Que tal ver nas telas a história dos quilombolas guardiões do Rio Gravataí? É esta ideia ousada e necessária que Jhonathan Gomes, de 22 anos, planeja em “Olhos de Anastácia: Memória de um Quilombo”, e leva adiante não apenas pela necessidade do resgate histórico, mas para reforçar suas próprias raízes. É que o produtor cultural e estudante de produção cênica, pela Faculdade Monteiro Lobato, é bisneto da “vó” Anastácia.
— Eu cresci ouvindo as histórias que a minha avó contava sobre a Anastácia e sobre o que aconteceu no quilombo. Além de contar a resistência deste povo, queremos cumprir a missão dos quilombos, de manter viva a cultura de geração a geração — exalta.
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Na empreitada com ele, estão o colega Ademar Júnior e o músico Stanis Soares. A ideia do trio é iniciar as filmagens no quilombo, que fica às margens do Rio Gravataí, no lado de Viamão, em janeiro, mas para impulsionarem o projeto, precisam de apoio. Estão buscando isso com uma vaquinha virtual. A meta é chegar a R$ 4 mil em contribuições, com algumas recompensas para os doadores.
O objetivo, conforme o projeto apresentado para arrecadação de verbas, é, além de exibir o filme abertamente ao público, levar o assunto para debate em escolas de Gravataí e Viamão.
— Teremos muito material deixado pela minha avó, e a nossa ideia é ampliar ainda mais a transmissão oral das vivências da Anastácia — conta.
A avó de Jhonatan foi uma das principais fontes na dissertação de mestrado de Vera Regina Rodrigues da Silva, até hoje, o principal documento retratando o histórico da área herdade por Anastácia de seus pais, escravos libertos que, nesta condição, e com um pedacinho de terra, nos anos finais da escravidão nesta região, abrigaram escravos, e davam guarita até atravessarem do rio, quando fugiam das propriedades entre a atual região metropolitana e o litoral. Daí a relação tão próxima e de fidelidade deste povo com o rio.
A Associação de Preservação da Natureza (APN-VG) também já produziu um documentário mostrando o quilombo em “Olhos de Hortência”. Hortência era a mãe de Anastácia, e era a “véia”, como contam os remanescentes, que escondia os escravos fujões em barquinhos para atravessarem o rio e buscarem abrigo no também hoje quilombo Manoel Barbosa, no lado de Gravataí deste foco de resistência.
O filme, conta Jhonatan, será importante não apenas para o resgate histórico de toda uma cultura regional.
— É uma busca pela minha ancestralidade, que descobri ao ler o que já foi produzido sobre o quilombo — diz.
Anastácia morreu em 1983, segundo os documentos, aos 87 anos, mas ninguém sabia ao certo a idade daquela mulher forte que, até o final da vida, cuidou da terra e do rio. O quilombo foi reconhecido em 2016 pelo INCRA, e ainda está em vias de concretização. Este pedaço de terra é fundamental na preservação do Rio Gravataí. Fica à margem de uma grande reserva de água no curso inicial do rio, logo após a região de banhados das nascentes do Gravataí.
Pela documentação de 2016, o Quilombo da Anastácia compreende uma área de 64,1 hectares para 16 famílias beneficiadas. Mas, sem a infra-estrutura mínima, apenas sete famílias resistem na terra herdada da Anastácia.
PARA CONTRIBUIR
: Basta acessar o link no Kickante clicar em Quero Contribuir
: As doações vão de R$ 25 até R$ 2 mil ou mais