Uma cronologia de fatos levantou nada silenciosas suspeitas nos bastidores da política de que Wagner Padilha (PSB) tivesse assumido o papel de vilão da classe artística e firmado um acordo com o governo Marco Alba (PMDB) para apressar a votação da reforma administrativa.
Os mais exagerados já comentavam sobre a certeza de o vereador tornar-se em breve o 14º elemento da base governista.
Vamos aos acontecimentos, entre às 22h de terça e a tarde de quinta-feira, que alimentaram rumores, ligações telefônicas e trocas de WhatsApps.
Para quem não acompanha as luzes e sombras da Câmara, é preciso situar Wagner no contexto da polêmica. Chamado de ‘vereator’, devido à sua profissão e história premiada no tablado e frente às câmeras, Wagner era o protagonista dos artistas na luta contra a extinção da Fundarc, ponto mais controverso da reforma administrativa. Há duas semanas, promoveu inclusive uma audiência pública, que foi a apoteose das manifestações do movimento #FicaFundarc.
Mas, na terça-feira, parecer apresentado por ele na Comissão de Finanças e Orçamento permitiu ao governo, em uma manobra regimental, colocar a reforma em votação de surpresa e com a casa vazia.
O estranhamento correu a oposição quando o presidente Nadir Rocha (PMDB) suspendeu a sessão para a apresentação do parecer, que tinha prazo até o dia seguinte, o que poderia adiar a análise pelo menos até a quinta-feira, para que houvesse a possibilidade de preparar uma manifestação dos contrários ao projeto.
E o Big Brother da política ligou os holofotes sobre Wagner quando, minutos após a votação que passou da meia-noite, ele sentou junto a vereadores do governo na mesma mesa que o prefeito Marco Alba e a primeira-dama Patrícia Bazotti Alba, no Bar do Argeu.
Nas duas horas anteriores, Marco tinha acompanhado pessoalmente a votação na Câmara.
Para aumentar a teoria da conspiração, na sessão seguinte, nesta quinta, Wagner retirou da pauta moção de repúdio à tentativa de extinção da Fundarc.
Agora há pouco, o Seguinte: ligou para Wagner. Ele almoçava com o deputado federal Assis Melo (PCdoB) e um dos dirigentes do politburo comunista gaúcho, Neio Lucio Pereira, no Imigrante, restaurante ao lado da Igreja Matriz de Gravataí. O vereador ouviu a narrativa dos fatos e a pergunta da reportagem:
– Estás se aproximando do governo?
Wagner riu largamente e, pedindo licença para não interromper a conversa com os políticos, passou o celular para o chefe de gabinete.
Tiago Silveira explicou que Wagner apresentou parecer contrário à reforma, alegando a inexistência de planilhas de impacto financeiro que comprovassem a economia de R$ 2,4 milhões apresentada pelo governo na justificativa de redução, extinção e fusão de 24 para 19 secretarias, fundações e autarquias.
Talvez pelo pouco tempo de casa, esperava que a votação fosse adiada. Mas o parecer acabou derrotado por 2 a 1, com os votos de vereadores da base do governo, permitindo a entrada do projeto em votação.
O chefe de gabinete também informou que a retirada da moção se deu para adequar o texto, da ameaça à realidade da extinção.
– A moção entra novamente na sessão de terça, agora como repúdio à extinção consumada.
Já sobre o happy hour com Marco – um dos alvos de estimação no YouTube do personagem Floriano Flor de Tuna, o ‘Tô de Olho no Buraco, criado pelo vereador e talvez responsável por sua eleição – Tiago diz não ter passado de uma coincidência.
– Foi surpresa para nós o prefeito estar lá no Argeu. Mas foi um encontro normal, de alto nível. O Wagner é um cara da paz, não da guerra.
Antes de desligar, o vereador pegou o celular rapidamente para garantir que continua na oposição.
– Sigo crítico do governo, mas sou oposição a idéias, não a pessoas. De ódio já estamos cheios nas redes sociais e na vida.
Para além da conversa, que avisa que continuará travando com políticos de todas as matizes ideológicas, em seus votos Wagner tem acompanhado a oposição.
Ele votou contra a reforma administrativa e a extinção da Fundarc.
Isso é um fato.
Ao fim, a fofoca era boa, bem verossímel, tinha bigodinho de gato, orelinha de gato, miado de gato, mas pelas explicações do vereador não passava de um porco espinho.