série convenções

Às margens da 75, Marco Alba chorou

Marco, em ato político dos 11 partidos no domingo

Marco Alba bota a teste seu governo, escudado por 11 partidos e o maior número de candidaturas a vereador da história das eleições de Gravataí. Confira na quarta reportagem da Série das Convenções, onde o Seguinte: conta de um jeito diferente como foram lançados os candidatos a prefeito de Gravataí

 

Naquele momento de um silêncio de multidão, em suas lágrimas Marco Alba era um homem e seu legado, feliz por ser apresentado com aprovação, carinho e fé por antigos e novos amigos, históricos e recentes apoiadores, admiradores e fãs.

– Nunca choro, mas chorei. Vocês ficaram faceiros, né?

Não por vergonha ou marquetagem, ali não estava mais somente o ‘marechal’ dos tantos a quem chamava de ‘general’ ou ‘meu líder’. No centro do palco, coçando a orelha, o nariz, olhando para o chão, cercado por milhares, entre as grandes tendas montadas no mesmo lugar da parada 75 onde comemorou sua vitória em 2012, estava o prefeito de Gravataí. Um retrato já garantido na parede da história, sob lapidados ‘2013 a 2016’, mas que quatro anos depois de 51 mil confirmações de esperança, e 300 milhões comidos pela crise do bilhão de orçamento que a aldeia poderia ter hoje, coloca seus feitos, e não feitos, à prova do que alguns consideram sabedoria, outros imediatismo, das urnas.

Ali, enquanto à sua esquerda o sol caía lânguido sob o Morro do Itacolomi, Marco não era mais um homem, seu sonho e chance, mas um homem, seu sonho e realidade.

– Muitos vinham e me perguntavam: “mas não estás preocupado com a eleição?”. Eu respondia: “sou o prefeito e estamos fazendo o que nos propomos fazer”. Se o reconhecimento vier, ótimo. Não devemos fazer as coisas pensando em recompensas – confidenciou, ao microfone, no domingo do ato político promovido pelos 11 partidos que o apoiam e lhe garantem 150 pré-candidatos, que em 12 dias pedirão votos para ele nas ruas.

Ali, no maior exército de candidaturas já montado numa eleição em Gravataí estão digitais do menino jardineiro, adolescente topógrafo, ‘maloqueiro’ dos ‘menudos’ do governo Abílio, que se formou advogado, mas desde sempre, vereador, secretário municipal, secretário de Estado e deputado por duas vezes, viveu sob o jugo do júri dos que se condenam ao julgamento diário da vida pública.

Em três meses, foi ele quem escolheu não evitar a partida do vice-prefeito Francisco Pinho, o que uniu os que ficaram na base de governo, e foi ele quem articulou, sem intermediários, nos sofás da casa de classe média do Oriçó onde mora há 51 de seus 57 anos, a adesão desde o imberbe e insipiente Pros, até o histórico PTB, com quem ninguém queria coligar, mas a quem estendeu a mão oferecendo vagas na nominata de seu gigante PMDB, permitindo ao partido dos ex-prefeitos Abílio dos Santos e Edir Oliveira sonhar com a eleição de pelo menos um vereador.

Ali, esse homem e sua estranha mania de dizer sim quando é sim, e não quando é não, num rosto leve e de sorriso intermitente revelava sem dizer uma única palavra o que passou por sua cabeça durante os dois primeiros anos onde se dedicou a pagar R$ 170 milhões em dívidas, e enfrentou no silêncio de sempre a orfandade da desconfiança, manifesta sob luz ou sombras por muita gente bem próxima que não acreditava que o governo e a reeleição sairiam da depressão.

– Aqui ninguém será chamado para dizer nada além da verdade. Temos que aceitar as críticas ao que não foi feito, mas precisamos mostrar aquilo que já fizemos, o que estamos fazendo e o que queremos fazer nesses tempos de crise – disse.

Mesmo que nas votações da Câmara a vontade do governo sempre tenha prevalecido, milagreiros das palavras gostariam de ter visto Marco nas comunidades antes, dizendo algo bonito, quando não tinha nada para apresentar além da crueza dos números de um ajuste fiscal. Então, mais de R$ 250 milhões em dívidas extintas, Jorge Amados e unidades de saúde modelo depois, parecem justificar a tranquilidade de quem diz nunca ter dormido tão bem na vida, e entrega para ser embalada pelo colo de agora tantos uma criança na qual a cada dia a beleza parece aflorar mais.

E se a principal porção da nossa aldeia dos anjos e da esfera chamada Terra é composta de solo espiritual, ali estava um homem que, além dos memes com mensagens positivas que envia aos amigos pelo WhatsApp, procurou se cercar também de gente de fé. Seu vice, o vereador Tanrac Saldanha, evangélico ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, e seu afilhado “e meu candidato a papa”, Lucas Mendes, um padre da Igreja Católica com verve de político, o ancoravam no palco.

– Nas nossas brincadeiras em grupos do Whats, uns diziam que eu seria o vice, outros que seria o padre Lucas. Agora entendo o porquê – brincou Tanrac, após o discurso onde o padre Lucas defendeu Marco como nenhum líder do governo na Câmara fez nos 1308 dias até ali.

– Não importa no que cremos, desde que creiamos e pratiquemos a bondade.

– Não permitamos que nos roubem a esperança de crer nas pessoas – disse o jovem padre de barba bem desenhada, ex-estagiário de Marco no Trensurb, citando o papa Francisco, antes de pedir um inusitado enlace de mãos para a reza coletiva de um Pai Nosso.

Arrancando risos ao dizer-se ‘menos santo’ que os clérigos, e abraçado a seu menino rebelde que hoje tem uma placa ‘Jones Martins’ num gabinete de deputado da Câmara Federal dos fantasmas de bem e mal de Ulisses Guimarães e Eduardos Cunha, Marco reforçou o mandamento de seu governo, o “cuidar das pessoas”.

– Claro que queremos obras físicas. Temos mais de R$ 100 milhões em financiamentos aprovados, após recuperarmos o crédito de Gravataí. Mas nossa prioridade, durante toda a crise que enfrentamos sem atrasar ou parcelar salário, foi investir em educação, saúde e assistência social. De que adianta ter a chance, ter essa caneta que mata a esperança ou que abre portas, e não fazer pelos que mais precisam? – instigou, mostrando que entre o discurso da esquerda e da direita há um Pokémon chamado ser humano que decide se faz ou não as coisas.

– Se alguém julgar o governo pelos buracos, a parada é dura. Mas optamos por dar uniformes a 27 mil alunos, merenda de qualidade, ter um plano pedagógico, essas coisas simples, e caras para os governos, que mudam a vida dos mais pobres. Mas são ações onde não se corta fita, não tem obra física, asfalto para mostrar.

Energizado por um beijo da primeira dama Patrícia Bazzoti a voz aguda, característica, se avolumou e distorceu as caixas de som:

– O buraco que sonho e trabalho para arrumar é aquele onde a metade das crianças do 1º ao 3º ano são analfabetas funcionais, não sabem ler, escrever, somar ou dividir. São 4500 crianças, com em média com 8 anos. Aí os outros indicadores são bons, e a gente vai fazer que não vê isso? Como essas crianças vão enfrentar esse mundo que não leva ninguém para compadre? – gritou, alertando que para a GM nem precisarão mandar currículos, porque os empregados serão na maioria robôs.

– O Pelé fala isso há 50 anos, “cuidar das crianças, cuidar das crianças”, e todo mundo diz que vai fazer, mas não faz nada. Eu, nós, estamos fazendo e vamos fazer mais. Não é fácil ser diferente.

E chorou de novo. Arrebatado pela lembrança da mãe, Sueli, falecida em 5 de fevereiro de 2013, pouco mais de um mês após vê-lo realizar o sonho da vida, ao sentar na cadeira de prefeito e coroar uma jornada de altos e baixos, eivada de sentimentos elevados e chacotas, reconhecimentos e humilhações, vitórias e derrotas, que começara 34 anos antes.

– A vejo em todas as coisas certas da minha vida, além dos amigos que fiz. Ela poderia estar aqui…

Assim foi Marco Aurélio Soares Alba, em seu ato de lançamento à reeleição para Prefeitura, onde recomendou aos seus que, como em 2012, fizessem uma campanha sem ódio, mas de comparações entre o que cada um fez ou pode fazer de melhor.

– Não é briga de torcidas!

Que assim seja.

Anjos e demônios dessa aldeia ganharão com isso.

Amém.

 

: Marco, Tanrac e as esposas Patrícia, Tatiana, deputados Jones, Carlos Gomes e Missionário Volnei, e padre Lucas 

 

A série

 

O Seguinte: noticiou todas as convenções (leia no Tudão) e agora conta os bastidores na série das convenções.

 

LEIAS AS REPORTAGENS:

O PT e o fim dos personalismos

O PSD e Levi desde o início da partida

O PSB, Anabel e a terceira via

 

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