RAFAEL MARTINELLI

‘Bem-vindo à política!’: Dila não é mais líder do governo Zaffa; Prigozhin, Han e Tang, os janissários e a III Guerra Política de Gravataí

Dilamar Soares não é mais o líder do governo na Câmara de Gravataí. O vereador entregou o cargo ao prefeito nesta terça-feira. Perde a boa política, desgasta a ‘marca’ do governo e também fere Luiz Zaffalon – que tanto sabe disso que relutou em aceitar a demissão.

Resta observar se restará sequestrado por sua nova base governista, em meio à III Guerra Política de Gravataí: Zaffa x Marco Alba, pós Abílio x Oliveiras e Bordignon x Stasinski. Tem aprovação de governo, obras feitas e por vir para não se tornar refém, mas na política nada é IMPOSSÍVEL.

No artigo-bomba Vereadores Bombeiro, Clebes e Demétrio pedem ao prefeito Zaffa para Cláudio Ávila entrar no governo; ‘De Dias Gomes’, a nova novela da III Guerra Política de Gravataí, deste sábado, antevi a queda de Dila – queda para cima, ao menos moralmente; explico mais adiante.

Escrevi: “(…) Reputo que em um dos finais menos improváveis da novela ‘de Dias Gomes’ reste Dila imolado na liderança do governo (…) Resta saber se a admiração por Zaffa, e a busca pela manutenção do projeto de poder, o fará revogar o princípio da impenetrabilidade da matéria, Lei de Newton, e permitir que dois corpos ocupem o mesmo espaço: ele, Dila, e seu hoje algoz, Ávila (…)”.

Dila não revogou a Lei de Newton.

Por que entendo perde a boa política? Simplesmente porque ganha a má política, aquela sorrateira, pessoalizada, da vendeta.

No artigo alertei sobre:

“(…) Da ‘nova base’, Dila é um dos únicos que ainda preserva o MDB de Marco Alba como partido que ajudou na eleição do grupo de comanda a Prefeitura desde o golpeachment de 2011 – o que também o torna alvo de fogo amigo, mesmo esteja preservando Zaffa de ser chamado ‘traidor’ caso ‘demitisse’ agora o MDB que o elegeu, e que também soma votos necessários para aprovar pautas-bomba como o novo modelo de eleição de diretores, a reforma no código tributário e o novo Plano Diretor (…)”.

Inegável é que pelo menos quatro figadais vereadores, que estão hoje com Zaffa, já queriam o MDB ‘demitido’ do governo logo após a deflagração da III Guerra Política – sobrariam mais cargos, influência e poder; a governabilidade? Dane-se!.

De obsessão por cargos ninguém pode acusar Dila: tem indicações no governo, mas nenhuma secretaria ou cargo de alto escalão, mesmo fosse, ao menos antes da II Guerra Política, o vereador mais próximo do prefeito.

Nunca pediu nada para Zaffa. Pelo contrário: blindou-o, como já contei em episódios como III Guerra Política: Líder do governo, Dila se atirou na frente da bala por Zaffa; O Borodinó, o Napoleão de Hospício e o incêndio de Gravataí.

Vamos à ‘queda para cima’.

Ascende moralmente Dila pela forma como sai. Frente a uma pressão insustentável, Dila entregou o cargo, facilitando para o prefeito lidar com sua nova base, que estreia antigos adversários, como Clebes Mendes, cujo processo de expulsão do MDB tinha concordância de Zaffa; Bombeiro Batista (Republicanos), que em suas páginas nas redes sociais com mais de 200 mil fazia críticas e cobranças diárias e, Dos Grandes Lances dos Piores Momentos, Fernando Deadpool (sem partido), alvo de ação assinada pelo próprio prefeito e o vice Dr. Levi (Republicanos), sobre suposto assédio funcional a médica em posto de saúde – se ainda não, entre um cone e outro levantado em inauguração de rua os três podem se encontrar nos corredores do Fórum, como testemunhas em lados diferentes do processo, mas como partes de um mesmo governo.

Facilita também a relação com com parte da oposição – ao menos por hoje, literalmente falando frente à coerência na incoerência dos políticos.

Era a cabeça de Dila que queriam, a degola resta presente – voluntariamente, sem jus sperniandi.

Já em relação ao desgaste da ‘marca’ do governo, Zaffa perde na liderança um vereador, Dila, com memória política da aldeia de pelo menos 30 anos, e um estudioso dos projetos.

O novo líder deve ser Alex Peixe (PTB), um fiel governista, voluntarioso, mas sem o brilhantismo de Dila. Parece-me incontestável que para um governo que tem como marca a ‘gestão’, Peixe resta um líder ‘político’.

E perde Zaffa porque o ‘bem-vindo à política!’, que previ na deflagração da III Guerra Política, custa a cabeça de um de seus leais, um amigo, ao menos dentro das quatro linhas da política, que antes do rompimento com Marco, e de assumir a liderança do governo, eu descrevia como “líder do prefeito no legislativo”.

Dila não quis dar detalhes ao Seguinte:. Apenas confirmou ter entregado o cargo por “problemas pessoais”.

Zaffa respondeu, pelo WhatsApp.

“Dila (meu líder e depois do governo) como você dizia, tem vários problemas de saúde na família e não está conseguindo cuidar de tudo. A agenda das “coisas de governo” é muito grande. Continuará ao lado do governo sempre. Agradeci muito a ele por conduzir nossos assuntos em momento tão difícil de transição. Pedi ao Alex Peixe para ser o líder neste momento de construção de uma nova base. Alex, como Dila, tem larga experiência, bom senso, tranquilidade e toda minha confiança. No legislativo vai me representar e ao governo; e todos assuntos do governo junto àquela casa, terão sua competente liderança e condução”.

Ao fim, não tenho dúvidas de que Dila seguirá fiel a Zaffa e – aí, para não enxergar só o copo quase vazio – mais leve para fazer o que sabe melhor: defender tecnicamente os projetos, com profundidade e estudo, mas aí para a sociedade, não para convencer políticos cujo menor interesse é esse. Assim, será Dila, talvez, mas útil ao governo.

Essa crise me lembrou o artigo O que acontece na Rússia depois do Dia Mais Longo?, de Pepe Escobar, publicado domingo no Seguinte:, sobre o pós-rebelião do Grupo Wagner, de Prigozhin, na guerra Rússia-Ucrânia:

“(…) Os acadêmicos chineses gostam de nos fazer lembrar que os períodos turbulentos da China – por exemplo, os dias finais das dinastias Han e Tang – sempre tiveram como causa os chefes guerreiros se recusarem a obedecer as ordens do Imperador. Os janissários do Império Otomano – o Wagner daqueles tempos – tinham como tarefa proteger o sultão e lutar suas guerras. Eles acabaram tendo o poder de decidir quem poderia ser sultão – tanto quanto os legionários do Império Romano acabaram decidindo quem seria Imperador. Os conselhos chineses são sempre prescientes: cuidado com a forma de usar seus soldados. Assegurem-se de que eles acreditam naquilo pelo qual lutam. Caso contrário, eles se voltarão contra você e o atacarão (…)”.

Só para não esquecer de lembrar: “Bem-vindo à política, Zaffa!”.

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