Gravataí, Cachoeirinha e Glorinha retornaram nesta sexta à bandeira vermelha na 18ª rodada do Distanciamento Controlado do Governo do RS. Não havia indicadores que indicassem o contrário, para além do que economistas e coach chamam 'wishful thinking', no futebol é 'pensamento mágico' e nos governos é 'dar satisfação aos insatisfeitos'.
A reclassificação de ‘médio’ para ‘alto’ risco acontece 24h depois do governo Marco Alba publicar novo decreto de bandeira laranja e 48h após anunciar que tentaria desbotá-la ainda mais, abrindo bares, pubs e futebol, além de ampliar o número de trabalhadores na indústria, como tratei em Gravataí quer abrir bares, pubs e futebol; aula só em outubro.
Conforme nota do Estado na classificação preliminar, "as regiões de Porto Alegre, Guaíba, Canoas e Novo Hamburgo aparecem novamente com bandeira vermelha, pois a macrorregião Metropolitana teve redução do número de leitos livres de UTI nesta última semana".
O cenário preocupante de Gravataí antecipei ontem, em UTIs e emergências lotadas em Gravataí; O bar, o futebol e o Inimigo do Povo, ao criticar a ideia de flexibilizar ainda mais as regras para atividades não essenciais. Nesta sexta está ainda pior. Já são 3.349 casos, 72 a mais em 24h, e 109 vidas perdidas, duas a mais que as registradas na quinta. Os 10 leitos de UTI com respiradores aparecem como ocupados no Portal Covid alimentado pela Prefeitura e Santa Casa.
Por enquanto, nada muda em Gravataí, como explica o secretário da Saúde Jean Torman. Segue valendo o decreto da bandeira laranja, que você acessa em Baixe o decreto com novas regras para o comércio de Gravataí.
– Na semana passada o governador Eduardo Leite definiu bandeira vermelha no levantamento preliminar da sexta e, na segunda, reclassificou para laranja – lembra o secretário, admitindo porém que a piora nos indicadores pode fazer com que a Prefeitura recue na ideia de, em uma nova proposta de cogestão para a Região Porto Alegre, abrir pubs, bares e futebol, além de aumentar a capacidade de ocupação da indústria.
– Neste momento não temos indicadores positivos para contestar. Hoje nossa ocupação está acima de 90%. Nunca dissemos que a pandemia tinha acabado. É compreensível a ansiedade das pessoas e a expectativa por uma maior normalidade. Mas é preciso total atenção e cuidado – alerta, observando que a estabilidade acontece em indicadores ainda altos, o que chamo de ‘platô da altura do Morro do Itacolomi'.
Ao fim, na conversa telefônica com Jean na noite desta sexta surgiu referência à coluna do jornalista Paulo Germano, publicada nesta tarde em GaúchaZH, cuja manchete é “Antes de ir para o bar, pense que Porto Alegre tem apenas 36 leitos vagos em UTI”. O secretário concorda. Vale o mesmo para Gravataí.
Não por torcida ou secação, é o que tenho repetido a cada artigo, como em Caiu um Airbus…: “é como se, em meio à uma guerra, estivéssemos nos acostumando aos bombardeios – e, mesmo testemunhando a tragédia do vizinho, resolvêssemos sair para comemorar mais um dia vivo tomando umas cervejas”.
Fato é que há uma falsa sensação de normalidade, um comportamento de salve-se-quem-puder, um cada um por si e um leito para todos. Em Gravataí, neste momento, a frase é literal. Conforme Jean, há pouco abriu um leito.
Como Dr. Stockmann, de Um Inimigo do Povo, de Ibsen, sigo denunciando – em meio ao previsível "abre e logo fecha".
LEIA TAMBÉM
O que funciona ou não em Cachoeirinha; humor controlado
Aulas não!; o anticorpo da greve em Gravataí
A notícia menos pior das 100 vidas perdidas em Gravataí
Gravataí muito, mas muito longe da ’imunidade de rebanho’
Nem fim da pandemia resolve emergência superlotada no Hospital de Gravataí