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A trágica vida de Maggie McNamara

Em 1954 a atriz Audrey Hepburn ganhou seu Oscar de Melhor Atriz por A Princesa e o Plebeu (Roman Holliday, 1953), seu filme de estréia em Hollywood. Audrey disputou o prêmio com outras quatro atrizes, que nunca seriam agraciadas com tal prêmio. Eram elas: Leslie Caron por Lili (Idem, 1953); Deborah Kerr por A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953); Ava Gardner por Mogambo (Idem, 1953) e a também estreante Maggie McNamara, por Ingênua Até Certo Ponto (The Moon Is Blue, 1953).

Marguerite McNamara tinha apenas 25 anos quando protagonizou Ingênua Até Certo Ponto, de Otto Preminger. Era seu primeiro filme, embora já tivesse feito algumas poucas aparições em séries de televisão. Nascida em Nova York, Maggie tornou-se modelo ainda adolescente, quando um olheiro a descobriu na saída da escola. Logo ela tornou-se uma das modelos mais requisitadas de Nova York do começo da década de 50.

 

: Maggie na capa de uma revista para adolescentes

 

Em 1950 ela foi capa da famosa revista Life (pela segunda vez) e acabou chamando a atenção do produtor David O. Selznick, da MGM, que lhe ofereceu um contrato no cinema. Achando que não tinha experiência suficiente, Maggie recusou o convite, dizendo que primeiro tomaria aulas de interpretação, canto e dança.

 

 

Em 1951 ela estrou como atriz profissional nos palcos de Chicago,  interpretando Patty O’Neil na peça Ingênua Até Certo Ponto (The Moon Is Blue), de F. Hugh Herbert. O espetáculo havia feito sucesso na Broadway, estrelado por Barbara Bel Guedes. Dois anos depois, a agora atriz aceitou o convite de Hollywood, repetindo o mesmo papel que fizera no teatro.

 

 

O filme enfrentou problemas, pois foi considerado impróprio para menores e foi banido nos estados do Kansas, Ohio e Maryland. A polêmica se dava devido aos diálogos francos, e com insinuações sexais, e principalmente por conter as palavras : “virgem“, “grávida” e “seduzida“. Mas a repercussão serviu de publicidade e fez da obra, e consequentemente de Maggie, um sucesso. Ela foi indicada ao Oscar e também ao Bafta como “a mais promissora atriz do ano” (perdeu para Eva Marie Saint).

Com Preminger ela ainda fez uma aparição no filme Die Jungfrau auf Dem Dach (1953), versão falada em alemã de Ingênua Até Certo Ponto. O diretor acreditava que os diálogos da peça se perderiam completamente apenas legendado para o alemão, e preferiu rodar uma versão própria para o país, estrelada por Johanna Matz.

O sucesso do filme valeu a Maggie um contrato com a Twentieth Century Fox, que a escalou como uma das protagonistas de A Fonte dos Desejos (Three Coins in the Fountain, 1954), ao lado de Jean Peters e Dorothy McGuire.

 

: Louis Jordan e Maggie em A Fonte dos Desejos

 

Em seguida ela estreou a superprodução em Cinemascope O Gênio da Ribalta (Prince of Players, 1955), fazendo par romântico com Richard Burton.

 

: Com Richard Burton em O Gênio da Ribalta

 

Mas a atriz começou a ter problemas com o estúdio. Ela se recusou a mudar-se para Los Angeles, e também não aceitou a imposição de fazer fotos publicitárias de biquíni, já que nenhum dos papéis que representou exigiam tal cena. Além disto, ela sofria com a pressão do estúdio para engordar um pouco e ganhar mais corpo, já que pesava menos de 45 quilos.  Em 1955, após divorciar-se do diretor David Swift (com quem casara em 1951), a atriz sofreu uma crise nervosa, e foi demitida da Fox. Desiludida, recusou novos convites para atuar.

Em 1963 o seu amigo Otto Preminger soube que ela estava passando dificuldades financeiras, e lhe deu um pequeno papel no filme O Cardeal (The Cardinal, 1963).  Maggie McNamara esboçou um retorno à vida de atriz, atuando em episódios de séries de TV como Além da Imaginação (The Twilight Zone) e The Alfred Hitchcock Hour. Também fez algumas peças na Broadway, mas logo afastou-se definitivamente da vida artística, passando a trabalhar como datilógrafa em um escritório.

 

: Maggie em Ring-A-Ding-Girl, episódio de Além da Imaginação (1963)

 

Abatida por uma forte depressão, a atriz cometeu suicídio em 28 de fevereiro de 1978. Ela tomou frasco de remédios para dormir, deixando um bilhete de despedida sobre o piano de sua sala. Tinha apenas 48 anos. Sua morte passou despercebida, sendo noticiada apenas em um jornal, 5 semanas após seu falecimento.

 

Confira o trailer de Ingênua até Certo Ponto

 

Diego Nunes é gaúcho, formado em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo, é pesquisador da memória cultural e artística, e sua paixão é o cinema. Além disso, atua como diretor cultural da Pró-TV, Museu da TV Brasileira, e no departamento de arquivo da Rede Record de Televisão.

Acompanhe-o pelo Memória Cinematográfica.

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