a coluna da jeane

Aventuras cariocas – Parte 2

Na coluna anterior acabei deixando de fora uma coisa importante dos primeiros meses no Rio: estar no centro do país me deu oportunidade de encontrar pessoalmente alguns amigos muito queridos que as redes sociais me deram (alguns da época do Orkut!). Cheguei em setembro de 2014, e logo em outubro a minha “gêmea” mineira Ionara foi passear no Rio. Dizemos que somos gêmeas porque pensamos muito parecido e temos muita sintonia. Quando nos vimos finalmente diante uma da outra, não conseguíamos parar de rir. E conhecemos juntas, a convite do Armando Babaioff (o Diogo da novela Bom Sucesso), o Forte de Copabacana, que é um antigo forte militar transformado em museu do Exército. E tem uma vista linda da Baía da Guanabara, você vê praticamente desde o Leme até o fim da praia de Copacabana.

Vista linda no Rio de Janeiro é quase um pleonasmo, em quase todo lugar quando você olha para o horizonte fica encantado. E quando eu conheci, em outro dia, o famoso Arpoador entendi porque o pôr do sol de lá é aplaudido: é mesmo um espetáculo. (Mas em questão de pôr do sol, o Guaíba ainda ganha, pelo menos no meu coração. Nosso poente tem um colorido encantador.) Voltando ao encontro: embora estivesse anoitecendo quando saímos do Forte, o Babaioff nos levou para andar pela orla de Ipanema e Leblon. Tanto Ionara quanto eu tínhamos curiosidade para ver se o Leblon parecia mesmo com as novelas do Manoel Carlos, hehe. Parece sim, mas não tem nada de extraordinário.

No mês de novembro, a Aline, de Manaus, foi ao Rio para o show do Paulinho da Viola. Ela convidou também as amigas Ana Paula (de SP) e Isolda (de Recife). Juntando comigo, do RS, éramos representantes de quatro regiões do Brasil. Bacana, né? E o show do príncipe do samba foi incrível, inesquecível… Em dezembro foi a vez de receber o Wesley, que é do RN mas estava morando em São Paulo. Nos conhecemos no finado Orkut, cada um numa ponta do país, e conversamos muito no MSN, quando ainda nem havia Whatsapp! E ainda pude conhecer a Rita Procópio, de Volta Redonda (RJ), que foi pro lançamento do meu livro.

Na época de intensa atividade cultural na Lapa e arredores, também participei de eventos na Zona Oeste. Lembram do filme Central do Brasil? Pois então, eu morava perto da Central, e de lá pegava ônibus ou trem para Realengo, onde fiz amigos e também pude atuar com contação de histórias. Ainda estive em eventos em Padre Miguel e Campo Grande. E prestigiei o aniversário do Poesia de Esquina, sarau na Cidade de Deus – ela mesma, do famoso filme – que pelo menos naquele dia estava em paz.

Na Central também peguei o trem algumas vezes para Duque de Caxias, onde deixei um exemplar do meu livro na biblioteca pública municipal. E o contato com o pessoal da cultura de lá me rendeu um convite para relançar o Brado Carmesim na Feira do Livro de Duque de Caxias. Autora convidada! A vida andava bem difícil naqueles dias e participar dessa Feira me renovou as energias. Proporcionou um momento inusitado também, porque meu livro não é infantil mas recebi uma turminha de crianças e pré-adolescentes muito interessados no meu processo de criação. E ver as novas gerações interessadas por poesia é uma das melhores coisas.

Depois de dois anos mudei de endereço, para uma casinha entre a Glória e Santa Teresa. Numa ladeira que minhas pernas até hoje lembram! Mas foi um lugar que me permitiu um momento que nunca imaginei. Era um domingo e à noite haveria o Festival Mimo na Praça Paris. Domingo era dia de feira na Glória, portanto desci para minhas compras. Enquanto escolhia frutas e legumes, ouvi uma voz conhecida. De repente identifiquei que a voz era de Ney Matogrosso e corri para a Praça. Peguei a última música da passagem de som (Poema, uma canção que eu amo). Quando eu ia sonhar em fazer feira ao som do ícone Ney Matogrosso? Naquele dia agradeci muito por estar no Rio. À noite fui ao show com os amigos Edmilson e Iryz. E que show! Ney é mesmo maravilhoso, um artista de primeira grandeza.

A jornada na Glória durou apenas seis meses, porque conheci o Bernardo e mudei com ele para Madureiiiiiraaaaaaaa (leia no ritmo da música de Arlindo Cruz). É um bairro tão acolhedor quanto caótico. Morávamos perto do famoso Mercadão, mas eu costumava dizer que o bairro inteiro é um grande mercadão, por ser essencialmente comercial e além de centenas de lojas ter camelôs em todas as calçadas. Ainda acho que qualquer coisa que você precisar comprar pode encontrar em algum canto de Madureira.

Do período de quase três anos morei lá (perto de duas estações de trem), dois passeios me marcaram: Museu Nacional e Museu de Imagens do Inconsciente. O primeiro ficava na Quinta da Boa Vista e reunia um acervo de história natural muito rico, que em parte foi consumido por um incêndio em setembro de 2018. Chorei vendo as imagens do fogo e lembrando das borboletas e outras peças. Já o Museu de Imagens do Inconsciente, no Engenho de Dentro, é fruto do trabalho da psiquiatra Nise da Silveira com pacientes psiquiátricos. Há obras da época da doutora Nise e outras atuais. Eu choro toda vez que assisto ao filme sobre a história dela, claro que fiquei emocionada em visitar esse museu.

Em janeiro, quando eu já estava preparando minha volta para Gravataí, a Ionara foi de novo passear no Rio com seu noivo Almir. Como ela queria conhecer a igreja da Penha, e eu também, marcamos de nos encontrar na estação do BRT (sigla em inglês para ônibus de trânsito rápido) bem em frente ao santuário. A igreja fica tão no alto que são 3 três bondinhos para chegar lá em cima. Pegamos os dois primeiros, contemplando a paisagem… e o terceiro não estava funcionando. Então encaramos a escadaria de 382 degraus onde muita gente paga promessa. Nossas pernas ficaram doloridas (dias depois ainda sentia as panturrilhas) e o sol estava nos cozinhando, mas a vista deslumbrante lá de cima valeu o esforço. Dá para ver uma boa parte do Rio de Janeiro e mesmo sem saber identificar os lugares a imagem enche os olhos.

Além da alegria de rever minha gêmea mineira, foi muito bom poder guardar essa memória do meu querido Rio. Contemplar a cidade lá de cima foi quase como dar um abraço nela… que não foi de adeus, porque sempre que eu puder voltarei para visitar essa terra cheia de beleza e caos. E quem sabe um dia volto a morar lá? Amo minha aldeia, mas também amo meu Rio colorido e caótico, cheio de sol e de calor humano.

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade