A última tuitada que vi era essa:
Wagner Moura, aquele petista que foi morar em Hollywood, vai começar a rodar filme sobre Carlos Marighella. Ao "Globo", ele disse que "quer que as pessoas enxerguem no Marighella um modelo de resistência". Um terrorista como modelo de resistência para o Brasil? Só petista mesmo.
Por si só, Roberto Jefferson é personagem da política nacional nas últimas décadas. Seja por cantor de ópera de box do banheiro que ganhou palcos e gravou dvds, ou então pela superação de um câncer atrás das grades, ou mesmo por ter-se inscrito na história como primeiro delator do mensalão no célebre depoimento onde – à época – poupou Lula mas trocou com Zé Dirceu “os mais primitivos sentimentos”.
Hoje o carioca é o chefão do PTB, um partido nacional e de fundo partidário milionário numa ressaca de reforma política onde do caixa das siglas (leia-se bolso do eleitor) sairão os recursos para as campanhas a partir do ano que vem.
Corta para Gravataí.
Jefferson é admirado, e admirador, de personagem da aldeia. Que não tuita, mas também envia aos amigos pelo WhatsApp ácidas mensagens, principalmente sobre políticos de esquerda. Nos textos, nunca poupa Lula e o PT, partido de algozes seus por uma carreira política onde, desde os anos 70, foi secretário municipal e estadual em dois governos, vereador, vice-prefeito e prefeito e deputado federal.
É Edir Oliveira. Prefeito de Gravataí entre 1993 e 1996 que estrela logo mais no encontro regional que o PTB organiza a partir das 19h na Câmara de Vereadores, com a presença de peso-pesados do partido no Rio Grande do Sul como o prefeito de Canoas Luiz Carlos Busato e o já lançado candidato a governador em 2018 Ranolfo Vieira Jr., delegado e ex-chefe da Polícia gaúcha.
Tem até evento no Facebook onde Edir aparece na foto convidando para a reunião em sua cidade.
Afilhado do lendário ex-prefeito e deputado Dorival de Oliveira, Edir é pré-candidato a deputado estadual ano que vem numa espécie de ‘lava honra’. Condenado pela justiça federal em 2011, no escândalo que ganhou Fantástico sob o nome ‘caso dos sanguessugas’ e o sobrenome ‘máfia das ambulâncias’, neste 2017 ele foi absolvido “por insuficiência de provas” das acusações de envolvimento no esquema de propinas dos irmãos Vedoim em troca da indicação de emendas para municípios comprarem veículos para saúde.
Nos últimos anos, o político que desde o início da carreira há mais de três décadas era visto como uma das apostas da região para uma carreira longeva, não esconde que, como não conseguiu ainda se aposentar, viveu de bicos, da ajuda da esposa, Eunice, personalidade local pelos anos como diretora do Gensa, uma das mais tradicionais escolas de Gravataí.
– Os eleitores de Gravataí me abandonaram. Fiquei na primeira suplência e nunca mais consegui um emprego ou um cargo público, porque estava marcado – lamentou, em entrevista à época da absolvição.
O foco da família é tamanho no resgate de Edir para a vida pública, e social, que o filho, Luciano Oliveira, 27º candidato a vereador mais votado (1107), mas que ficou de fora dos 21 eleitos, há três semanas entregou ao prefeito Marco Alba (PMDB) o cargo de secretário-substituto da Família e Assistência Social para se dedicar ao partido comandado na cidade pelo vereador Jô da Farmácia e, obviamente, à preparação da campanha do pai.
Edir não atendeu o celular hoje, mas conversas anteriores permitem dizer que vai para a campanha com sangue nos olhos. Aos 68 anos em 2018, já comemora como uma vitória só o fato de estar com a foto nas urnas e a ficha limpa, após quase uma década sob a suspeita de corrupção.
Para usar uma expressão dele, Edir quer voltar a ser “toalha felpuda”.