A campanha eleitoral só começa oficialmente dia 15 de agosto, mas está sempre aberta a temporada do achaque.
Digamos que agora, em julho, já entramos na alta temporada das mordidas.
Candidatos a prefeito, e principalmente vereadores que disputam a reeleição (que com a ofensiva do Ministério Público não podem mais dar nem Xerox) e aqueles que tentam chegar à Câmara estão apavorados com o comportamento dos eleitores.
O oferecimento do voto, baratinho ou caro, não está mais restrito aos pedintes de sempre.
Sob a desculpa (a ‘menos pior’ das desculpas) do desemprego, as ofertas são as mais variadas:
– O candidato que pagar minhas três contas de luz atrasadas leva meu voto!
– Se me conseguir um aterro, estou contigo!
– Me ajuda a meter um pocinho artesiano?
– Estou sem dinheiro para o gás. Me apóia que eu te apoio.
– Consegue um estagiozinho para minha filha?
Sem falar nos ‘ternos’ para times de futebol, que supostamente garantem pelo menos 11 votos.
Ah, e nessas horas todo mundo tem família grande.
Somando, Gravataí arrisca ultrapassar o eleitorado de Porto Alegre.
O pior é que as dentadas não vêm apenas dos mais pobrinhos. Tem empresário pedindo calçada na frente da firma, ou o auto-intitulado pastor bricando 20 bíblias por um ‘confirma’.
Nesta conta não incluímos pedidos de asfalto, ensaibramento, luminárias nos postes, colocação de canos e outros servicinhos, por, ao fim, serem obras para a coletividade.
Pedir para passar a mãe na frente da fila do SUS, mesmo que a mãe de outro morra, entra na contabilidade.
Pelo menos não se tem notícia, ainda, de ninguém corrido com facão ou vassoura. Os pedidos são feitos humildemente, como quem aplica o golpe do bilhete, quase sempre introduzidos por um “gosto de ti, acompanho teu trabalho, mas…”.
O que não há dúvida é que os mercadores de votos, tanto os que vendem, como os que compram, estão todos unidos na luta contra a corrupção, o que esbravejam, cheios de indignação, em seus discursos na cozinha, na cama, na cervejada ou no Facebook.
A única saída para isso talvez fosse mudar o sistema eleitoral. Em vez de a pessoa votar a favor de alguém assumir um mandato, ela teria que votar contra.