RAFAEL MARTINELLI

Ao ‘privatizar’ adoções, governo Leite pode patrocinar um descarte de animais jamais visto

Mais de 15 mil animais resgatados da enchente ainda estão em abrigos

O Estado do Rio Grande do Sul pode estar prestes a patrocinar um descarte de animais jamais visto. É um desastre o projeto para incentivar adoções apresentado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) e idealizado pelo vice, o veterinário Gabriel Souza (MDB). Nem o Grupo de Resposta a Animais em Desastres (Grad), que firmou parceria no socorro durante a enchente de maio, e rendeu bons vídeos e fotos, aprova.

O governador anunciou ontem que será encaminhado nesta semana para a Assembleia Legislativa o projeto de lei que prevê R$ 7 milhões em ‘pagamentos’ para quem adotar os 15.259 animais de estimação abrigados em 353 locais em todo o RS, com maior concentração em Canoas (5.335 animais) e Porto Alegre (4.223).

Assista a postagem clicando aqui.

Conforme a apresentação do governo, “o incentivo para adoção será pago para aquelas pessoas que desejarem adotar um animal de estimação afetado pelas enchentes, mas que não têm condições de arcar com os custos”.

O Estado pagará R$ 450 por animal adotado e cada pessoa poderá adotar até dois animais. O valor previsto “considera gastos básicos de cuidados com animais de estimação durante seis meses”.

O valor será pago em duas parcelas, uma logo após ser realizada a adoção do animal e outra após três meses, quando será realizado um acompanhamento para garantir o bem-estar do animal adotado. 

Além disso, todos os animais postos para adoção já estarão castrados e microchipados, por meio de uma parceria com hospitais universitários veterinários, Ministério Público do Rio Grande do Sul e o Grad.

– Nós queremos que todos estes animais tenham um lar, mas sabemos que muitas pessoas podem querer ter um animal, mas acabam não conseguindo dar os cuidados iniciais – disse Leite.

– Os animais resgatados das enchentes terão seu bem-estar garantido, na medida em que estarão com famílias que se interessam por dar carinho a eles e não apenas pelo fato de haver incentivo financeiro – disse Gabriel.

Começo pelo discurso do vice-governador que, inacreditável, é veterinário. Reputo inacreditável porque, como profissional da área, convive com histórias de abandono.

É uma garantia impossível essa dada pelo político, em seu discurso, de que as adoções não vão acontecer apenas para recebimento do benefício, sujeitando os animais ao abandono após seis meses.

Pelo que apurei, o projeto não prevê nenhuma punição aos tutores no caso de animais microchipados serem novamente resgatados das ruas após o período de pagamentos.

Em pronunciamento oficial no Instagram, o Grad informa que não participou da construção do projeto.

– Vemos com grande preocupação o incentivo financeiro, que pode levar a adoções irresponsáveis e aumentar o abandono – alerta a ONG, que firmou parceria com o Governo do Estado para resgates e acompanhamento de adoções no pós-enchente, em vídeo que você assiste clicando aqui.

Levantando questões básicas, como “qual o perfil dos adotantes” e “quem vai fiscalizar o pós-adoção”, o Grad informou já ter oficiado o governo estadual para que convide profissionais técnicos da área e da causa animal para debater políticas públicas para os milhares de animais ainda abrigados.

Ao fim, com experiência na causa, antecipo o desastre. Adoação é um ato de amor, de responsabilidade, não um comércio, um negócio.

A responsabilidade constitucional por esses animais é do Estado, governador. ‘Privatizá-los’ não vai resolver esse megaproblema, que resta cada vez mais invisibilizado e longe dos selfies e reels de influencers, famosos ou não.

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