crise do coronavírus

Aulas não!; o anticorpo da greve em Gravataí

Pesquisa foi feita por questionário online | Foto ARQUIVO

98,7% das trabalhadoras e trabalhadores em educação de Gravataí consideram inviável a retomada das aulas presenciais durante a pandemia da COVID-19, conforme pesquisa 'Não somos invisíveis', realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública (SPMG). Bom que o governo Marco Alba – e até covidiotas – parecem concordar, como tratei neste sábado em Gravataí vai ’espernear’ contra volta às aulas, avisa Marco Alba; Testa a purpurina, governador! e também em links relacionados no artigo.

– No Brasil, em todos os estados da federação e aqui no RS, autoridades anunciam propostas e calendários com repercussão na mídia, mas pouco ou quase nada consultam ou requerem a opinião de quem está no cotidiano das escolas, junto com milhares de crianças e jovens, promovendo a educação (…) O levantamento embasará o posicionamento do SPMG sobre o ano letivo – informa o SPMG em nota anexa à pesquisa, e na qual também observa que “é fundamental reafirmar que as escolas não estão fechadas, nem as trabalhadoras e trabalhadores estão parados”.

As equipes de cada escola mantem uma rotina de atividades com os alunos, de forma on-line ou com entrega/recebimento presencial, e estão organizadas fazendo a entrega da merenda escolar na forma de cestas básicas para a comunidade.

Siga os principais dados da pesquisa, que entre 17 e 31 de agosto já teve a participação de 763 servidores da rede municipal respondendo ao formulário eletrônico e, abaixo, analiso.

 

Retomada das atividades presenciais

: 98,7% dos participantes na pesquisa consideram inviável a retomada das atividades de forma presencial de acordo com a realidade das escolas municipais onde trabalham.

: 99,7% consideram que a retomada das aulas de forma presencial no ano de 2020 trará muitos riscos à saúde de estudantes e trabalhadores.

: 98,7% avaliam que não é possível a escola garantir com segurança a proteção de seus profissionais contra o contágio do coronavírus.

: 98,4% afirmam que as escolas da RME de Gravataí não possuem estrutura física adequada para atender as exigências de distanciamento e higiene preconizadas para a prevenção do contágio pelo coronavírus.

: 98,7% percebem que os alunos não cumprirão todas as orientações dos protocolos sanitários no ambiente escolar.

 

Mais trabalho que o normal

A pesquisa foi preenchida por um universo significativo de mulheres (89,1%) e a maioria na função de professor(a), chegando a mais de 80% dos participantes, considerando-se funções também exercidas por profissionais do magistério.

72% manifestam que se sentem sobrecarregados de trabalho no período de pandemia. Um sentimento que é justificado pelo fato da maioria afirmar que está trabalhando mais nesse momento do que em situação de normalidade (64%). 23,7% consideram que o volume de trabalho é igual ao período de normalidade. Somente 12,3% afirmam que estão trabalhando menos.

 

Risco de contágio

: Quase a metade dos participantes (47,7%) informa ser responsável pelo cuidado de familiares, o que amplia a sobrecarga de trabalho e, também, os riscos de contágio. Para dimensionar o risco que representa uma trabalhadora ou trabalhador em Educação dentro da escola, foi perguntado quantas pessoas dividem a residência. 37,3% moram entre três pessoas, 27,1% entre duas pessoas e 20,6% entre quatro pessoas.

: Dos pesquisados, 62,3% moram com uma ou mais pessoas que não foram liberadas para fazer o isolamento social e estão trabalhando, situação que amplia o risco do trabalhador em educação ser um disseminador do coronavírus na escola.

: 32,5% dos pesquisados afirmam que possuem uma ou mais doenças consideradas de risco em caso de contágio pelo coronavírus.

Outros dois fatores também são importantes na consideração dos riscos de disseminação do coronavírus:

: 24,8% dos pesquisados trabalham em duas escolas;

: 45% não moram em Gravataí, sendo 15,6% em Porto Alegre e os demais em diversas cidades da Região Metropolitana (Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Esteio, Viamão, Sapucaia do Sul, Glorinha, Santo Antônio da Patrulha, São Leopoldo, Eldorado do Sul, Nova Santa Rita), Taquara, São Francisco de Paula e Capela de Santana.

 

Situação econômica

: 55,2% dos pesquisados afirmam que a renda familiar diminuiu durante a pandemia. Situação explicitada pela comparação:

Antes da pandemia, 38,8% tinham renda familiar entre R$ 2.001,00 e R$ 4.000,00 e 31,8%, tinham renda familiar entre R$ 4.001,00 e R$ 6.000,00.

Durante a pandemia, 46% ficaram com renda familiar entre R$ 2.001,00 e R$ 4.000,00 e 22,3%, com renda familiar entre R$ 4.001,00 e R$ 6.000,00.

: Mesmo com a diminuição da renda, 71,7% dos pesquisados precisam gastar mais de R$ 100,00 com serviços de Internet que utilizam para trabalhar, sem contar outras despesas.

 

Analiso.

A pesquisa é arrasadora. Um choque de realidade gritado por quem vive o dia a dia das escolas públicas, que não tem estrutura para cumprir protocolos sanitários, e nem meios de garantir que alunos obedeçam.

Metade dos servidores pesquisados cuida de familiares e a média de moradores nas residências é de 3 pessoas. Em uma conta simples, 3 mil funcionários representariam 9 mil pessoas. Some a isso os 30 mil alunos, que se tiverem a mesma média de moradores em uma residência, formariam uma rede de contato de 90 mil pessoas.

Fica pior: dois em cada 10 pesquisados trabalham em mais de uma escola e metade não mora em Gravataí – e, boa parte, usa o transporte coletivo.

E tem mais: 3 em cada 10 entrevistados apresentam comorbidades e estão no grupo de risco da COVID-19.

A 'ideologia dos números' fala por si, mas reafirmo mais uma vez o alerta que fiz no artigo Deu a louca no governador!; Nem covidiotas querem mandar crianças às aulas: é preciso pensar “além do primeiro dia” de volta às aulas. Modelo matemático produzido por grupo de especialistas em planejamento da Universidade de Granada alerta que colocar 20 crianças numa sala de aula implica em 808 contatos cruzados em dois dias. Na Espanha, não no Rincão da Madalena ou na Anair. Fosse em Gravataí, seriam 161 mil pessoas na rede de contatos.

Em Por que não é possível voltar às aulas em Gravataí e Cachoeirinha, artigo onde também apresento estudo feito em São Paulo que reputo provar o risco de uma retomada neste momento, sugiro, aos que insistem que dá para garantir o cumprimento de regras sanitárias por crianças, que apliquem o ‘teste da purpurina’. É só atirar purpurina em um aluno, que uma sala de aula inteira chegará em casa ‘contaminada’.

Ao fim, o resultado da pesquisa evidencia que para reagir à qualquer imposição de volta às aulas os trabalhadoras e trabalhadores da educação terão bastante força para usar como anticorpo a greve.

 

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