A ampliação do dique até o Irga, a modernização das casas de bombas da João Pessoa e Nilo Peçanha, a construção de uma casa de bombas e comportas no Parque da Matriz, além do desassoreamento do Rio Gravataí, são os projetos do governo Cristian Wasem (MDB) para enfrentamento de enchentes em Cachoeirinha.
Nesta semana, o prefeito já buscou apoio junto aos governos estadual e de Porto Alegre, para captação conjunta de financiamento para obras.
Reputo também deveria socializar a comanda com o governo federal, mesmo que a Prefeitura ainda não tenha projeção do investimento necessário. É de lá que virá o dinheiro.
A cobrança por respostas já é feita pela base do governo. Ontem, de forma pública pelo presidente da Câmara de Vereadores.
Antes da análise política, vamos às informações sobre os projetos.
A base para a extensão do dique por mais dois quilômetros é um estudo produzido nos anos 70 pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). A proteção passaria pela ponte e a Praça do Ecoturismo, por onde entrou a água em maio, com possibilidade de remoção de famílias no traçado.
A fase atual é a de atualizar o projeto às cotas de inundação da enchente de maio.
– As cotas da enchente de 41 foram superadas. Devemos ter concluído ainda nesta semana estudo sobre a cota de maio, que ultrapassou todas as marcas conhecidas. O dique, que durante a enchente monitorávamos dia e noite, suportou a catástrofe, mas faltou apenas um metro para transbordar. Hoje são 7 metros – explica Paulo Garcia, secretário do Planejamento, onde estão centralizados os projetos anti-alagamento.
– É compreensível a angústia por soluções, mas é preciso trabalhar com dados. É momento da engenharia, da hidrologia, enfim, dos técnicos – acrescenta, antecipando a necessidade de também ampliar as seis comportas existentes no dique, hoje com baixo volume de vazão, para permitir tanto o barramento como a saída da água da cidade.
Alem da elevação dos painéis de comando e conserto dos equipamentos das casas de bombas da Nilo Peçanha e da João Pessoa, é projetada a construção de outra, com comportas, no Parque da Matriz.
– Trabalhamos nas duas casas existentes para colocar os equipamentos em funcionamento, mas também aguardamos o estudo das novas cotas para fazermos a elevação correta – explica o secretário do Planejamento.
Na sexta-feira passada, nenhuma das seis bombas funcionou na João Pessoa e foram necessários equipamentos cedidos por arrozeiro e pela Corsan, além da locação de duas bombas pela Prefeitura para baixar a água que chegou novamente às casas da região da Vila Eunice. Hoje o sistema está completo, mas de forma emergencial; leia em Com casa de bombas em colapso, Cachoeirinha emite alerta de evacuação preventiva para 25 mil pessoas e Cachoeirinha retira alerta de evacuação preventiva: a água bateu no pescoço dos políticos; Os xingados, os vaiados e o insustentável ‘povo pelo povo’.
A casa de bombas do Parque da Matriz seria um “back-up”, uma segurança adicional, conforme Paulo Garcia.
– Não havia histórico de água ali até a catástrofe de maio. Mas servirá para termos total segurança – observa, apontando a necessidade de negociar com a CCR, concessionária da Freeway, a construção de uma comporta para retirar a água daquela região.
O desassoreamento do Rio Gravataí também está na lista, apesar de não constar em nenhum estudo para contenção de cheias ou enfrentamento a secas, como já tratei em É absurda cobrança por dragagem do Gravataí para conter enchentes; O curso do rio da política deve ser outro. O da ciência já é.
– Felizmente não tivemos mortes. Mas fomos muito atingidos. Tanto que estamos em calamidade pública. Precisamos de recursos. Estamos apelando por ajuda – conclui o secretário.
Na segunda-feira, o prefeito Cristian foi até a Assembleia Legislativa apresentar o projeto de extensão do dique e das casas de bombas ao vice-governador Gabriel Souza (MDB) e ao secretário estadual da Reconstrução do RS, Pedro Capeluppi. Saiu relatando a promessa de que “equipes técnicas” do governo estadual iriam “acelerar os estudos ambientais”.
Horas depois, recebeu na Prefeitura de Cachoeirinha o prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo (MDB) para, conforme ele, “trabalhar no sistema de prevenção de cheias da região metropolitana”.
Clique aqui para assistir vídeo publicado pelo prefeito no Instagram.
Vamos então à análise política.
Cristian buscou apoio no vice-governador e no prefeito de Porto Alegre, ambos de seu partido o MDB. Sem nem adentrar no fato de que Sebastião Melo não parece o socorro adequado para se tratar sobre casas de bombas, entendo o prefeito deva ir também até o secretário nacional da Reconstrução do RS, Paulo Pimenta (PT).
Mesmo seja o padrinho político de seu adversário na eleição, o vereador David Almansa (PT), é preciso, além de furar a bolha de seus partidários, fechar o ciclo de apelos, despolitizar, institucionalizar as pautas. Até para trazer também o governo federal para responsabilidade com Cachoeirinha.
Na sessão de ontem, Almansa, que calcula que o governo federal já enviou mais de R$ 3 milhões para Cachoeirinha, se prontificou a ligar para Pimenta para agendar reunião com uma comitiva do governo e parlamentares.
Não julgo necessário. Cristian é prefeito de um município que tem o 16º PIB gaúcho e, na catástrofe de maio, teve mais de 25 mil pessoas atingidas. É só pegar o telefone e o ministro tem a obrigação de recebê-lo o mais rápido possível.
Mas é preciso apresentar projetos. E o que se tem até agora, salvo melhor juízo, resta bastante preliminar, com a justificativa de que se aguarda estudo sobre as novas cotas de inundação decorrentes das inundações de maio. Não há estimativa mínima de investimentos necessários.
Também durante a sessão, por vezes interrompida por apupos de moradores da região da casa de bombas da João Pessoa, onde alagou novamente com as chuvas da semana passada, o presidente da Câmara, Edison Cordeiro (Republicanos), integrante da base do governo, fez uma pesada cobrança pública, falando diretamente a “vossa excelência, o prefeito”, exigindo que cobre de secretários municipais a apresentação de projetos, principalmente para as casas de bombas.
– Diziam uns, no passado, para tirar as nádegas da cadeira. Os nossos (secretários) tem que colocar as nádegas nas cadeiras e apresentar projetos. Qual o sentimento dos vereadores? É esse: chega de conversa e de vídeos, nós e a comunidade queremos respostas.
Assista ao pronunciamento do presidente a partir de 1h22 do vídeo com a íntegra da sessão e, abaixo, concluo.
Ao fim, a água está batendo no pescoço dos políticos. Cristian e Almansa já foram xingados na sexta, na TV e ao vivo. Ontem, a pressão chegou aos vereadores.
Concluo da mesma forma que sábado em Cachoeirinha retira alerta de evacuação preventiva: a água bateu no pescoço dos políticos; Os xingados, os vaiados e o insustentável ‘povo pelo povo’ – artigo o qual, para quem não entendeu, não é uma crítica personalizada no prefeito.
(…) Pesquisas feitas por governos e candidatos tem mostrado o mau-humor do eleitorado gaúcho no pós-enchente.
Afogados em suas campanhas eleitorais permanentes e incapazes de sentar juntos à mesa, ou mesmo de se cumprimentarem, governo e oposição, municipal, estadual e federal, alimentam as narrativas de que o culpado é o outro, enquanto não conseguem demonstrar para a população onde está indo o dinheiro para o pós-enchente e menos ainda entregar a tranqüilidade de que tem projetos possíveis para mitigar catástrofes futuras.
Resta entre os inundados, invariavelmente ‘os pobres de sempre’, e, em Cachoeirinha, alguns remediados, além daqueles que só sentem a água pelos teclados dos celulares, a percepção de que os políticos não estão fazendo nada.
É o tal “povo pelo povo”.
Nada contra, tudo a favor do voluntariado. Mas o “povo pelo povo” é uma ideia insustentável, ao menos no prazo necessário para que se enfrente a crise climática com soluções e não apenas socorros emergenciais a cada chuva.
É preciso governo, não se iludam. Impostos são pagos para isso. O povo precisa trabalhar, viver e não salvar incompetências (…).