opinião

Alan não é chucro

Alan recebeu o autógrafo de van Hattem, eleito com 349.855 votos, no livro ‘A organização da sociedade segundo uma visão liberal’, de Donald Stewart Jr.

Algumas pessoas acham que o mundo começa na 59 e termina na fronteira com Glorinha. E é plano, obviamente. Incrível a quantidade que recebi de prints da postagem que Alan Vieira (MDB) fez em seu Facebook do encontro que teve em Brasília com o deputado federal Marcel van Hattem (Novo). É que na semana passada publiquei no Seguinte: o artigo “Alan, larga o MBL!”, que você lê clicando aqui, sobre saudação feita pelo vereador aos integrantes do Movimento Brasil Livre presentes à última sessão do ano da Câmara de Gravataí.

Hattem é um dos queridinhos do MBL, apesar de raciocinar anos luz à frente de Kims, Joices, Frotas e Mamães Falei da vida.

Não vou explicar o artigo, porque está quase desenhado para quem souber preencher um livro de colorir. Há no MBL gente com pensamento liberal, mas há também próceres da ‘direita chucra’. É aquela coisa tão na moda: liberal na economia, conservador nos costumes. O que não funciona nem para a economia, nem para os costumes. A boa convivência – o que é impossível quando há uma polícia do pensamento, ou do fiofó alheio – é um fator importantíssimo para que se viva momentos econômicos virtuosos.

Grosseiramente: gente infeliz ou recalcada não trabalha bem, não investe bem e, consequentemente, não atinge resultados.

Mas voltando ao Alan, liguei para ele para rir sobre isso. Estava aguardando voo para Orlando, na Flórida. Ganhou uma bolsa em um curso intensivo de inglês. Vai passar os 30 dias do recesso parlamentar, as férias dos vereadores, estudando no Estados Unidos.

– Aproveitei as 12 horas em Brasília para visitar o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e falar com o Marcel van Hattem, meu amigo de lutas da juventude, desde que estava no PP. Agora vou para os Estados Unidos, com minha passagem parcelada em 12 vezes, num planejamento financeiro pessoal que fiz por dois anos. Não tem dinheiro público, viu? – informa Alan, que nos esteites também pretende visitar parlamentos e governos.

Alan conta que ouviu de Onyx que a reforma da previdência será apresentada ao Congresso Nacional nos primeiros seis meses. Presidente da CPI do Ipag, o instituto de previdência municipal, o vereador sabe que só um aumento no tempo de contribuição dos servidores públicos pode evitar que a prefeitura de Gravataí, que hoje contribui com uma alíquota de 14% sobre a folha para garantir as aposentadorias pelos próximos 15 anos, chegue a 2035 comprometendo 72% da receita com pessoal.

 

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Sobre van Hattem, o MBL, o Grande Tribunal das Redes Sociais e a Guerra Ideológica Nacional, Alan não pensa diferente do que escrevi no artigo da polêmica.

– Concordo com muita coisa, discordo de outras. O van Hattem é um fenômeno, mostrou como ninguém como se comunicar pelas redes sociais. Mas com conteúdo, não aos gritos. Quero aprender.

Alan apoiou Bolsonaro no segundo turno, mas não é da ‘direita chucra’. Não está naquela parte mais extrema do lado destro da teoria da ferradura, que fica mais próxima do extremo do lado esquerdo, do que do centro.

– Muro não tem mais vez hoje. Apoiei Bolsonaro. Mas não gosto de extremos. Nada em exagero faz bem na vida da gente, por que faria na política? – compara.

Alan se considera um liberal, mas sabe que o Brasil não é os Estados Unidos. Se largar tudo nas mãos do mercado e do rentismo, mesmo que não vivam nas mesmas águas, logo faltarão lambaris para tantos tubarões. Os pobres precisam do estado, seja em governos de centro, direita, esquerda ou anarquistas. Acrescento eu: os empresários também precisam do poder público, não?

– Quando puxei na Câmara a discussão sobre o Uber em Gravataí sempre defendi a livre iniciativa, mas com regulação do estado. Entendo que o estado deva regulamentar as atividades, sem interferir onde não deve. E quando precisar intervir, que seja nas atividades essenciais e para proteger os mais pobres, que precisam do estado.

Alan repete o mantra de seu padrinho político, o prefeito Marco Alba.

– O orçamento tem que ser de todos. É também do funcionalismo, mas é principalmente do conjunto da população que paga os impostos.

Enfim, Alan não é um radical de direita, muito menos tutelado pelo MBL.

– Sonho um dia ser prefeito. E serei para todos. Ouvindo centro, direita e esquerda. Não se governa só com ideologia. Bom governo é o que responde ao conjunto da sociedade e convive em harmonia com todas correntes de pensamento. Acho que vivemos isso em Gravataí, hoje.

Ao fim, para os que quiseram criar uma crise entre o jornalista e Alan, o jovem de 31 anos mostra maturidade para absorver as críticas. Coisa boa, e cada vez mais rara, quanto tantos democratas se orgulham de nunca nos negar o direito de concordar inteiramente com eles.

 

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