar resíduos corporais.

A ostomia, ou estomia, é um procedimento cirúrgico que cria uma abertura artificial para redirecionar fezes ou urina. Estimativas indicam que 70 mil brasileiros vivem com bolsas coletoras devido a câncer, doenças inflamatórias ou traumas. O processo exige adaptações físicas e emocionais complexas, incluindo cuidados diários rigorosos com higienização e prevenção de infecções. Psicologicamente, pacientes enfrentam medo de vazamentos, impactos na autoimagem e isolamento social. Por lei, ostomizados são reconhecidos como pessoas com deficiência física, garantindo direitos como atendimento prioritário e acesso gratuito a insumos pelo SUS.

Cachoeirinha: um modelo de cuidado integral

Enquanto o Brasil registra 46 mil novos casos anuais de câncer colorretal, o município gaúcho de Cachoeirinha destaca-se como referência no acolhimento a ostomizados. Na UBS Odil Silva de Oliveira, 120 pacientes recebem atendimento especializado. O serviço oferece suporte técnico para higienização e adaptação alimentar, infraestrutura pioneira com banheiro adaptado, e tecnologias como laserterapia e matriz de fibrina (técnica inovadora que acelera cicatrização usando o próprio sangue do paciente). Além disso, promove inclusão social através do bloco carnavalesco “Girassol” – símbolo das deficiências ocultas – e do evento “Estomia Consciente”, que aborda temas como afetividade.

Marlene Hammes, 66 anos, ileostomizada há três décadas, descreve o serviço como transformador: “Antes não havia sala ou banheiro adequados. Hoje somos tratados com dignidade da recepção à saída”. Marlene e sua filha, também ostomizada, enfatizam que o suporte profissional é crucial para superar tabus e reconstruir a vida social.

Desafios nacionais: do diagnóstico tardio à aceitação

A trajetória de Preta Gil reflete lacunas sistêmicas no país. Cerca de 75% dos tumores colorretais são detectados tardiamente, em parte pela baixa oferta de colonoscopias preventivas no SUS. Muitos serviços de saúde também falham na orientação pós-cirúrgica, deixando pacientes sem informações sobre reintegração social. O estigma persiste, como relata Marlene, presidente da Federação Gaúcha de Estomizados: “A aceitação começa quando a sociedade nos vê além da bolsa”.

O modelo de Cachoeirinha aponta soluções eficazes. Equipes multiprofissionais – incluindo enfermeiros, técnicos e médicos – acompanham pacientes desde a cirurgia até a reinserção social. O fornecimento gratuito de bolsas coletoras segue diretrizes do SUS, enquanto campanhas como o “Novembro Verde” combatem preconceitos. Bianca Breier, secretária municipal de Saúde, sintetiza a filosofia: “Não basta tratar feridas; queremos restituir sonhos”.

O legado de Preta Gil e iniciativas como a de Cachoeirinha revelam que a ostomia não é um fim, mas um recomeço possível. A mensagem ecoa nas palavras da cantora: “A bolsinha não é uma vergonha: é a prova de que a vida venceu”.

Serviço

UBS Odil Silva de Oliveira (Rua Paranaguá, 105, Cachoeirinha/RS). Atendimento mediante encaminhamento da unidade de saúde de origem.

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