coluna do golembiewski

As Touradas e a literatura

Arte sobre Picasso Bullfight Scene (1955)

Vou falar sobre touradas, ou melhor: sobre as touradas como tema da literatura. Por isso, não entrarei na discussão sobre a questão dos maus tratos aos animais. Se bem que no final do ano passado foi aprovada uma nova regulamentação que as tornam irreconhecíveis. Foram banidas as bandeiras, floretes e espadas que possam ferir os animais.

Voltando as letras, Ernest Hemingway escreveu sobre a Festa de São Firmino, no seu livro “O Sol Nasce Sempre”. Mas quem trouxe mesmo as corridas de touros para as páginas dos livros, foram os poetas João Cabral de Melo Neto e Federico García Lorca.

João Cabral disse numa entrevista ser aficionado pelas touradas, tendo-as visto e sentido de perto em Sevilha, quando embaixador do Brasil na Espanha. Ele contou que teve um amigo que conheceu Manolete – o maior toureiro de todos os tempos – e lamentava não tê-lo conhecido.

O poeta disse que se tivesse conhecido Manolete, certamente teria se tornado seu amigo. Afirmou que nunca tinha conhecido duas pessoas, com tanta capacidade para se tornarem amigas. E dizia que as personalidades eram tão parecidas que rimavam. Ele comparava sua poesia de alto rigor estético, com a arte de Manolete na arena. Ambas secas, precisas, roçando a morte. Cabral escreveu: Eu vi Manuel Rodríguez/Manolete, o mais deserto/ o toureiro mais agudo/ mais mineral e desperto/ o de nervos de madeira/ de punhos secos de fibra/ o da figura de lenha/ lenha seca de caatinga/ o que melhor calculava/ o fluido aceiro da vida/ o que com mais precisão/roçava a morte em sua fímbria.

Na tarde de 28 de agosto de 1947, Manolete estava na arena em Linares para mais uma corrida de touros. O toureiro que utiliza o pano vermelho com economia nos gestos, sem margem ao supérfluo, amparado apenas pela sua técnica depurada, sem jamais bandarilhar com espalhafato está na arena enfrentando o touro “Islero”, que receberá suas estocadas fatais. Fatal também será o golpe do touro que enfia o chifre na coxa direita do toureiro, atingindo-lhe a artéria femoral. Cai um para cada lado e Manolete é lenda, história e poesia.

 

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