candidatos locais

BIOGRAFIA | Galatto:

Herói da Batalha dos Aflitos, ex-goleiro do Grêmio Galatto concorre a deputado federal

Seguimos com Rodrigo Galatto uma série especial com candidatos locais que disputam a assembleia legislativa e a câmara federal nas eleições de 2018. Num formato diferente, o Seguinte: ouve as histórias de vida e traz relatos em primeira pessoa, onde são os entrevistados que contam suas trajetórias. 

 

Assista ao clipe que o Seguinte: produziu na casa do Galatto, no Alphaville, em Gravataí. Depois leia a biografia

 

Costumo dizer que apareci para o mundo com estrela de campeão, em 83, ano mágico para o Grêmio. Nasci em 10 de abril, em Porto Alegre, mas já logo voltei para casa na Rua 20 de Setembro, no São Geraldo, na Gravataí onde me criei e voltei após as andanças do mundo do futebol. O pai, João, foi por 40 anos coordenador de tráfego na Unesul. A mãe, Ivandra, microempresária de bares e confecções. Sou casado com a Jacieli e tenho uma filha, Lívia, de 3 anos, gremista fanática como eu e meus pais.

A bola sempre esteve presente na minha vida. Enquanto meu irmão, João Cléo, engenheiro mecânico, gostava de carrinhos e brinquedos, comigo não precisavam se preocupar com presente: era só atirar uma bola. As lembranças são ótimas daquele tempo de peladas nos campinhos do bairro, com amigos vizinhos ou colegas do Colombito, da José Maurício, do Gensa e do Barbosa Rodrigues, com os quais convivo até hoje. Como todo menino, comecei querendo fazer gols e não evitá-los. Sinto por crianças de hoje ficarem tão presas dentro de casa, pela violência, mas também pelo vício no celular, na internet.

O Grêmio como um futuro profissional surgiu quando tinha 13 anos. Estava na escolinha do São José, o Zequinha, da zona norte de Porto Alegre, e jogamos contra o Gravataiense, ali na 73. O Vainon, preparador físico do infantil do Grêmio assistiu à partida, gostou de mim e perguntou se eu não queria fazer um teste lá.

– É meu sonho – respondi.

Minha família sempre apoiou, mas o pai nunca fez pressão, não era daqueles que ficam na tela, se achando treinadores e gritando com as crianças e adolescentes, o que atrapalha muito na formação do atleta. A principal cobrança era minha mesmo. Estava vestindo a camisa do clube que amava. Lembro que no início os treinos eram terças, quintas e sextas. Depois, de segunda a sexta e com jogo no sábado. Por vezes voltava da aula no Gensa, almoçava e saía correndo, ainda com o uniforme do colégio, para ir treinar. Para o futebolzinho com a gurizada, catar papelão para vender no ferro-velho da esquina para comer um xis e tomar um refri, sobrava o domingo!

Sempre estudei o tanto quanto a rotina do futebol permitia. Na época, o Grêmio cobrava muito boas notas. Cursei educação física na Ulbra. Quem olha de fora acha que viver da bola é fácil, mas não é. É um sonho, mas que você sonha com os pés na realidade, e se não trabalhar muito, ele logo se vai. Dos que começaram comigo, poucos vingaram, como se diz na linguagem futebolística, e jogaram na primeira divisão. Eu, o Bruno, o Elton… Aos 13 anos o futebol é um mundo, mas aí quando você chega aos 15 começam os convites para festas, as namoradas. A turma me convidava para sair, mas eu não podia, porque tinha treino na manhã seguinte, ou estava tratando lesão. Muitos talentos se perderam na noite!. Sempre tive foco e fui bastante controlado. Isso ajudou muito naquele pênalti na Batalha dos Aflitos. Todo o esforço e sacrifício desde menino passou pela cabeça naqueles segundos que separavam o céu do inferno. Mas essa história conto daqui a pouco.

Não vou citar nomes para não esquecer ninguém, mas agradeço a todos os treinadores de goleiros ou do time, que ajudaram a lapidar minha técnica. Assumi a titularidade do Grêmio aos 22 anos. Convivi com atletas como Marcelo Grhoe, Cássio, Saja e Tavarelli, esse um cara com experiência de seleção paraguaia, campeão de Libertadores, que me ajudou muito fora de campo. Tinha feito bons jogos nos aspirantes, na Copa RS, e em 2005 o Mano Menezes assumiu como treinador e o Andrei, o Márcio e o Eduardo saíram. Minha estréia foi no dia 15 de maio. Ganhamos do Criciúma por 2 a 0 no Heriberto Hülse. O presidente Paulo Odone me pegou pela mão e levou até a torcida, gritando que “goleiro a gente faz em casa”. Foi o início de uma relação especial que sempre tive com o torcedor. É uma emoção indescritível ouvir o nome gritado pelos gremistas.

Aquele ano foi uma experiência para toda vida, principalmente para um jovem estreante. Enfrentaríamos uma segunda divisão e tínhamos apenas sete jogadores. O Mario Sérgio era o gerente de futebol e ligava para empresários perguntando se tinha jogador disponível. “Se render pagamos, do contrário não”, ele propunha, como se faz em muitos clubes amadores, diferente da realidade a que o Grêmio estava acostumado. Em uma reestruturação rápida, vieram jogadores experientes, como Sandro Goiano e Pereira, e começaram a despontar craques como o Anderson e o Lucas Leiva. Não tinha essa coisa de hoje de redes sociais, então nos almoços, ou confraternizações, ficávamos horas trocando idéias. Lembro que eu, com 22 e o Grohe, com 18, novinhos, ouvíamos tudo quietinhos, aprendendo. Éramos como uma família, por isso deu certo, mesmo com tantas dificuldades. Naquela campanha, chegamos a perder para o Anapolina por 4 a 0, diziam que o Mano ia cair, que não era treinador para o Grêmio, até que conseguimos ganhar do Sport lá na Ilha do Retiro e segurar um pouco as críticas. Mas tínhamos consciência de que seria jogo a jogo.

A Batalha dos Aflitos foi uma coisa épica. Minha filha seguidamente pede para botar o DVD para assistir com o pai! Joguei e viajei pelo país e o mundo e, logo após me apresentar, a pergunta é sempre sobre aquele jogo que entrou para a história do futebol mundial. Quando aquele pênalti foi marcado já estávamos com um a menos. Tivemos quatro expulsos, peguei o pênalti, o Anderson fez aquele gol incrível e ainda resistimos por dez minutos, com rádios, chinelos, tudo voando para dentro do campo, até o juiz acabar o jogo. Em meio àquela confusão, com o time todo cercando o árbitro, dirigentes em campo, polícia, procurei manter a calma. Perguntei para um repórter como tinha sido Santa Cruz e Portuguesa. O Santa tinha vencido, então naquela bola estava em jogo um momento decisivo da história do Grêmio e também da minha carreira. Pensei nos milhares de gremistas em frente à TV ou ouvindo a partida… O Chiquinho, treinador de goleiros, só me disse: “deixa para sair na última hora que esse cara nunca bateu pênalti”. Na hora nem comemorei, porque faltava muito jogo. Mas depois caiu a ficha. É um símbolo da imortalidade tricolor! E é uma lição para a vida, de persistência, de foco, de não desistir. Sobre a volta para Porto Alegre e a recepção da torcida, as imagens falam por si. Desde guri tinha o sonho de desfilar campeão em cima de um caminhão de bombeiros. Imagina como foi com metade de uma cidade te abraçando! Não tenho dúvidas de que o Grêmio multicampeão de hoje renasceu naquele dia 26 de novembro de 2005.

Sempre me interessei por política, acompanhava as eleições, leio muito. As pessoas têm a idéia errada de que o jogador de futebol é sempre um alienado. Mas enquanto muitos começam a ler o jornal de trás para frente, pelo esporte, eu sempre li do início, da política, para o fim. O pai sempre me alertava sobre a brevidade da carreira, então procurei acompanhar os rumos da economia. Em 2007, por exemplo, quando deu aquele boom da construção civil, investi na área. Hoje tenho o Calamares Peixes e Frutos do Mar, no centro de Gravataí. Consigo viver confortavelmente, tenho minha casa aqui no Alphaville. Apresentei a maior declaração de renda entre os candidatos locais com toda transparência. Ganhei com meu suor e cérebro. Pago bastante imposto, mas é minha obrigação como cidadão não sonegar nada do que tenho. Não adianta o cara falar mal do político e passar o sinal vermelho! Com 22 anos, graças ao Grêmio, pude comprar meu primeiro apartamento. Nunca fui de trocar de carro toda hora, viajar muito. Minha esposa fala que é uma dificuldade me tirar de casa! Gosto é de fazer um churrasco, receber os amigos.

Não me apresento na política com solução para tudo. Sei que por melhor que seja o projeto, é difícil aprovar num Congresso de quinhentos deputados. Mas quero lutar principalmente por uma educação melhor. Como um país vai crescer se 70% dos jovens que terminam o ensino fundamental não sabem matemática e português? Não penso em projetos só no esporte, a vida não é só futebol, mas sonho com oportunidades para os adolescentes, no turno inverso da escola, no mercado de trabalho. Meu irmão foi professor do Senai e lembra que faltavam vagas e hoje sobra, porque os jovens nem chegam até lá.

Uma coisa que gostaria de mexer, mas sei que é complicado, é com a reeleição. Oito anos deveria ser o máximo para deputados. É o que farei, se o povo achar que devo ser eleito. Concorrerei a uma reeleição e depois deu. Me convidam para eventos que acontecerão depois da eleição e perguntam se eu vou se não for eleito. É claro, se o eleitor achar que não sou merecedor de um voto de confiança, a vida segue. Há bons e maus exemplos de atletas na política, acredito que minha boa índole e capacidade podem ajudar as pessoas. Não preciso da política para viver e nem é uma forma de status, para ficar na mídia.

A idéia de concorrer surgiu a partir da sugestão de muitos com quem conversava em eventos de consulados gremistas em mais de duzentos municípios do estado. Joguei no Atlético Paranaense – um período muito feliz, em que fui escolhido pela Placar como terceiro melhor goleiro do Brasileirão e conheci minha esposa – Itumbiara, América de Natal, CRB, Criciúma e, no exterior, no Litex da Bulgária e no Málaga, da Espanha. Encerrei a carreira aos 33 anos porque as lesões e dificuldades em alguns clubes, coisas que as pessoas nem imaginam que aconteça no futebol, me tiraram o foco. E, no esporte de alto rendimento, estava certo o Ayton Senna ao dizer que, se não vai se dedicar 100%, nem entra. Já não tinha aquele tesão de levantar e ir treinar, no sol ou na chuva. Poderia ter tido uma carreira mais longa no Grêmio, não fosse as lesões, principalmente aquela que tive na cabeça. Resolvi então dividir essa experiência e vontade de ajudar aos outros me colocando à disposição através da política. O PPS é um partido limpo, sem envolvidos em corrupção, e que me deu total liberdade.

Se não for eleito, sobre o futuro na política, não penso. Certeza apenas que poderia estar morando em qualquer lugar, tenho cidadania italiana, mas continuo vivendo em Gravataí, que é meu chão, minha aldeia, que merece todo carinho. Estou focado nesta eleição. Sei que estou eternizado como o ‘Herói da Batalha dos Aflitos’, mas gostaria muito de ouvir um “obrigado” por ter ajudado a mudar a vida das pessoas por meio de meu trabalho na política como deputado federal.

Minha camisa agora, meu número, é o 2323.

 

: Rodrigo José Galatto com a filha Lívia e a esposa Jacieli

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