opinião

Bandidos na TV; Deltan, Moro e a Vaza Jato

A minissérie documental Bandidos na TV é uma das melhores produções que já assisti da Netflix. Nacional, é uma grande reportagem, com imagens reais e sem dramatizações, sobre o inimaginável Caso Wallace.

O documentário detalha o céu e o inferno do apresentador de TV Wallace Souza, campeão de audiência em Manaus, nos anos 2000, com um programa policial em que perseguia e denunciava traficantes.

Ascendeu ao paraíso, com a fama de herói, principalmente da periferia, daqueles que, ao vivo, se trocam por reféns em seqüestros, o que lhe rendeu três mandatos como deputado estadual mais votado do Amazonas. 

Desceu ao abismo, quando a partir de 2008 foi acusado de ser o líder de uma quadrilha de traficantes que mandava matar seus concorrentes para dar mais audiência para seu programa.

As aparências enganam.

Os novos diálogos da ‘Vaza Jato’ revelados nos últimos dias por The Intercept Brasil, Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo e Reinaldo Azevedo me fizeram associar a bizarra história ao Batman e ao Robin da República de Curitiba.

(Um parênteses: Batman porque, tanto no universo Marvel, quando no Bananil, o cavaleiro das trevas é um fora da lei, aplaudido pelo sentimento geral de vingança ao combater outro fora da lei, o Coringa, no caso, a corrupção).

Voltemos.

Nos diálogos, Deltan Dallagnol pede a Sérgio Moro dinheiro da 13ª Vara da capital paranaense para pagar publicidade a ser vinculada pela Globo sobre as 10 medidas – algumas fascistas, como fim do habeas corpus e o liberou geral da prisão preventiva – contra a corrupção. Após analisar os orçamentos, o juiz aceita caso não passe dos R$ 38 mil.

A reportagem na íntegra, com os diálogos captados do Telegram do coordenador da Lava Jato e do hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, você lê clicando aqui.

Mas o que testemunhamos é corrupção ativa e passiva dos dois ‘caçadores de corruptos’, como bem identifica o jornalista Reinaldo Azevedo, já que não importa se o dinheiro foi usado na peça publicitária, mas sim que o procurador pediu, mandou orçamento e o juiz aceitou dar.

Ilegal, imoral e indecente.

Artigo 317 Código Penal, corrupção passiva.

Artigo 333, corrupção ativa.

– Basta expectativa de vantagem para uma ação ser considerada criminosa, desde que usando bem público, ou para comprar alguém ou para se vender.

Mesmo que o uso de códigos tipo ‘k’ para se referir a dinheiro, ou então arquitetar esposas e parentes como laranjas para os negócios pareçam conversas extraídas de grampos de bandidos, não cometerei o exagero de comparar o moço que fez jejum durante a votação do HC de Lula com o ladrão confesso Sérgio Cabral, que disse: “Meu apego ao poder e ao dinheiro é um vício”.

Inegável, porém, que o procurador, mesmo na carreira mais ‘top’ do serviço público, com salário de R$ 33 mil, nos diálogos revelados entre domingo e terça se mostra bastante simpático a lucrar usando a fama de jacobino lavajatista: R$ 400 mil de ganho líquido com palestras em 2018, ou 100 mil a mais do que recebeu como procurador.

Assusta o fato do cúmplice do ‘Robito’ ser o idealizador da já barrada fundação de direito privada que administraria R$ 2,5 bilhões em multas devidas pela Petrobrás aos americanos (mas pagas no Brasil), incrivelmente homologada pela juíza Gabriela ‘Control C + Control V’ Hardt, substituta de Moro na 13ª Vara.

Decepciona o cidadão de bem saber que o menino de fé exigiu curtir com a família, com diárias de R$ 5 mil, num parque aquático de luxo, para dar palestra de R$ 30 mil paga pela Federação das Indústrias do Ceará, sindicato patronal cujo orçamento é composto por dinheiro público.

Assista Bandidos na TV. Impossível não associar ao céu e ao inferno vividos por nossos Batman e Robin, de heróis de quase todos a vilões de muitos.

Ao fim, para não deixar de fazer um link com a aldeia, acredito ter ficado indefensável até mesmo para fãs da Lava Jato, como o advogado Hercules Perrone, de Gravataí.

A não ser uma defesa bem paga, claro, compatível com o profissional de excelência que é.

E remunerado com ‘k’, não só com os cliques de fanáticos, desinformados ou informados do mal no Grande Tribunal das Redes Sociais.

 

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