Talvez a formação como ex-seminarista fã da Teologia da Libertação tenha inspirado a candura do prefeito Miki Breier no vídeo que gravou condenando o processo de impeachment que responde ao lado do vice Maurício Medeiros.
Miki poderia ter contado por quem os sinos dobram, nos 3 minutos em que fala ao povo de Cachoeirinha. Mas foi brando e se arranhou um pouco o decoro que a liturgia do cargo exige, foi ao alertar para “pessoas mal intencionadas”, que com “molecagens” brincam com a honra e “fazem de Cachoeirinha um circo”.
O vídeo revoltou o presidente da Câmara, Fernando Medeiros, que foi à tribuna terça reclamar que a fala do prefeito induz o imaginário popular a ver o legislativo como “uma casa de moleques” e processo como “um circo”.
Mas onde erra Miki?
Esse golpeachment é uma molecagem em uma cidade perdida em meio à fumaça do pinote da Souza Cruz, onde o prefeito da vez é um administrador de folha de pagamento, já que a cada 10 reais que entram, seis vão para o olerite do funcionalismo.
Em 2016, o governo anterior, com praticamente os mesmos vereadores, e todos governistas, fechou com uma festa do cabide de CCs, contratos emergenciais e 70% da receita comprometida com a folha de pagamento.
É uma delinqüência moral parar um governo eleito com 34 mil votos a partir de denúncias frágeis, sem provas robustas de danos aos cofres públicos e, o principal, sem corrupção.
Onde estava essa gente nos últimos dois anos, que não agarrados a tetas públicas?
Miki não falou por quem os sinos dobram, mas resta a suspeita, no momento em que o prefeito alerta para a existência de “um pequeno grupo interesseiro”, para o qual não vai “ceder a pressões descabidas que não beneficiem a qualidade dos serviços prestados”.
Há, ou não, um fedor de chantagem no ar?
A molecagem em Gravataí (e, curioso, em nossa tragicômica política o defensor de hoje do prefeito foi o moleque de ontem, ao apresentar um impeachment consumado sem nenhuma condenação para Rita Sanco e Cristiano Kingeski) não saiu de graça para os golpistas – e aqui não me refiro a bônus, mas ao ônus: dos 21 atuais vereadores, sobraram apenas dois entre os que em 2011 aprovaram a cassação da prefeita.
E, politicamente, ninguém chegou mais longe do que o kinder ovo da Câmara, e nem tem perspectiva de chegar, exceto Nadir Rocha, camerlengo da sé vacante que assumiu como prefeito interino por poucos dias no ano da cassação e nos três meses antes da eleição suplementar de 2017.
A história cobra a conta.
Acerta Miki no vídeo. E Fernando Medeiros não precisa ficar ofendido e achar que o prefeito chamou vereadores de palhaços. Os palhaços, não no sentido lúdico, e sim pejorativo, são os moradores de Cachoeirinha.
Assista ao vídeo
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