coluna da Sônia

Ah, os bancos…

Entrada da agência do Banco de Pichinha, registrada por Sônia por ocasião de sua recente visita a Quito, capital do Equador. Como todas as demais agências bancárias do País, não tem porta giratória

Quando cheguei em Quito, em 1980, com planos de viver por lá dois anos (que acabaram se transformando em 17), fiquei impressionada com a laboriosidade dos indígenas.     

O Centro Histórico da cidade era um formigueiro humano, em que milhares deles vendiam tudo o que se possa imaginar, enquanto outros andavam de um lado a outro, apressadamente, carregando, nas costas, imensos sacos de batatas ou cestos com outras mercadorias.

Logo mais, comecei a viajar pelo País, e voltava, sempre, encantada com os “páramos” (encostas das montanhas) cultivados até lá em cima, onde só dá batata, e com a qualidade e variedade do artesanato produzido por eles em cada província. 

Mal podia imaginar, então, as dificuldades que enfrentavam para levar adiante seus empreendimentos.

Lá pelas tantas, foi trabalhar lá em casa uma moça indígena, que poupava um pouco do que ganhava a cada mês e, de tanto em tanto, comprava um par de brincos ou uma correntinha de ouro, para empenhar com um agiota em caso de necessidade.

Quando insisti em que abrisse conta em um banco, argumentando que cobram juros muito mais baixos do que os agiotas, respondeu: “Não é bem assim que funciona por aqui. Os bancos não costumam nos dar empréstimos”.

Soube, então, que a capacidade de geração de renda dos indígenas era subestimada pelos bancos, que os tratavam como sujeitos de crédito de alto risco e que, até a geração anterior, sequer permitiam seu ingresso nas agências de algumas províncias, onde eram atendidos do lado de fora.

Nesse panorama, e quando já se vislumbrava a grande crise bancária que convulsionou o Equador em 1999, levando à bancarrota várias instituições financeiras, Luis Alfonso Chango — o primeiro indígena de seu povoado a concluir o Ensino Médio e, depois, um curso superior —, reuniu 37 outros jovens agricultores e, com um aporte mínimo de cada um, foi fundada, em 1997, a Cooperativa de Poupança e Crédito Mushuc Runa (Homem Novo).

Desde então, o negócio evoluiu tanto que conta com agências em várias províncias, uma concessionária de carros, um supermercado, uma loja de ferragens e até um time de futebol profissional.

E, no seu rasto, surgiram, até agora, mais de 80 cooperativas similares, igualmente geridas por indígenas.  

Banco só muda de endereço, não é? Aqui é o mesmo. Paparicam à beça quem não precisa deles e tratam com desdém quem precisa, por mais promissores que sejam seus projetos.

Qualquer dia destes, eu me mudo para uma ilha deserta e faço picadinho dos meus cartões de débito, assim como fiz, tempos atrás, como os de crédito.

 

 

 

 

 

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