O próprio Marco Alba explicou o porquê na hora e meia em que falou no Almoçando com a Acigra, nesta terça. É um apaixonado pelo que fez em seu primeiro governo. Por isso, boa parte de sua apresentação se ateve às contas que pagou do passado, aos ajustes que promoveu no que chama de privilégios na folha de pagamento do funcionalismo e à obsessão por não gastar mais do que arrecada.
O prefeito reeleito orgulha-se de, navegando entre vagalhões de uma crise que comeu R$ 300 milhões de receita e o pagamento de R$ 200 milhões em dívidas, ter firmado o leme em uma travessia que não afundou Gravataí como a maioria dos municípios brasileiros nos anos pós ‘marolinha’.
– Se não tivéssemos feito o que fizemos, e agradeço à Câmara de Vereadores mais responsável dos últimos 30 anos, hoje poderia estar aqui o papa Francisco, que seria crucificado – alertou, citando o exemplo do colega Miki Breier, que enfrentou uma greve de 60 dias, a maior da história de Cachoeirinha, pela urgência em cortar benefícios dos servidores.
Só após quase uma hora de projeções de lâminas com nublados gráficos, o sol nasceu com o que apresentou como resultado da “gestão responsável e transparente”: entre os municípios com mais de 200 mil habitantes, Gravataí está entre os 26 melhores para se investir no país.
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A classificação veio do rating do banco do Brics, com quem Marco se reuniu na semana passada, em Brasília.
E, se a boa colocação na análise de desempenho do ‘banco dos países emergentes (China, Rússia, Índia, África do Sul e Brasil) é uma esperança que pode ligar a aldeia dos anjos a parte dos 3 bilhões de dólares de Xangai, outros R$ 100 milhões já estão contratados com o CAF, a comissão andina de financiamentos.
– Só conseguimos isso porque fechamos as torneiras e, mantendo as contas em dia, garantimos as certidões necessárias para captar dinheiro externo – explicou, citando o “fazer mais com menos”, mantra de Yeda Crusius, ex-governador e amiga a quem sempre toma como exemplo.
Conforme o prefeito, após “anos dourados” com aumento real de receita próximo aos 10% entre 2003 e 2012, o atual crescimento anulado pela inflação, somado a um déficit até aceitável de R$ 28 milhões ao fim de 2016, inviabilizam a capacidade de investimento da Prefeitura com recursos próprios.
Marco anunciou que na terça-feira que vem uma comitiva da instituição financeira latino-americana cruza o pórtico da av. Centenário para as primeiras avaliações técnicas de obras de infra-estrutura que estarão no pacote de investimentos do financiamento, já autorizado pelo Ministério da Fazenda.
Sem antecipar nominalmente nenhum dos projetos, deixou nas entrelinhas que uma das principais reivindicações da última década, a duplicação das pontes do Parque dos Anjos, deve estar na lista de “obras estruturantes” que ajudarão a desengarrafar o crescimento principalmente para a zona norte – que será preparado por grandes alterações no Plano Diretor, ainda este ano.
Na percepção do jornalista, o Rincão da Madalena também pode comer uma parte do bolo há tantos anos prometido.
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Mutirão nos alvarás
Ao responder perguntas feitas pelo presidente da Acigra Régis Marques e convidados que lotaram o salão do Hotel InterCity do Parque dos Anjos, o prefeito informou que, a partir da semana que vem e por 90 dias, uma força tarefa coordenada pelo ‘gerentão’ do governo Luiz Zaffalon vai revisar o estoque de alvarás trancados na Fundação Municipal de Meio Ambiente – alguns há mais de um ano.
– Depois disso, um novo sistema permitirá o acompanhamento online dos processos – informou, citando por mais de uma vez o modelo norte-americano de gestão pública “para além das pessoas e com regras claras”.
– Mas vamos dizer muitos “não” para investimentos que não se bancarem sozinhos. Sem estancar empreendimentos que dependem do poder público, ou só trazem mais problemas, nunca resolveremos o que ficou de um passado de loteamentos sem nenhuma infra-estrutura.
O tchau Corsan
Marco também reafirmou que vai licitar a água e o esgoto. A proposta apresentada nesta segunda pela Corsan, com o aval do governo estadual, de manter a concessão mesmo que firmando parcerias público-privadas para integrar o sistema metropolitano, não será aceita pela Prefeitura.
– Ficaríamos reféns da captação em outros municípios, porque eles entendem que o Rio Gravataí é irrecuperável e a barragem inviável. Se entrarmos nessa, não sairemos mais – advertiu, dizendo que, por ter sido secretário de Saneamento do Estado, e ter Zaffa como presidente da Corsan, conheceu “na essência” a estatal.
Ele projetou para breve audiências públicas para levar informações à população sobre a licitação.
– Uma equipe técnica está elaborando o projeto. Nada será feito a portas fechadas. E, se a comunidade não quiser, me rendo. Não sou teimoso, apenas tenho coragem para fazer as coisas.
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O nº 1 da segurança
Avaliando que a educação e a saúde “estão bem e vão melhorar”, Marco confirmou a prioridade na segurança neste segundo governo.
– Pesquisas de antes e depois das eleições mostram que 75% das pessoas estão simplesmente apavoradas – observou, citando o fato de, no dia em que tomou posse como prefeito, ter testemunhado na frente de casa seu novo secretário de Segurança, o coronel da Brigada Flávio Lopes, ter o carro roubado a mão armada.
Entre as primeiras ações na área, cumprindo a promessa de campanha, Marco citou a aprovação pela Câmara do projeto que contrata mais 41 guardas municipais, aumentando o efetivo para 240, e o início da extensão de fibra ótica para escolas, postos de saúde e prédios municipais, que vai permitir o monitoramento por 120 câmeras espalhadas pela cidade até abril do ano que vem.
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A troca do pedágio
O prefeito também garantiu mais uma vez que o edital de concessão da freeway, “que sai em seis, sete meses”, incluirá a troca da praça de pedágio para o quilômetro 59.
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O Ipag e a saída
No encerramento, voltando ao tom indigesto da abertura da reunião-almoço, Marco passou a palavra para o secretário da Fazenda abordar um tema tratado hoje mesmo pelo Seguinte: o Ipag.
Davi Severgnini apontou que por mês, entre parcelas da dívida e contribuições da Prefeitura, R$ 3,3 milhões vão para a previdência e assistência em saúde dos cerca de 5 mil servidores municipais, dois mil deles já aposentados.
E as projeções são de que em 2020 os 10% referentes aos repasses para o Ipag cheguem a 22% da folha. Em dinheiro, um cataclismo de R$ 50 milhões por ano.
Em 2035, 72%.
A saída? Com o funcionalismo já descontando o teto de 14% fixado pelo Supremo, a torcida do governo é pela aprovação da reforma da previdência nacional, que com o aumento do tempo de serviço e contribuição de homens e mulheres reduziria a conta pela metade.
Isso além da esperança de um futuro melhor da macroeconomia nacional e internacional, que hoje estaciona a receita da ‘Terra da GM’.
Num curto prazo, não precisou Marco dizer: é a deixa para a manutenção do controle das despesas, inclusive com a folha. O que deve significar que, se não fala ou assusta com atrasos de salário como outros prefeitos, se no dissídio deste mês o funcionalismo ganhar a inflação, muito será.
– A população não pode pagar a conta sozinha – diz.
Gostem ou não, pelo menos Marco não mente.
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