Há dez anos, chegava ao fim um projeto de oficina de música do Mais Educação — mas o que parecia ser o encerramento deu origem a um movimento ainda maior, forjado por sonhos, disciplina, superação e força de vontade.
A história do grupo começou em uma escola, onde a professora Gi (Gica Florêncio) coordenava uma oficina musical. O projeto despertou o interesse de diversos alunos, tornando-se uma referência local. Com o encerramento da iniciativa, um grupo de jovens determinados procurou a professora para pedir um jeito de continuarem tocando juntos.
“Eles chegaram e disseram: ‘Professora, a gente quer continuar’”, lembra Elaine, que acompanhou o projeto desde o início.
Da escola para a garagem
Sem espaço institucional, a banda renasceu de forma improvisada e comunitária. Marlene, mãe de uma das alunas, cedeu a garagem da família para os ensaios. A partir dali, a Banda No Beco nasceu oficialmente.
Com o anúncio do primeiro encontro fora da escola, surgiu também um desafio inesperado: Elaine, que também era professora, precisou escolher entre permanecer no colégio ou seguir com o projeto que os alunos se recusavam a abandonar.
“Falaram que era um projeto que não duraria trinta dias. Dez anos depois… aqui estamos. Eu não tive dúvida: escolhi a No Beco, escolhi aqueles alunos”, lembra.
Mesmo diante dos obstáculos, a banda se estruturou. Em seu auge, chegou a reunir 13 integrantes simultâneos, embora mais de vinte jovens tenham passado pelo grupo ao longo dessa década.
Disciplina, pertencimento e formação humana
Mais do que ensinar música, o projeto se tornou um laboratório de valores. Compromisso e responsabilidade sempre foram pilares — exigência que vinha desde os tempos do colégio, quando os alunos precisavam manter bom comportamento e frequência para continuar participando.
Com o tempo, outros princípios ganharam força: empatia, trabalho em grupo e o sentimento de pertencimento, simbolizado pela hashtag criada pelos próprios jovens: #eusounobeco. Gica conta que muitos integrantes começaram do zero, aprendendo ali seus primeiros acordes, notas e ritmos.
“O envolvimento das famílias foi fundamental. Pais e mães se revezavam para transportar os jovens e os instrumentos, já que o projeto nunca contou com apoio financeiro ou institucional”, relembra Gica.
Mudando vidas
Se, de um lado, a banda comandada por Gica, com apoio de Elaine, transformava a rotina dos jovens, de outro, esses mesmos jovens e o projeto também mudaram profundamente a vida das duas.
Gi conta que, antes da banda, era vista apenas como professora particular. “A No Beco me mostrou meu lugar de artista”, afirma. Foi no grupo que ela aprendeu a ser regente, arranjadora e a lidar com entrevistas e situações públicas.
Para Elaine, o impacto também foi marcante. O convívio com os alunos a incentivou a repensar sua carreira, deixando a escola para atuar em novos espaços profissionais. Ela entrou para ajudar na organização, mas em pouco tempo estava no palco, como integrante da banda.
A data especial da primeira década não passou em branco. O show comemorativo ocorreu na Casa de Cultura de Gravataí (antiga prefeitura), no dia 25 de outubro, através de um projeto em parceria com a Prefeitura de Gravataí e o Governo Federal. Antes da apresentação, um vídeo com depoimentos de amigos, fãs e ex-integrantes relembrou a trajetória da banda.
Dez anos depois: segue o som
“É muito positivo”, resume Elaine ao avaliar os dez anos do projeto. O que muitos acreditavam que duraria um mês tornou-se um dos trabalhos culturais mais afetivos da comunidade.
O grupo, que segue independente e sem recursos fixos, demonstra energia para novos passos — e a mesma disposição que marcou o início de tudo.
A celebração da primeira década reforça a essência que moldou a No Beco: compromisso, acolhimento, coragem e a insistência em não parar de tocar — mesmo quando o espaço físico é apenas uma garagem emprestada e o apoio institucional é inexistente.
A No Beco nasceu porque um grupo de adolescentes decidiu que não queria parar. E, dez anos depois, não parece que vão parar tão cedo.
Serviço
Para acompanhar a banda: @bandanobeco
Contato para shows: (51) 99954-4495 — Elaine





