Assusta-me o liberou quase geral iniciado neste domingo por prefeitos da região, apavora-me Luiz Zaffalon ter anunciado para daqui a menos de um mês a volta às aulas presenciais em Gravataí.
Como tratei em Voltamos à eleição: explode COVID, abre quase tudo em Gravataí, Cachoeirinha e região; Siga como fica a bandeira laranja, talvez sem nenhum brasileiro vacinado neste perpétuo e trágico 2020, que marca 41 de dezembro.
– Tenho conversado com prefeitos e aqui em Gravataí definimos uma volta às aulas, dia 8 de fevereiro. Já compramos EPIs (equipamentos de proteção individual) para professores – disse Zaffa nesta noite, em sua primeira live no cargo, na qual apresentou decreto que flexibiliza atividades não-essenciais.
Assista a live e, abaixo, sigo.
Sigo.
Após a transmissão e até o fechamento deste artigo, Vitalina Gonçalves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública de Gravataí (SPMG), não respondeu minha mensagem questionando sobre a data para retorno das aulas naquela que é a maior rede municipal depois de Porto Alegre.
Entendo não será um convencimento fácil por parte do governo, tanto de famílias, quanto dos professores. Talvez o anticorpo da greve suba as escadas do Palacinho ocre da José Loureiro da Silva. Não é torcida ou secação: são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos.
Vamos lá.
Se a última pesquisa feita sobre o tema pelo Ibope mostrou que, em outubro, 7 a cada 10 mães e pais não querem mandar filhos à escola antes de uma vacina eficaz, pesquisa divulgada em agosto pelo SPMG/Sindicato apontou que 98,7% das trabalhadoras e trabalhadores em educação de Gravataí consideram inviável a retomada das aulas presenciais durante a pandemia da COVID-19.
Como tratei em Aulas não!; o anticorpo da greve em Gravataí, a pesquisa é arrasadora. Um choque de realidade gritado por quem vive o dia a dia das escolas públicas, que não tem estrutura para cumprir protocolos sanitários, e nem meios de garantir que alunos obedeçam.
Metade dos servidores pesquisados cuida de familiares e a média de moradores nas residências é de 3 pessoas. Em uma conta simples, 3 mil funcionários representariam 9 mil pessoas. Some a isso os 30 mil alunos, que se tiverem a mesma média de moradores em uma residência, formariam uma rede de contato de 90 mil pessoas.
Fica pior: dois em cada 10 pesquisados trabalham em mais de uma escola e metade não mora em Gravataí – e, boa parte, usa o transporte coletivo.
E tem mais: 3 em cada 10 entrevistados apresentam comorbidades e estão no grupo de risco da COVID-19.
A 'ideologia dos números' fala por si, mas reafirmo mais uma vez o alerta que fiz ano passado em artigos como Deu a louca no governador!; Nem covidiotas querem mandar crianças às aulas: é preciso pensar “além do primeiro dia” de volta às aulas. Modelo matemático produzido por grupo de especialistas em planejamento da Universidade de Granada alerta que colocar 20 crianças numa sala de aula implica em 808 contatos cruzados em dois dias. Na Espanha, não no Rincão da Madalena ou na Anair. Fosse em Gravataí, seriam 161 mil pessoas na rede de contatos.
Em Por que não é possível voltar às aulas em Gravataí e Cachoeirinha, artigo onde também apresento estudo feito em São Paulo que mostra o risco da retomada, sugiro, aos que insistem que dá para garantir o cumprimento de regras sanitárias por crianças, que apliquem o ‘teste da purpurina’. É só atirar purpurina em um aluno, que uma sala de aula inteira chegará em casa ‘contaminada’.
Não há melhora nos indicadores em relação a outubro, quando fiz o apelo Onde é difícil tratar piolhos e tapar buracos no telhado, volta às aulas é tragédia; Façam greve, alunos no momento em que o governador Eduardo Leite tentou impor a volta às aulas nas escolas estaduais; e elogiei o não-retorno em Gravataí, em Obrigado, Marco Alba, por cancelar as aulas em Gravataí em 2020.
No primeiro artigo, escrevi: “Governador, os salões do Palácio Piratini são inspirados no Palácio de Versalhes, mas o Rio Grande do Sul não é a França. Não precisa ir a Pelotas. Convide seus burocratas e visite o Tuiuti e o Barbosa. O Haiti é aqui. Duvido o senhor não recue dessa política de morte”.
No segundo, “acerta o prefeito Marco Alba: para quê retornar aulas presenciais em escolas que há anos tem problemas estruturais, falta de tudo, e para cumprir os protocolos teriam que se tornar escolas de ‘primeiro mundo’? Não por culpa deste governo, ou do anterior ou do anterior do anterior. É uma realidade brasileira. Como imaginar ser possível garantir EPIs, os equipamentos de proteção individual, para alunos da escola pública, quando não roda nem a hélice do ventilador?”.
Ao fim, aguardo convencimento técnico em contrário. Como tratei em 10 desafios para o futuro prefeito de Gravataí, achar o momento, e garantir a segurança para a volta às aulas, é um dos grandes desafios da estreia do governo Zaffa.
Até porque um retorno presencial em fevereiro de 2021, sob os efeitos da ‘COVID de Natal, Ano Novo e Praias’ e sem um convencimento técnico à sociedade, também deixará a desconfiança de que só não aconteceu em outubro por cálculo eleitoral. É que naquele mês a média de infectados era 1 a cada 3 horas e uma vida era perdida a cada 2 dias; neste janeiro há 1 infectado a cada partida de futebol e uma morte a cada 24h.
Fevereiro não tende a melhorar apenas por decreto.
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