crise do coronavírus

A visão de quem passou sete dias num respirador

No momento em que a população brasileira precisa encarar o maremoto causado pela pandemia do coronavírus, não há comandante no navio. Há quase um mês sem um médico que dirija a pasta da Saúde, desde a saída de Nelson Teich, observa-se a curva exponencial ascendente em relação à propagação do vírus no Brasil em meio à reabertura do comércio e a maior circulação de pessoas nas ruas.

O mar bravio ainda ameaça com uma densa névoa que paira sobre as ondas desde que o governo decidiu alterar horários e parâmetros de contagens sobre as vítimas, adotando uma tática de desinformação. O que aguarda o brasileiro logo à frente? Talvez um grande iceberg. Os problemas vão se acumulando e ameaçam a saúde dos médicos e enfermeiros dentro dos hospitais, peças essenciais de combate.

O Brasil assusta o mundo inteiro, desde Trump, a Organização Mundial da Saúde e até o Papa Francisco, no Vaticano. Atualmente, conforme o instituto John Hopkins, o Brasil ultrapassa os 700 mil casos confirmados e tem mais de 37 mil mortes, ficando atrás apenas dos EUA nos índices.

O próprio diretor do Sindisaúde RS, responsável por pelo menos 70 mil trabalhadores distribuídos por todo o Rio Grande do Sul, superou a COVID-19 e conta um pouco do drama de quem está dentro das instituições. Arlindo Ritter passou sete dias respirando por aparelhos, em isolamento, devido ao quadro grave de dupla pneumonia causado pelo coronavírus.

Depois da recuperação ele avaliou os motivos do alastramento da doença nos hospitais.

– O vírus está espalhado por todos os setores, e não apenas nas UTI's, o que inclui os blocos cirúrgicos. O Sindicato está com uma campanha junto às instituições pleiteando testes para todos os profissionais. Porque o pior dos problemas se refere aos assintomáticos que circulam sem serem detectados. Eles precisam ser isolados antes de ter contato com pacientes de risco como idosos ou aqueles com comorbidades – explicou.

Além da falta de insumos para a realização de testes em massa para os servidores da Saúde, Ritter ressalta as barreiras burocráticas impostas pela Justiça.

– Em razão de não termos informações sobre o número de profissionais contaminados, recorremos ao Poder Judiciário e ao Ministério Público do Trabalho. Mas não existe transparência. Por isso, entramos com uma ação junto ao MP e contra hospitais. Testes para todos, é o que exigimos – concluiu Ritter.

Até agora já foram sete diretores do sindicato contaminados, três deles passando por UTI.

O surto identificado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre escancarou ainda mais o problema, já que a instituição é considerada de referência no tratamento da doença. Durante os meses de abril e maio foram reveladas diversas denúncias por parte dos funcionários referindo-se à falta de máscaras descartáveis, protetores faciais, aventais impermeáveis, entre outros itens de segurança, conforme o sindicato.

Com a chegada do inverno e a queda da temperatura o quadro deve ficar mais complexo. Essa é a época que mesmo sem pandemia as emergências ficam lotadas de pessoas com síndromes respiratórias diversas. O doutor em Epidemiologia Wanderson de Oliveira, ex-secretário do Ministério da Saúde, previu para o final do mês de junho e início de julho os pontos mais críticos da doença para a região Sul.  

 

Terceirização da Saúde e problemas agregados

 

Outro problema a ser superado em relação ao combate à pandemia é a concretização do papel dos governantes de municípios que têm contratado empresas  terceirizadas. A prática é criticada pelo Sindisaúde. 

– A saúde pública em um município enorme como Viamão nas mãos de terceirizadas e com os políticos que temos é uma farra para a corrupção – declarou o diretor do Sindsaúde, Júlio Appel.

Enfático, Appel destaca também que existem muitos problemas entre as empresas terceirizadas e seus funcionários.

– Em nenhum município nos quais atuamos a terceirização deu certo. Basta observarmos Canoas, com a Gamp, e os milhões em  roubo. A situação dos trabalhadores da Mahatma Ghandi não foi diferente, ficaram meses recebendo atrasado e nada ocorreu, ainda que a terceirizada tenha a obrigatoriedade de realizar os pagamentos – explicou o dirigente.

O sindicato afirma que as empresas não oferecem EPI´s e que apesar dos contratos públicos com altas cifras, os trabalhadores não são remunerados adequadamente. "

– A relação entre terceirizadas e políticos é estreita, então a corrupção faz moradia. Por isso existe o concurso público – concluiu Appel.

 

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