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Antonio Sacomory: Se eu morar em Gravataí, os políticos não terão paz!

Antonio Sacomory


Por oito anos, Antonio Sacomory foi o expoente do humor no Balanço Geral RS, da Record TV, dividindo tela com o também jornalista Alexandre Mota, hoje atuando na Ulbra TV.

Sacomory é o dono de nada menos do que 35 processos judiciais, a maioria provenientes de políticos que não gostavam de suas brincadeiras em frente às câmeras, mas isso não o abala: é justamente isso que dá o tom da certeza de que a piada chegou “chegando” no alvo.

O mestre em comunicação diz que pretende fixar moradia em Gravataí e já avisa: Não darei paz aos políticos daí!

Confira trechos da entrevista concedida ao Andreo Fischer, especial para o Seguinte:.


E aí?

Tenho 45 anos e nasci em Porto Alegre. Sou Mestre em Jornalismo pela PUC RS. Eu era um bom apresentador solene dos desfiles da semana da Pátria no Menino Deus e animador de quermesses. Daí, ganhei uma oportunidade na Rádio Real de Canoas como locutor de notícias. Tinha 17 anos, chegava da capital todos os dias para apresentar o jornal. Fui comunicador nos melhores tempos da Ipanema FM, rádio Cidade de Lisboa, Record TV do RS e de SP e passei até uns dias na Band RS. Eu nunca me considerei assim um “repórterrr”, era mais um humorista, mas como eu tinha um microfone na mão então eu era um repórter. Na verdade, eu sempre fui ator, diretor de teatro e, por consequência, diretor de cena com alguns prêmios no cinema. Sempre tive a produtora Iniciativa Cinema & Vídeo, na qual a Record era minha cliente.


Segundo suas palavras: A vida é muito doida, acho que nos próximos meses posso morar em Gravataí devido a negócios imobiliários. Como assim? Conta mais.

Não posso contar muito… Mas estou negociando uma casa bacana aí, preço bom. Etc… Simples. Mas nada certo.


O que você faz nos dias de hoje?

O presidente da Record TV me fez a mesma pergunta e respondi: Vendo produtos Jequiti (risos). Mas meu foco está sempre na produtora.


Quais são teus personagens?

Eu fiz muitos quadros na TV, poucos personagens. Dona Antônia, minha avó, era uma brincadeira que acabou se personificando.


O que tu gosta de fazer nas horas vagas?

Cozinhar. Dona Antônia é uma personagem que cozinha.


Pensas em voltar para a TV?

Estou negociando a volta à TV gaúcha. Deste assunto, não falo. Mas se morar em Gravataí… Os políticos não vão ter paz (risos).


Na época de ouro do Balanço Geral, tu eras um cara debochado que ‘perseguia’ políticos e empresas. Quantos processos tu já levaste?

Trinta e cinco processos. Nem todos os autores ganharam. A audiência certamente ganhou e estourou.  Debochado é meio pejorativo, não achas? Eu fazia humor. Meu limite sempre foi o respeito, sempre estava extremamente informado dos fatos, da vida dos entrevistados, tudo com conteúdo e bases. Debochado é pesado. Humorado na transcendência da alma, vendo as coisas mais coloridas na indagação é mais limpo e bonito.


Destes processos, quantos tu já perdeu e quantos ganhou? Quais são os pedidos mais comuns? Quem pagava por eles?

Não lembro… Mas a maioria a TV ganhou, porque alguns processavam somente para fazer resistência.


Em uma das tuas reportagens, tu foste até uma empresa de ônibus de Viamão para entregar um troféu de pior empresa do segmento. Como chegaste a este resultado e como foram os bastidores da recepção deles?

A gente recebia muitas reclamações desta empresa, era e-mail, era gente na rua falando, se queixando… Quando eu fazia o quadro Chutando o Balde, que teve cem edições durante minha passagem pela Record TV, eram só queixas deles. Existe certa cultura desta empresa de que esses ônibus têm motoristas que fazem horrores, os veículos tocam por cima de ti, atravessam corredores para cumprir horários, maltratam a população. A gente começou a gravar imagens e não era muito difícil, o cinegrafista só ligava a câmera e já tínhamos os flagrantes. Entenda que todas as minhas matérias sempre tiveram pesquisas, base, conteúdo, a gente nunca fez nada chutado. E tinha outras empresas concorrendo também. A gente abriu o voto para eleger a empresa e a maioria dos telespectadores votou nesse pessoal. Então a gente fez o troféu e fomos lá levar até eles e óbvio que além de tudo foram grosseiros e nem de brincadeira nos receberam. E aí mandaram dois guardas armados para a portaria da empresa para entender o que queríamos. O vigilante estava com medo ao ver uma câmera da imprensa e tentou nos colocar para a rua, pois estávamos dentro do pátio e o meu produtor gritava para ele: “Se tu atirar nele nós vamos chamar a Brigada Militar!”

Nós classificamos esta empresa como a pior de todas no sentido de infrações de trânsito, acessibilidade, etc. O melhor disso é que as pessoas se sentiram vingadas ao ver aquela matéria no ar.


Chutando o Balde: a cada quadro que era exibido, parecia que aquele balde estava cada vez mais torto. O pessoal o chutava com força? Conte curiosidades.

No início o pessoal chutava com força mesmo. Lembro-me que uma vez o balde pegou nas costas de uma mulher e a gente teve que trocar o recipiente, pegamos um de inox, mais pesado, e pedimos para as pessoas não chutarem com tanto torque. Assim, o quadro ficou sete anos no ar e para minha grata surpresa fiquei sabendo que as pessoas assistiam aquilo, gostavam e se sentiam vingadas quando reclamavam de alguma coisa ali. E a audiência era tão boa, que se conseguia resolver problemas com o INSS, por exemplo.


O teu quadro fica melhor transmitido ao vivo ou gravado?

Eu tenho uma produtora, com câmeras, estúdios e recursos de edição que deixam o produto melhor. Mas as mulheres preferem ao vivo, querem rasgar a minha roupa.


Conte sobre teu relacionamento com os políticos.

Alguns políticos inteligentes, bem-humorados, mesmo enrascados, devendo, participavam do quadro: “Máquina da Verdade” e outros, e ganhavam espaço na TV de alta audiência. Outros grosseiros, já saiam batendo e fazendo defesas. Estes diziam palavrões e eram vistos por seus eleitores com cara de mau, trilhas de vilão etc… Não aproveitavam o espaço televisivo.


Conheceste tua esposa ao dar aulas na faculdade? Então és professor universitário?

Eu dei muitos cursos de formação na RBS TV do interior do RS e SC, fui professor titular na Ulbra e Unisinos. Ela foi minha aluna na Unisinos, depois foi trabalhar na minha produtora e daí, um grande amor cresceu numa grande amizade e admiração.


Como era o dia a dia na Record TV? O que podia e o que não podia fazer lá.

A emissora me dava total liberdade.  Eu quase nunca ia à redação, o material chegava lá num pen drive e ia ao ar, passando pelo gerente de jornalismo e às vezes pela direção, porque era contundente. O Humor é contundente.


Ainda és reconhecido nas ruas?

Sim. Muitos me abraçaram, dizendo que deram muitas risadas… Que se sentiram vingados… E também fui reconhecido por ti (em um evento na capital gaúcha).


É melhor atacar os políticos com humor? Conte mais sobre isso.

Atacar é forte, vamos fazer uma matéria usando humor. Levar a informação, longe da formalidade, indo pela diagonal. O humor transita na linha diagonal do cérebro. Político e humor combinam. Porque eles são tão insolentes, mentem tanto nas ideias, no que acreditam etc…  Que o humor cabe como uma luva. Eu comecei a fazer humor no jornalismo político, muito antes do CQC, que surgiu no Brasil em 2007.


Como assim?

Ao contrário dos jogadores de futebol, que falam quatro frases armadas e não respondem nada, os políticos tentam explicar e se enrascam. Os assessores de imprensa não estão preparados para um repórter humorista. Fora os grosseiros que dizem palavrões querem bater no cinegrafista, invocam seguranças…  Estes são os melhores para audiência.


Como vocês chegaram até as falcatruas deles?

Fontes boas, pesquisas atentas, inimigos deles… Etc… Às vezes uma notícia.


Hoje em dia, em pleno 2022, é melhor fazer teu trabalho na TV ou na internet via streaming?

TV e internet também, TV é um gerador de conteúdo que vai para internet.


Tem redes sociais? Conte mais.

Tenho, mas não tenho levado muito a sério. Mais para amigos e profissionais.


Já foi ameaçado alguma vez?

Mil! Já apanhei de seguranças!


É mesmo?

Uma vez a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) esteve em São Leopoldo e eu consegui furar o bloqueio e dar um abraço nela. Na hora os seguranças me reconheceram, mas ficou por isso mesmo. Depois, eles vieram me dar uns empurrões. Outra vez, a Seleção Brasileira estava treinando na PUC (Centro de Educação Física) e furei também o treino deles na piscina. Aí o assessor de imprensa deles me levou para perto da piscina e quase me deu um pau. Eu caí lá dentro, arrebentei a coluna, mas fiquei lá conversando com os jogadores. Molhou o microfone e tudo! A Globo estava ao vivo naquele momento e nós não éramos a emissora credenciada, o que gerou o desespero deles ao ver a canopla (peça do microfone que leva a marca da TV) e isso tudo acabou indo para o Jornal Nacional… Depois fiquei uns dias sem trabalhar, devido à dor na coluna.


No quadro do Balanço Geral, apareciam algumas figuras esquisitas, às vezes em mais de uma edição. Como você consegue lidar com o assédio dessas pessoas?

Cara é o seguinte: ou tu gostas daquilo que tu faz ou tu não gostas. No local onde gravamos (no meio da Rua Voluntários da Pátria) eu não tinha seguranças e havia todo o tipo de público. E tu tens que saber olhar no olho das pessoas, curtir elas, divertir elas, que o assédio passa a ser uma coisa boa, agradável, desde que as pessoas não sejam chatas. Mas o “chato” tu tiras com piada, com humor, faz os outros rirem daquela pessoa que está te incomodando, transforma-se aquilo em algo pitoresco. Isso é ser ator e palhaço.


Nunca te vi na telinha com aspecto triste. Esse é o segredo para viver melhor ou é só o personagem?

O humorista não pode ir triste para a TV, ele é o palhaço, entende? Um dia eu estava na praia de Tramandaí animando o pessoal na casa da Record antes de iniciar a transmissão do Balanço Geral, e eu recebi a informação de que meu pai havia falecido. Que era para eu deixar naquele momento o programa em função disso. Eu disse para o gerente de jornalismo: não, em homenagem a ele, vou continuar o programa com todos os quadros, sim. Meu pai era um ator, era um palhaço e quando eu disse isso toda a equipe se emocionou e me abraçou e assim foi. Eu tenho meus personagens, mas sempre sou eu mesmo em todos eles. Já fiquei emocionado em quadros desse tipo, mas nunca com aquela emoção de tristeza.


Já teve ‘admiradoras’ ou ‘admiradores’?

Cara! Até o Ronaldinho dentuço Gaúcho tem admiradoras…


O Quadro “Show de Calouros” era mais divertido do que perseguir os políticos?

O Show de Calouros era puro entretenimento. Os políticos eram notícia com humor. Formava às vezes mídia settings, eu descobria um furo e a imprensa vinha atrás.


Diga tudo o que tiver vontade.

Sou lindo, gostoso e viril.



SAIBA MAIS

: Sacomory é diretor da produtora Iniciativa Cinema & Vídeo (http://iniciativacinemaevideo.com.br/). É casado, pai de duas filhas de 18 e 26 anos. No momento não pretende ter canais na internet por questões estratégicas. Para as fãs do repórter humorista, a informação é que ele nasceu em 16 de junho e é do signo de Gêmeos!

: Você acessa vídeos dos quadros em https://drive.google.com/file/d/1oC1nd2XIiBrpR12VBvkaxGJ6XExef5Qn/view?usp=sharing

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