Na história da humanidade há momentos difíceis de interpretar. Um obstáculo talvez seja o fato de não termos vivido aquela atmosfera, aquele tempo. Neste caso o distanciamento não ajuda e a mentalidade de um povo parece envolta em brumas espessas.
Uma dessas situações é o comportamento do povo alemão na segunda guerra. Por outras palavras, como uma ideologia de superioridade racial pode ter levado uma nação à guerra? E como pode ter sido cometida essa destruição, esse sofrimento e às milhares de vítimas.
A publicação do excelente livro de memórias À Sombra do meu Irmão, escrito por foi Uwe Timm, retira das sombras a história do irmão morto na guerra e ao mesmo tempo a história da Alemanha. O autor tinha dois anos quando o irmão partiu para guerra, por isso lembra apenas de sua sombra.
O livro tem como fio condutor o diário de guerra do irmão. O autor ao longo do livro vai transcrever trechos do diário e comentar, sem, contudo, fazer julgamentos. A catástrofe alemã emerge das páginas de forma sóbria, ficando clara a irracionalidade da ideologia que pregava a ideia de uma raça superior e pura.
O autor mostra que muitos líderes do Estado Alemão eram homens instruídos na literatura, na filosofia e na música. Mas isso não os impediu de praticarem atrocidades. Prevalecia o “mito do sangue e do ser alemão, não importava se estúpido ou inteligente, você pertencia a um povo superior”.
Naquele contexto inexplicável, a cultura e a educação também de nada serviu as vítimas. Os dois lados são descritos por Timm:
– Nada, e isso é o fato mais desesperador, evitou que os assassinos cometessem os crimes, nem educação, cultura, nem a chamada espiritualidade. E isso, também valia para as vítimas nos campos de concentração: cultura e educação não lhes davam força, consolo, não podiam mobilizar qualquer resistência: nada.