Há uma máxima que diz que “em política o que te dizem nunca é tão importante quanto o que você ouve sem querer”. No caso, não ouvi, é feeling de jornalista com mais duas décadas de aldeia nas costas. Antecipei que o resultado da votação da extinção do Ipag Saúde seria 12 a oito a favor do governo e, portanto, pelo fim do plano que atende cerca de 10 mil pessoas, entre servidores ativos, inativos, pensionistas e familiares. Já não aposto uma taça de vinho no Gringo.
Inclusive, a aprovação do PL 19 pode estar em risco, a base do governo Marco Alba (MDB) pode implodir e podemos ver descer, como por aqueles ferros de quartel de bombeiros, um novo candidato a prefeito em 2020.
Explico.
Na sessão da última terça, que acredito ter descrito razoavelmente bem nos artigos Fim de greve bom para todos; mas, e agora? e Hoje Ipag Saúde virou Walking Dead; acompanhe-me até maio, o sindicato dos professores queria a votação do projeto que extingue o Ipag, para questioná-lo na justiça como base no suposto descumprimento de artigo da ‘constituição municipal’ que obrigaria a Prefeitura a dar algum tipo de assistência em saúde ao funcionalismo. Paulo Silveira (PSB), um dos líderes da oposição, apresentou requerimento para que o PL fosse votado, mas a base governista derrubou por 12 a 8.
Ué, mas você não está dizendo que a extinção do Ipag pode não ter como resultado 12 a 8?, o leitor pode estar se perguntando. É, mas acontece que algumas coisas mudaram nos bastidores da sessão e também apareceram nas câmeras que registram o big brother nos corredores do kinder ovo da Câmara.
Na sessão, vereadores de diferentes partidos do governo usaram a tribuna para defender a extinção do Ipag. Foi uma demonstração de unidade da base. Não tenho a confirmação se foi combinado, mas pareceu. Sei que há uma senha: se algum entre os vereadores governistas não votar com o prefeito, outros se considerarão liberados a fazer o mesmo. E isso pode provocar o Milagre de Santa Teresa e derrubar o PL 19.
Bom, mas seguindo na teoria da conspiração: Bombeiro Batista (PSD) se inscreveu para falar nas ‘justificativas de voto’, junto a outros da base que cumpriram o – aparentemente – combinado, como Alan Vieira (MDB), Airton Leal (PV) e Roberto Andrade (PP). Mas, ao ser chamado duas vezes pelo presidente Clebes Mendes (MDB) para usar a tribuna, não estava no plenário. Onde foi, não tenho como saber, mas pelo vídeo da sessão, que todos podem assistir no site da Câmara, ele fala algo ao ouvido de Clebes e sai pela porta que dá acesso aos elevadores, à garagem e ao banheiro.
Isso só fez aumentar uma desconfiança na base que chegou ao Seguinte: por mais de um vereador: Bombeiro não é voto certo pelo extinção do Ipag Saúde.
Ok, mas e o BBB Câmara? Ah, essa é a outra parte da teoria da conspiração. Quem anda pelos corredores do legislativa, toma uma aguinha nos galões, bebe um cafezinho nos gabinetes ou come um pastelzinho das tias, já viu que Odair Goulart é nome repetido na lista da recepção e, câmeras mostram, assíduo no gabinete do vereador Bombeiro Batista.
Aqui um parênteses para apresentar Odair. Ele baniu o Seguinte: de sua página na internet, o Acorda Gravataí, o maior da cidade, com mais de 100 mil participantes. Como é um grupo que cresceu a medida que criticava o governo Marco Alba, os políticos, e mostrava tragédias da criminalidade, a justificativa dessa personagem, administrador ao lado de uma pessoa que, se não é fake, parece, é que o Seguinte: era o ‘diário oficial do governo’ e o Acorda Gravataí era de oposição.
Pois atualmente, possivelmente por mais de mil motivos que não sei elencar, como também não sei preço de carro usado, Odair não sai da sala de Bombeiro, um vereador da base de governo. No País das Coincidências, como é o Brasil, Bombeiro é o vereador que mais aparece nas páginas administradas pelo professor da rede municipal.
Prestaram atenção na profissão do moço? Na última assembleia do sindicato dos professores, Odair bateu foto no CTG Aldeia dos Anjos e, obviamente, apoia sua categoria para não perder o plano de saúde que permite que, com ajuda da Prefeitura, ele inclua, pagando menos, mãe, pai, filhos, irmãos e conjugue.
Sou detalhista, às vezes chato, sei, mas é que gosto dos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos. Mas, vamos direto ao assunto: no meio político Odair Goulart é visto hoje como um Olavo de Carvalho do vereador Bombeiro. E Odair segue script parecido com o de gente como Olavo, ou o tresloucado chanceler Ernesto Araújo, que era de esquerda e depois foi para a extrema direita. Na última dele, que posso aposta já votou em Sofia Cavedon, do PT, foi em debate sobre a ‘frente da escola cívico-militar’, junto a Bombeiro e ao deputado tenente-coronel Luciano Zucco que, na onda do bolsonarismo, fez um balaio de votos na Gravataí onde só deve ter passado de carro pela Freeway quando ia para a praia.
Bombeiro e Odair juntos são a comprovação da 'teoria da ferradura', que em algum momento une os pontos mais extremos, destro e canhoto.
Mas, vamos adiante. E aí, com uma construção minha: Odair tenta entrar na cabeça de Bombeiro convencendo-o a romper com Marco Alba, votar a favor dos professores e… e… concorrer a prefeito!
– Tu é um bom vereador e é militar, eu administro páginas com milhares de alcance, vamos fazer como o Bolsonaro e tu será o próximo prefeito de Gravataí! – posso imaginar o dono do Acorda Gravataí, falando ao novo melhor amigo da vez.
Assim, Bombeiro pode sair a base do governo para urnas como candidato a prefeito pelo PSL de Bolsonaro em 2020.
Como eu disse, o tempo de lida faz a gente apostar no feeling quando se trata de política, até porque políticos raramente são iguais durante um dia inteiro. Então aí vai um alerta que é feito, constrangidamente, por vereadores da base, sobre os cálculos que faz o prefeito para a votação do Ipag Saúde:
– Acorda, Marco!
Numa tuitada: se Bombeiro não votar com o governo, outros da base não votarão e o projeto arrisca ser derrubado.
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