opinião

A polêmica da Cruz Missioneira; você já odiou a cultura hoje?

Cruz Missioneira de Gravataí fica no trevo da RS-118 com a Centenário

Como dita essa moda brega da nova ordem, 'lacrou' em matéria de polêmica a instalação da Cruz Missioneira, a Cruz de Lorena, instalada pela Prefeitura de Gravataí no trevo da RS-118 com a avenida Centenário para lembrar a saga dos índios guaranis nos primórdios do povoamento da Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos. O ato de instalação o Silvestre Silva Santos contou, em texto e vídeo, no artigo Gravataí entra na Rota das Missões de olho no potencial turístico, publicado na sexta-feira pelo Seguinte:.

A História, com agá maiúsculo, o Eduardo Torres contou na série especial O 8 de Abril na História de Gravataí, publicada durante quatro dias e em edição temática impressa que já circula com 10 mil exemplares, e cujos capítulos você lê em ESPECIAL | A última missão – PARTE 1ESPECIAL | Surge uma aldeia – PARTE 2; ESPECIAL | Personagens da Aldeia – PARTE 3ESPECIAL | A onda privatista – PARTE 4.

Mas quero abordar as repercussões no Grande Tribunal das Redes Sociais, que revelam muito sobre nossos tempos de horror à cultura, só que desta vez não metralhados apenas pelas milícias digitais de sempre, mas também destros, canhotos e muristas dos quais não esperava tal reação.

Primeiro, reproduzo a espirituosa resposta de apoiadores do governo à crucificação do prefeito Marco Alba nas redes sociais após a divulgação da instalação da cruz. CCs e simpatizantes fizeram viralizar o texto abaixo. Siga na íntegra e depois comento.

 

“(…)

Prefeitura de Gravataí não gasta com coisas úteis? Tenho visto muitas coisas nas redes, principalmente críticas e inverdades. Quero convidar a todos(as) que leiam, sem partidarismo na cabeça e sim com olhar de cidadão!

Eta prefeito gastador! Gasta em Educação (novas escolas, uniformes para todos, material escolares para todos, gradil em todas as escolas), duplicação das pontes do Parque dos Anjos, construção de 2.025 casas populares no Breno Garcia, construção de uma UPA e uma segunda em construção, pagamento em dia dos funcionários, com o décimo terceiro sendo pago antecipado, com mais guardas municipais na rua do que PMs, 300 milhões de dívidas herdadas pagas em seis anos, menor endividamento da história do Município (era 56% sobre a receita corrente líquida em 2012, hoje é de 4,5%, dirige o próprio carro, usa o próprio celular, nunca teve motorista e acaba de botar em prática um plano de infraestrutura com asfalto para mais de 90 vias e por aí vai.

Que sujeito gastador, esse!!!

Aliás, a Educação é uma das áreas que mais recebe investimento no Município, cerca de 30% da receita corrente líquida. Em 2017, foram R$ 205 milhões, e 2018 fechou em R$ 230 milhões.

O plano de infraestrutura prevê o asfaltamento e recapeamento de mais de 90 vias para 2018/2020, em um investimento de R$ 27,5 milhões, com recursos próprios e também com linhas de financiamento junto a instituições financeiras. A maior parte, R$ 14 milhões, será destinada para asfaltamento.

(…)”

 

Analiso.

A história do ‘gastador’ surgiu porque boa parte das críticas foi ao custo da cruz: R$ 25 mil. Os zeros após a vírgula pareciam se multiplicar com as reivindicações sobre o que poderia ser feito com esse dinheiro. Salvar a saúde deduzia-se até.

Recomendo mais uma vez a leitura da série publicada pelo Seguinte:, para que se entenda a importância do resgate histórico. Se deu preguiça, pelo menos assiste ao vídeo da reportagem, que reproduzo ao fim deste artigo.

O que sinto é que parece cada vez mais feio falar em cultura e história neste 2019 terraplanificado, onde se cogita educar criança em casa, revisar livros que contam como foi o Golpe de 64, suas torturas, mortes e consequências sociais e econômicas, além de se ouvir do novo ministro da educação uma relativização do nazismo – o avô de 'Abraão' se dava bem com o carcereiro – e do presidente da República a reprodução de uma olavada constrangedora de que o nazismo é ‘de esquerda’.

Nem vou entrar nos benefícios econômicos que Gravataí pode ter ao entrar para a Rota das Missões e buscar financiamentos junto ao governo federal para investir não só nesta história, mas na Rota Turística, a ligação da Freeway, com a RS-030 e a 020 e em patrimônios culturais tombados como o Morro Itacolomi.

O dinheiro não me parece o mais importante neste debate.

As críticas nas redes sociais crucificam o resgate da História, diminuem a importância da Cultura na vida de um povo.

Nas metralhas digitais, estavam lá inclusive aldeanos da esquerda. Aí fica difícil criticar o governo Marco Alba por, como recebi em WhatsApp de petista, “exterminar a cultura”, numa comparação dos R$ 5 milhões investidos diretamente pela Fundarc no governo Rita Sanco (PT) entre 2010 e 2011, com os R$ 865 mil repassados pelo governo Marco Alba (MDB) em 2018, mesmo com um orçamento duas vezes maior.

Que sirva de alerta também aos simpatizantes de Marco Alba que se filiam a correntes que odeiam a cultura, achando que cultura é um monopólio da esquerda ou um instrumento de ‘doutrinação marxista’.

Cultura é mais Groucho do que Karl, mas também é Glau.  

Quantos votos foram feitos criticando o PT por investir em cultura e ‘fazer show no Parcão?’.

“Quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro”, é uma citação adequada – e usada inclusive por Jair Bolsonaro em seu recuo sobre o ‘perdão’ ao Holocausto.

Só fica estranho para quem condena a Cruz de Gravataí colocar hashtag ou compartilhar lamentos sobre o incêndio em Notre-Dame.

Ao fim, quando ouço tantas crazy news, como sobre a Lei Rouanet, por exemplo, queria ser o Quasimodo, de Victor Hugo, ensurdecido pelos sinos da catedral parisiense.

 

Vídeo produzido pelo Seguinte: na série especial sobre as origens de Gravataí

 

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