As colegas jornalistas Márcia Costa Dienstmann e Renata Breier Porto são duas beatlemaníacas aqui da aldeia dos anjos e por mais de uma vez assistiram aos shows de Paul MCartney no Brasil e, no caso da Márcia, até na Argentina. O Seguinte: pediu e elas produziram textos sobre sua experiência como fã do ex-beatle, forneceram fotos e até vídeos que fizeram no dia do show.
Vale a pena a leitura!
O show – do meu amigo Paul – era para mim
Admito que foi por muito pouco que não deixei de ir ao segundo show do Paul McCartney em Porto Alegre, evento apoteótico realizado no dia 13 de outubro. Eufórica com o anúncio da vinda do velho Macca para apresentação na capital gaúcha (em maio, se não me engano), garanti meu ingresso assim que a venda foi aberta na Internet. Daí, o roteiro: ir até o Beira-rio, pegar o passaporte para a felicidade, fotografar, colocar no Facebook… Mas o tempo passa e as coisas nem sempre saem como planejamos.
Desde 17 de setembro, me vi envolvida com um grave problema de saúde na minha família. Minha mãe sofreu um 'início' de AVC. Ficou 12 dias internada no Dom João Becker e, com intervalo de pouco mais de uma semana, baixou no hospital Divina Providência em 11 de outubro para colocar um stent para desobstrução da carótida. No dia 13, dia do show, ela estava na CTI pós-cirurgica. E eu, já tentando vender o meu ingresso.
Como é fácil nos colocarmos no papel de vítima. Encontrar desculpas práticas e insossas como comida industrializada congelada: "ora, minha mãe está no hospital, tenho quase 40 anos e estou muito cansada correndo pra baixo e pra cima em hospital. Que estresse! Cansaço mental e físico. Ficar pelo menos oito horas em pé esperando um show não é mais pra mim. Mimimi".
Na sexta-feira 13, coloquei o ingresso dentro da bolsa e fui ao hospital. Ao sair da visita na CTI, tinha certeza que meu destino era encontrar Sir Paul no Beira-rio. A força de uma correnteza – e o luxuoso auxílio do GPS – me levou. Era eu novamente! A adolescente de 16 anos que foi a Curitiba e Buenos Aires para assistir a shows de Paul McCartney.
Que ama Beatles desde os dez anos, que não esquece até hoje do disco de vinil duplo "All The Best" comprado na Sandiz, do Shopping Iguatemi, como presente de 12 anos. Sem autodesculpas, muito menos cansaço. Era eu novamente, sem idade, sem dor, sentindo somente leveza na alma pela emoção de viver intensamente o agora, o show do meu grande ídolo.
E é isso que um verdadeiro ídolo te proporciona: fazer, nos momentos mais difíceis, tu te lembrares da tua essência, tantas vezes soterrada pelos anos. Pensei "se não tiver ânimo para o Paul, vou ter pra quê? Por quem?"… Já era pessoal o lance. Fui para a fila e encontrei a Renata, a Tinha, parceira também no show de 2010. Ela estava 'acampada', com cadeira e lona para se proteger da chuva. Dentro de uma mochila enorme, levou um banquinho de madeira, no qual subiu e assistiu a todo show, repetindo inúmeras vezes "estou conseguindo ver até ele piscar!".
Os portões se abriram e lá estávamos, bem próximas ao palco. Só esperando o moleque de 75 anos. Não curto olhar setlist: gosto de me surpreender. Mesmo não sendo surpresa, admito que chorei nas clássicas – e sempre garantidas em show dele – Blackbird e Yesterday. Não menos ao ser 'pega' pela canção de encerramento: Golden Slumbers/Carry That Weight/The End. Poutz. Era óbvio! A 'trilogia', que está no último álbum gravado pelos Beatles, "Abbey Road", é a música que mais me emociona desde sempre.
Nos quatro shows que eu havia ido, ele não tinha tocado. Não preciso dizer que me debulhei em lágrimas. Lágrimas que se misturavam com a chuva que, então, caía mansamente. A água se misturava às luzes vindas do palco, conferindo um aspecto lúdico em um baile de cores e emoções.
Estava claro.
O show era pra mim.
O meu amigo Paul me mostrou que podemos ter 16 anos quando bem entendermos.
Tamanho é documento, sim!
Para entender o depoimento pessoal que darei a seguir sobre o segundo show de Sir. Paul McCartney, no Beira Rio, é preciso voltar no tempo, ir para 2010. Tive a sorte de estar naquela primeira apresentação do ex-Beatle em Porto Alegre. Era um sonho, já que comecei a ouvir a banda inglesa na minha adolescência e nunca mais parei.
Paguei o ingresso mais caro, pista Premium, pois queria que minha retina registrasse tudo de perto, nada de telão. Mas nada disso aconteceu. Quem já me viu sabe o quão baixinha sou – menos de 1,50m (não tenho problemas com meu tamanho, é importante dizer que até gosto) – e, mesmo com o ingresso que me daria a oportunidade de melhor posicionamento, não enxergava nada, pois todos pareciam gigantes na minha frente. Depois desse, fui ao Rio de Janeiro e a Goiânia ver outros shows do Paul. No máximo, consegui ver melhor no de Goiás, pois usei salto alto, o que me rendeu um tombo e um cotovelo em carne viva ao correr na abertura dos portões.
De 2010 para cá, meu padrão de vida baixou e pensei ter esgotado minhas presenças nas apresentações desse ex-Beatle, pois não teria mais as mesmas condições financeiras e achava que já havia experimentado as máximas emoções com ele. Ledíssimo engano. Aso saber do seu regresso à sala da minha casa (o Beira Rio do meu Colorado), trabalhei bastante e consegui juntar para outra Pista Premium, mas com dois planos em mente: o “A”, levaria um banco na mochila e o “B” meu salto alto se o primeiro desandasse.
Muitos duvidavam que conseguiria e, apesar da saga que foi, meu banco passou com louvor na revista da entrada dos portões. Não por ser malfeita e, sim, pela minha justificativa dada à segurança que apalpou o volume de madeira e questionou. Respondi: “usei para resguardar minha coluna na fila, mas agora ele está guardado na mochila”. Bingo!
Posso dizer que isso fez toda a diferença, pois parecia a primeira vez com Paul. E foi! Foi a primeira vez que minha retina gravou todas as suas expressões, suas reboladas, sacadas engraçadas, as imagens de toda sua carreira nos Beatles e solo que faziam fundo, no palco, o talento de cada integrante da banda maravilhosa; pude ver sua respiração entre cada frase, vê-lo piscando, de tão perto. Sabe o que é isso? Teve uma menina atrás de mim que abaixou o bico do capuz da minha capa de chuva que a estava atrapalhando! Parecia piada. Eu, atrapalhando! Nunca havia atrapalhado ninguém. Situação totalmente nova que me fez pedir desculpa à moça. Por isso, momentos engraçados não faltaram. Voltei a ficar alegre com o simples, considerado tão pouco para os outros, mas foi tudo para mim.
Isso tudo sem precisar, nenhuma vezinha, ficar na ponta dos pés, o que sempre me causava muita dor. Nem pescoço dolorido tive, pois não foi necessário inclinar minha cabeça para trás. Dessa vez não havia nada entre meus olhos e ele. Nada. Só amor, alegria transbordante e muita emoção. Tive, pela segunda vez, a oportunidade de viver outra primeira vez com um dos meus maiores ídolos. E foi uma segunda/primeira vez exageradamente superior à de 2010. Posso dizer que agora sim, curti cada detalhe, cada nota, efeito especial, inclusive a reação da plateia com todas as músicas que vão seguir como minha trilha sonora de vida. Obrigada, Paul, por me devolver a esperança e me fazer acreditar que podemos renovar emoções e sentimentos e que esses podem ser ainda melhores do que os experimentados no passado. McCartney não fazia ideia, mas tenho certeza que tive um show muito particular todinho para mim e que poucos entenderão o significado disso. Não precisava de mais nada, estava tudo ali. Fui alta por três horas e tive o melhor show da minha vida! Ao contrário do que pensava, pois ser baixinha nunca me atrapalhou, tamanho é documento, sim! No do Paul, é. Nunca desista de tentar e de acreditar em quem se é e onde se pode chegar.
: As colegas-amigas-jornalistas Márcia e Renata. A baixinha antes do banco. E com o banco.
Veja vídeos: