RAFAEL MARTINELLI

A maior catástrofe da História do Brasil: Gravataí, entre o socorro aos seus e outros, e as necessidades do futuro; Ninguém fica para trás

Num círculo superior menor do Inferno de Dante naquela que é a maior catástrofe da História do Brasil em dimensão e, possivelmente, mortes, Gravataí já projeta as necessidades do futuro, enquanto socorre não só aos seus, mas flagelados de municípios vizinhos do Grande Rio da Região Metropolitana.

Vamos por partes. Ou círculos do inferno vivido e da – precisamos acreditar – redenção vindoura.

Se em Gravataí nem 2 a cada 10 dos 265 mil habitantes foram atingidos pela enchente, o que já é trágico, em Cachoeirinha são 5 mil (2 mil já abrigados) e em Canoas a cada 20 pessoas, uma foi resgatada pelos barcos públicos ou de voluntários, que já passam por corpos na água.

E essa gente que neste momento só tem a certeza de restar um bem, o maior, a vida, já ganha acolhida em 400 camas, refeições e roupas disponibilizadas entre as impressionantes 3.049 vagas de 31 abrigos públicos e, muitos e muitos, voluntariamente abertos por ctgs, como o ponto central, o Aldeia dos Anjos, entidades, clubes e igrejas; os locais, vídeos emocionantes e informações oficiais, você acessa nas redes sociais da Prefeitura.

Para se ter uma ideia da solidariedade gravataiense, às 11h havia 828 vagas ocupadas e OITOCENTAS E SESSENTA E SETE prontas, com colchões, roupas, comida e atendimento médico.

– Ninguém vai ficar para trás – garantiu ao Seguinte: o prefeito de Gravataí, nesta segunda-feira que começa sem previsão de volta às aulas e com hospital em atendimento restrito.

Insone desde a metade da semana passada, quando a catástrofe tinha ainda a dimensão das tragédias climáticas de junho, setembro e janeiro, Luiz Zaffalon assegura que só não estão sendo resgatados, de áreas alagadas ou sob risco, moradores que não aceitam deixar suas casas.

– É só gritar “barco!” que aparece um. Temos capacidade de resgatar. Frente a esse inferno todo que vivem nossos vizinhos, não podemos nos queixar. É natural as pessoas reclamarem nas cheias, mas ouvi de muita gente que devemos colocar as mãos para o céu. Nunca vi algo assim – diz, em suas sete décadas de vida, agradecendo os cerca de mil funcionários públicos e voluntários mobilizados em diferentes tarefas, do socorro ao acolhimento.

– Hoje não precisamos mais de comida, mas ainda de água e material de limpeza e higiene pessoal – apela o prefeito, contando que voluntários tem ido para outros municípios mais atingidos, a Prefeitura tem fornecido maquinário e combustível, além da equipe da unidade de saúde animal estar dando suporte para resgates em Canoas, na Eldorado do Sul que, conforme seu prefeito “não existe mais”, e até Porto Alegre.

O colapso no sistema de abastecimento é o principal desafio do momento. Se Porto Alegre tem 70% da capital sem água, Gravataí já chega a 50%. A partir da parada 72, já são cinco dias de desabastecimento. Que, conforme a previsão da Corsan, deve durar pelo menos mais três dias.

– Só a ETA da Cavalhada está funcionando, com água turva e a enchente chegando a 20 centímetros de inundar – relatou Zaffa, que já presidiu a Corsan no Rio Grande do Sul, enquanto era possível observar helicóptero da companhia sobrevoando Gravataí.

Para mitigar a crise, a Corsan disponibiliza 30 reservatórios emergenciais para abastecer a população em cidades da região metropolitana. Em Gravataí na Av. Dorival de Oliveira (parada 68); entre as ruas Alexandrino de Alencar e Alvarez Cabral (Morada do Vale I) e na EMEI Olenca (Av. Vila Rica, 1775). Em Cachoeirinha e outros municípios você acessa no site da Corsan.

Outro problema é logístico. O acesso principal é a ERS-118, onde já há denúncias de assaltos nos engarrafamentos, o que reforça a recomendação das autoridades de segurança para que, quem puder, fique em casa, como na pandemia.

Em Gravataí, os alagamentos ainda atingem os bairros de sempre: Vila Rica, São Judas Tadeu, a região do Parque dos Anjos e Morungava. A luz só foi cortada em pontos onde a inundação ultrapassa um metro.

O Rio Gravataí está hoje em 6.22 metros. O nível normal é de 2,60. Só fica abaixo dos 6.91 registrados em 1990. Com o Guaíba em 5.30, o maior nível de todos os tempos medidos, continua o represamento das águas, que não escoam para o ‘lago’ em direção ao mar, como o Seguinte: alertou em Gravataí e Cachoeirinha sob risco com maior enchente da história no rio Guaíba; Vila Rica, o mar de Morungava e o lego para ‘Deus’ destruir.

– Hoje vai baixar – é a garantia de Carlos Eduardo Tucci, PhD em Recursos Hídricos pela Colorado State University, mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental e que nos últimos 40 anos desenvolveu projetos para entidades como Unesco, Banco Mundial, BID, ANEEL, ANA e Itaipu.

Mas a previsão é de que só a partir do dia 15 o recuo chegue à cota ‘normal’ de inundação.

O engenheiro civil é o diretor de hidrologia da Rhama Analysis, cujas equipes também sobrevoavam Gravataí nesta segunda, para coletar informações para concluir até setembro o Plano Diretor de Drenagem de Gravataí, que pelos estudos preliminares projeta a necessidade de pelo menos R$ 300 milhões em obras só no município.

– É a nova pauta prioritária, para qualquer governo – reconhece o prefeito, projetando a necessidade de intervenções, como bacias de contenção a partir das Moradas do Vale, um dique no Barnabé, as 13 microbarragens no Rio Gravataí, uma casa de bombas na Vila Rica e trocas de redes, como diz, “do tempo do Império”, em pelo menos 120 pontos já mapeados, e cujas obras nos bairros-bomba o Seguinte: detalhou em Obras anti-alagamento custam investimento dos últimos quatro anos em toda Gravataí; Você está pronto para essa conversa?.

– Não podemos tirar a Vila Rica do mapa. Precisamos fazer um sistema de bombeamento para tirar água daquela região que é mais baixa – exemplifica o prefeito, também apontando a necessidade de remoção de centenas de famílias de áreas de risco para construção das bacias e do dique.

– Só um dique custa ao menos R$ 40 milhões – projeta Zaffa, que já contrapartidas de condomínios instalados no município para elaboração do projeto.

O sonho do prefeito, que, pelo “dinheiro não faltará!”, garantido nos discursos de Lula e Leite no RS, pode se transformar ao menos expectativa, é conseguir captar, inclusive a fundo perdido, financiamento para esses 300 milhões que correspondem a tudo que foi investido em Gravataí nos últimos quatro anos, em obras desde asfalto até postos de saúde e escolas infantis.

Outra esperança é o direcionamento de emendas parlamentares, que podem vir da bancada gaúcha de deputados e senadores, mas também como efeito do horror visto dos ares, e do cheiro da água suja e do suor dos resgatistas, testemunhado pelos presidentes da Câmara Federal, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, que acompanharam a comitiva presidencial de uma dezena de ministros pela zona da catástrofe.

– São todas obras de longo prazo. Mas é preciso começar – resume Zaffa, sustentando que ações preventivas feitas pela Prefeitura, como o desassoreamento do arroio Demétrio, ajudaram a evitar uma tragédia maior.

Com a falta de insumos em todos RS, hoje a Prefeitura conseguiu comprar mil pacotes de asfalto seco, para uma operação tapa-buraco.

– É uma tentativa de oferecer um pouco de normalidade aos gravataienses – explica Zaffa, que conseguiu autorização da Fepam para manter o lixo urbano recolhido na estação de transbordo da Santa Tecla, já que com o bloqueio na BR-290 não é possível enviar os resíduos ao aterro sanitário de Minas do Leão e, no dia seguinte a fechar contrato emergencial para levar a São Leopoldo, o município do Vale dos Sinos foi inundado.

Também nesta segunda, o governo federal reconheceu Gravataí como em estado de calamidade pública, o que flexibiliza contratações sem a burocracia de licitações e também deve permitir nas próximas semanas a liberação do FGTS para atingidos pela catástrofe.

Ao fim, experimentamos um inferno presente, mas também a imposição das necessidades futuras de investimentos e educação para tragédias, em um Rio Grande do Sul que resta um laboratório da crise climática mundial, esmagado pelo choque do frio do Polo Sul e o calor da Amazônia.

As cobranças políticas serão mais do que inevitáveis. Serão necessárias. Se um povo apoia uma pauta, os políticos atendem, por convicção ou obrigação. Mas a hora não é essa. Ainda.

Sigamos mostrando nosso melhor, para afogar o pior de alguns. Resilientes, porque é preciso, neste que será lembrado como o pior mês de nossa vida coletiva.  

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