Fui batizada na igreja católica. Participaram do ritual um casal de amigos e vizinhos dos meus pais naquela época. Foram meus padrinhos. Lembro de conviver com eles em minha fase de pré-adolescência e adolescência, período em que morávamos na mesma cidade. Adulta, saí da casa dos meus pais e, logo em seguida, meus padrinhos foram morar no interior do Estado. Não nos falamos mais. Vez por outra perguntava para algum familiar meu se tinham notícias deles. Diziam que estavam bem, morando na fazenda e pouco iam à cidade. Nesta segunda-feira minha madrinha faleceu. Percebi que não havíamos estabelecido vínculos afetivos. Pelo menos da minha parte…
Na tradição da igreja católica, madrinha de batismo é aquela que se compromete a cuidar e proteger o afilhado ou a afilhada, como se fosse uma “segunda mãe”. Sei dessa atribuição porque sou dinda de um menino, hoje um lindo adolescente. Cumpro parcialmente com minha função, muito mais pela distância geográfica (ele vive em Santa Catarina) do que pela afetividade que nos une. Faz três anos que não o visito (algo que fazia em seu aniversário). A última vez em que fui visitá-lo cheguei de surpresa, de manhã cedo e o acordei com uma nega maluca comprada na primeira padaria que abriu naquele dia. O guri não sabia se me abraçava ou comia o bolo. Fez os dois e voltou a dormir. Coisa de adolescente.
Ainda criança, ele e o mano, que também me chama de dinda e eu o trato como tal, passaram quase um mês de férias de verão em Gravataí. Tinham dez e onze anos, respectivamente e uma energia sem fim. No final do período lá em casa, meu marido, que também é dindo deles, era o “sensacional” e eu apenas “legal” – óbvio: o dindo só brincava, a dinda obrigava a tomar banho, arrumar o quarto e apartava as brigas entre eles. Hoje, em nossos bate-papos pelas redes sociais sou “dinda sua linda”.
Não sei se ainda existe, mas tive uma madrinha de casa também. Não sei o nome, quanto mais sobre sua existência ou não. Ela e o padrinho faziam parte das relações de amizade do meu pai. Nunca nos procuramos.
Qual o motivo de contar isso tudo que é tão pessoal? Não sei, talvez a sensação chata de que poderia investir mais em meus relacionamentos afetivos e tornado afetivos aqueles que são só “de passagem”.
Talvez por não termos proximidade emocional não tenha sentido falta de suas presenças. Pergunto-me se essa tradição católica ainda tem validade nestes dias de modernidade líquida.