ah, as mulheres!

A rainha do lar  

Lembro de uma canção do Herivelto Martins e do David Nasser que a Ângela Maria cantava quando éramos crianças: “Ela é a dona de tudo/Ela é a rainha do lar/Ela vale mais para mim/Que o céu, que a terra, que o mar…”

E a letra seguia com uma série de clichês sobre o papel da mulher na família: ”Mamãe, mamãe, mamãe/Eu lembro de ti de chinelo na mão/
O avental todo sujo de ovo…”

E eu, que tinha sonhos de estudar, de trabalhar e de viajar pelo mundo,  pensava que o último que queria ser na vida era aquela mãe abnegada, que não tinha um só minuto para si mesma.

 

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Muito tempo depois, na década de 90, visitei, em Quito, onde vivia, Alicia Yanez, uma grande romancista equatoriana e, quando elogiei seu apartamento — um duplex imenso, mas, ao mesmo tempo, muito acolhedor, ela comentou: “Sim, este apartamento é uma maravilha, e o melhor de tudo é que vivo aqui sozinha.”

E, então, me contou como havia sido difícil conciliar o cuidado da casa, dos quatro filhos e do marido com o ofício de escritora, com o qual ele jamais concordara, e me mostrou, em um dos quartos, um closet em que costumava se meter, com uma lanterna, no meio da noite, para poder escrever sem interrupções e reclamações. 

 

 

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Quando voltei a Porto Alegre, com meus filhos, em 1997, passamos a frequentar a piscina da Sogipa. Um dia, uma senhora que estava há horas, tomando banho de sol, bem próximo de nós, exclamou: “Meio dia, a panela não está no fogo, e a barriga não vai ficar vazia”.

Daí, abriu uma sacola, da qual tirou um sanduíche, e começou a saboreá-lo, mas, quando viu que eu a observava, sorrindo, me explicou o porquê de sua alegria: “Eu vivo há 30 anos aqui na frente, mas só agora, depois de viúva e de os filhos terem ido viver por sua conta, começo a desfrutar deste clube.

Meu marido vinha aqui com nossos filhos, no sábado e no domingo de manhã, e eu ficava preparando o almoço. De tarde, não saíamos, porque ele descansava do trabalho da semana, e eu sempre tinha um monte de coisas a fazer.  

Então, agora, com 62 anos, tenho, enfim, tempo para fazer tudo o que me dá na telha…   

 

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No ano passado, em uma caminhada do Programa Vida Saudável, aqui em Cachoeirinha, uma mulher não parava de falar da beleza que eram os campos da Estação Experimental do Irga e do Colégio Agricola Daniel Oliveira Paiva – Cadop, pelos quais passamos no caminho.    

Perguntei se não havia estado ali antes e fiquei pasma quando respondeu que, embora vivesse, há anos, no bairro Carlos Wilkens, ali pertinho, de fato era a primeira vez que ia àquela região da cidade. 

Quis saber como isso havia sido possível, e ela me explicou que sua vida tinha sido atender às necessidades de sua família e que, naquele momento, estava começando a se dedicar a si mesma. Detalhe: Ela já estava com 68 anos!   

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