Reabilitar é o verbo que Gilberto Santiago mais tem conjugado nas últimas semanas. Há mais de 40 dias, ele vive uma luta que está próxima de ser vencida. Com 85% da capacidade pulmonar comprometida por conta do coronavírus, ficou 27 dias internado no Hospital Dom João Becker/Santa Casa, em Gravataí. Após um período que parecia infindável, a boa notícia: estava curado clinicamente. A partir daí, procurou acelerar o seu retorno à vida normal, com sessões de fisioterapia focadas para pacientes pós-covid. E quer que essa realidade chegue o mais rápido possível.
A trajetória até aqui não foi fácil. Pouco antes de saber que estava com COVID, viu seu irmão falecer da mesma causa.
– Perdi meu irmão e quando soube que estava também com o coronavírus sofri a angústia de não entender o que poderia acontecer. O pior foi ter que necessitar das pessoas, dos médicos e enfermeiros, e não poder fazer nada – comenta.
O caso se encaminhava para a intubação. O médico chegou a solicitar o leito de UTI, mas a força de Gilberto, a ajuda da equipe da assistência e a energia positiva dos familiares evitaram aquilo que poderia ser o pior. Em meio ao período de hospitalização, o paciente iniciou as sessões de fisioterapia. Era preciso recuperar condições básicas para qualquer ser humano, como se movimentar com independência, por exemplo.
Após a alta, Gilberto continuou o tratamento no hospital. Ele realiza treino aeróbico na esteira ergométrica (caminhada) e exercícios para o fortalecimento da musculatura em geral.
– O Gilberto tem apresentado uma ótima evolução. No início, ainda necessitava de oxigênio durante os exercícios, pois a saturação baixava. Hoje, depois de três semanas em reabilitação, já consegue realizar os exercícios sem oxigênio e sem sintomas de falta de ar e cansaço – comenta a fisioterapeuta do Serviço Integrado de Reabilitação do Dom João Becker (SIR), Jéssica Muniz.
De acordo com ela, o paciente já atingiu os índices de normalidade nos testes, porém optou por fazer o programa de manutenção por mais cinco semanas a fim de acelerar a recuperação total.
Nem todos desenvolvem sequelas do COVID. No entanto é preciso investigar, pois as consequências geralmente são complexas e exigem o acompanhamento de especialistas.
– Nossa atuação inicia na fase de internação hospitalar e, caso necessário, seguimos após a alta com o tratamento de maneira ambulatorial – comenta o coordenador do SIR/HDJB, Christian Coronel.
Segundo ele, os pacientes costumam desenvolver sequelas de distintas origens, como cardiorrespiratórias, musculares e psicológicas e em diferentes magnitudes, o que requer olhar atento do profissional de reabilitação.
Gilberto já consegue projetar o retorno à normalidade.
– Esta reabilitação pós-covid está sendo de grande importância. Me encontrava tão debilitado que quase não conseguia andar e hoje me sinto outra pessoa, ainda com limitações respiratórias, mas muito melhor – afirma.
Se tudo ocorrer como o previsto, logo ele estará conjugando “reabilitar” em outro tempo verbal. No pretérito perfeito.
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