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Anabel: cada vez mais longe de Marco Alba e dos Bordignons

Anabel Lorenzi, com o Morro do Itacolomi ao fundo

Na série com os candidatos no ‘veraneio das urnas’, o Seguinte: ouviu Anabel Lorenzi. A entrevista com a terceira colocada com 23.490 votos (19,51%) em 12 de março é tão polêmica, com críticas tão agudas ao prefeito reeleito Marco Alba (PMDB), ao vencedor da ‘eleição que não terminou’ em outubro (e depois impugnado) Daniel Bordignon (PDT) e à candidata no ‘segundo turno’ Rosane Bordignon (PDT), que não precisa introdução.

É Anabel, ao estilo uma rosa na boca, uma bomba em cada mão.

Confira.

 

Seguinte: – Como avalias teu resultado da eleição?

Anabel – Avalio o resultado como muito positivo frente às adversidades. Enfrentamos duas campanhas superestruturadas e com muito dinheiro. Um candidato se beneficiou do uso da máquina pública como nunca se viu antes, com obras aos sábados, domingo, manhã, tarde e noite. Fizeram obras de madrugada. Não é um absurdo? Estamos calculando o custo disso para mostrar para a sociedade. E todas obras visíveis, para ganhar votos. Ou alguma era emergencial ao ponto de impedir a morte de alguém? Tanto não eram que pararam após a eleição. O outro apresentou uma candidatura laranja e riu da justiça, desrespeitando ordem judicial, se passando por candidato ou espalhando que iria governar junto. Como, se está com os direitos políticos cassados? Você o chama de ‘Grande Eleitor’ no Seguinte:, mas deveria chamá-lo de ‘grande mentiroso’. Mentiu que era candidato ano passado. Dizíamos: não será e, se assumir, será tirado do cargo em algum momento. Foi impugnado pela terceira vez. Às vezes quando o via mentir loucamente, lembrava Emília, do Sítio do Pica-Pau-Amarelo, e a Pílula da Mentira. Ele nasceu em Nova Bréscia?

 

Seguinte: – São Jorge, distrito de Nova Prata.

Anabel – É bem pertinho. Enfim, fosse em um país sério, os dois estariam presos por debochar da justiça eleitoral.

 

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Seguinte: – E o teu resultado?

Anabel – Fiz quase 24 mil votos em uma campanha limpa, de poucos recursos. As pessoas viram nas ruas. Tínhamos militantes, desde os coordenadores até quem carregava uma bandeira na esquina. Também sofremos com o assédio ao PSD, do nosso vice Dilamar (Soares). O partido veio pela metade. Até a véspera da eleição o candidato da máquina tentava cooptar gente nossa. Digo um por um os motivos pelos quais apoiaram a reeleição. Levou o Dr. Levi e outros, sempre com benesses ou promessas de futuro.

 

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Seguinte: – O momento do teu próprio partido, o PSB, também atrapalhou?

Anabel – Sem dúvida. Meu partido foi muito utilizado contra mim. Como não tinham nada revelante para falar da Anabel que não fossem bobagens e slogans vazios de facebook, apelaram para a participação do PSB no governo Sartori, lembraram de titubeadas do partido em questões nacionais e se agarraram à crise em Cachoeirinha.

 

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Seguinte: – Acreditas que o fato do prefeito Miki Breier ser teu ex-marido e parceiro político por quase três potencializou isso?

Anabel – Claro. Usaram até isso, uma relação afetiva de 23 anos, onde tivemos nossos filhos. Mas somos divorciados. Ou nem teríamos como concorrer os dois a prefeito, como aconteceu em 2016. Venderam bem a ideia de que o PSB maltrataria principalmente o funcionalismo, já que Sartori atrasa salários e Miki cortou vantagens dos servidores, enfrentava uma greve. Mas saio da eleição feliz por ter agregados partidos e lideranças, e ter recebido de 24 mil pessoas a confiança de que representava uma nova forma de fazer política. E isso numa eleição onde a falta de esperança do eleitor ficou clara no resultado final.

 

Seguinte: – Te referes às abstenções?

Anabel – Sim, a abstenção cresceu e foi maior que a votação do prefeito eleito. Não foi a chuva que tirou as pessoas das urnas. Não pode ser considerado normal Gravataí ter uma eleição suplementar. Por culpa de uma mentira contada pela terceira vez, o eleitor teve que votar novamente. Quantos não pensaram: “fui votar, anularam a eleição e não deu nada para ninguém, os falcatruas continuam lá”. Muita gente me disse que não iria votar, outros que tinham dúvida entre votar em mim ou se abster, o que mostra que não queriam mais do mesmo.

 

Seguinte: – Por tuas posições, acreditas que eras a candidatura mais identificada com a esquerda, num momento onde ser de esquerda para muitos parece um crime?

Anabel – Essa foi uma contradição da eleição, que me feriu pelos dois lados: quando era conveniente, me identificavam com uma esquerda em crise, e logo depois me cobravam por ações de meu partido que fugiam das bandeiras da esquerda. Curioso é que, enquanto isso, as outras duas principais candidaturas e seus partidos faziam pior. Há uma ascensão da direita no Brasil, basta ver as eleições de Dória, Marchezan, o cara lá de Caxias… Mas acho que para além de esquerda e direita, a eleição de Gravataí mostrou que vivemos uma crise ética na política, onde entra também o eleitor.

 

Seguinte: – Explique.

Anabel – A crise ética na política é um reflexo da crise ética na sociedade. Os políticos não vêm de Marte. Temos no Brasil uma cultura do ‘toma-lá-dá-cá’, enraizada desde a vinda dos portugueses. Uma falta de ética que não tem classe social. Como um prefeito que ontem tinha nota 5 nas pesquisas e uma péssima avaliação em todas as áreas do governo vence uma eleição crescendo a votação de um ‘turno’ para o outro? Foi força das obras de última hora e o dinheiro. Eleitores se deixaram enganar. Muitos criticaram por quatro anos, mas depois foram contratados e balançaram a bandeirinha. É a compra de votos moderna, legal, dentro das contas da campanha. Outra candidatura fazia promessas malucas, como a devolução de IPTU, que denunciamos e a justiça mandou suspender a propaganda. Mas me sinto uma vitoriosa por ter feito uma campanha propondo discutir as coisas cidade, os porquês de fazer praça no Centro e não saneamento no Rincão, creche no Dom Feliciano e não na Tom Jobim…

 

Seguinte: – A pesquisa do sindicato dos professores, publicada na véspera da eleição e te colocando em terceiro lugar, levou a um voto útil do funcionalismo, que entre servidores e suas famílias representa quase 15 mil pessoas? Quem não queria a reeleição de Marco Alba, mesmo eleitores teus, votaram em Rosane Bordignon?

Anabel – Sofri muito com essas pesquisas manipuladas. Fiz quase 20% nas urnas e a pesquisa do sindicato me colocou com 11%. É a metade! Quanto perdi nisso?

 

Seguinte: – Quais os planos da Anabel daqui para frente?

Anabel – Além de dar minhas 20h aula no Olenca Valente e outras 20h no Santa Rita, muita reflexão. Estou retomando leituras, estudos e voltando a escrever no meu blog. Foi mais de um ano entre pré-campanha e as duas eleições. Em março do ano passado já estávamos trabalhando a formação dos pré-candidatos a vereador. O PSB, sob minha presidência, também passará por um momento de avaliação e planejamento.

 

Seguinte: – Anabel será candidata a deputada, estadual ou federal, em 2018?

Anabel – Não tratamos disso ainda. Sou uma filiada, uma soldado do partido, como dizem.

 

Seguinte: – A oposição unida teria chegado à Prefeitura. É a segunda eleição em que Marco Alba vence fazendo menos votos que os principais adversários somados.

Anabel – Sempre dialoguei com as oposições. Mas tenho opinião, nosso partido, nosso grupo também. Defendemos uma nova política, então é difícil aceitar submeter nosso projeto a outros que levaram Gravataí a, mesmo sendo a terceira economia gaúcha, registrar alguns dos piores índices de desenvolvimento humano. Por isso tivemos candidatura própria em 2012, 2016 e 2017. Estranho também falarem em diálogo, mas lançando candidaturas.

 

Seguinte: – Falas da entrevista que Rosane Bordignon nos deu após a eleição.

Anabel – (um sorriso)

 

Seguinte: – Na entrevista Rosane revelou que foi feita a ti uma proposta de se aliar a Bordignon em 2016 e uma pesquisa indicar quem seria candidato a prefeito e a vice. E que se houvesse uma impugnação, serias a candidata natural. Mais: se ele fosse o candidato, independentemente de eleito ou não, te apoiaria em 2020 para Prefeitura.

Anabel – Isso não aconteceu. Acho que ele mentiu até para a esposa. Conversas de um e de outro não são negociação entre candidatos ou partidos. Achei isso incoerente: como ela diz que Bordignon tinha segurança de que seria candidato e na fala seguinte afirma ter havido essa proposta? Sabia ou não sabia que não poderia concorrer? Eu tinha feito 40 mil votos em 2012, por que seria vice? E de um projeto pessoal, familiar? Que não tentem colocar em mim a responsabilidade pela vitória do Marco, porque não vai colar. Não era eu quem tinha problemas legais com a candidatura. Se lá atrás tivessem a humildade de reconhecer que era uma aventura tentar concorrer novamente, poderíamos ter conversado. Agora tentam jogar a derrota deles no nosso colo.

 

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Seguinte: – Como será tua oposição ao governo Marco?

Anabel – Responsável, mas fiscalizadora. O PSB teve três vereadores eleitos para isso e vamos trabalhar muito próximos. É uma decisão de partido, do diretório: estaremos na oposição, onde o eleitor nos colocou. Já estamos estudando de lupa esse governo. Com números, vamos desmontar essa falácia de que a casa está arrumada. Como então o prefeito assumiu em 2013 com R$ 67 milhões em restos a pagar e em dezembro de 2016 essa conta estava em R$ 151 milhões? Como cresceu se fizeram apenas algumas poucas coisas às vésperas da eleição? E a dívida consolidada, que passou de R$ 189 milhões para R$ 290 milhões? Exercerei meu papel de cidadã e a liderança que a cidade me conferiu com 24 mil votos. O povo vai saber direitinho o que está acontecendo.

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