Temos visto de quase tudo nos últimos 12 meses. Muitas discussões de nossa sociedade multicultural neste período complicado promovem ainda mais divisão, quando a união e bom senso mais precisam prevalecer. Quero deixar claro que sou cristão, um grupo numeroso de pessoas mais conhecidas por suas ações do que pela Igreja que frequentam. Há mais de um ano não participo de reuniões presenciais na minha e nem por isso me sinto impedido de exercer minha fé ou de defender minhas crenças. Me sinto mais seguidor de Jesus Cristo por ficar em casa o máximo que posso, de sair apenas para trabalhar ou outras atividades essenciais, de usar máscara sempre que estou na rua, de lavar as mãos ou usar álcool gel com frequência e de não promover ou participar de aglomerações, inclusive com meus familiares mais próximos. Esta é minha contribuição para diminuir a circulação do vírus da Covid19, o número de internações e de mortes. No momento em que escrevo já são mais de 330 mil vidas ceifadas, com nome e sobrenome, em todo o País.
No meio do medo, do desespero e da incerteza sobre o futuro, nós cristãos continuamos a fazer o que sempre fizemos, que é cuidar do próximo, desde o que está mais perto de nós (nossa família), até amigos, vizinhos e os milhares de desconhecidos que precisam de nossa ajuda. Somos focados em fazer isso, porque é parte da nossa essência. Fazemos isso junto com toda a sociedade. Não importa se entre os que se unem neste esforço estão católicos, luteranos, evangélicos, frequentadores de cultos afro, budistas, espíritas, agnósticos, ateus e gente que necessariamente nem tem uma crença. Enfrentamos essa pandemia todos os dias com o know-how de quem estende a mão para ajudar o outro desde sempre, mesmo que tenhamos perdido renda e emprego desde março de 2020.
Há tanto para ser feito pelos necessitados que não temos tempo para protestos, caça aos culpados pela falta de vacinas, preocupação com troca de ministros, publicação de fake news nas redes sociais e outras mazelas políticas que sempre sacudiram o Brasil e continuarão a fazê-lo depois da pandemia. Se alguém tem dúvidas sobre nossa capacidade de agir durante crises, lembre-se de que nós cristãos somos 87% da população brasileira (IBGE/2010) e temos uma capacidade de mobilização que ultrapassa barreiras religiosas, não-religiosas e mesmo de fronteiras físicas.
Nossa bandeira é a da solidariedade, que tem produzido as mais belas histórias de superação durante a pandemia, seja em que campo for. Não temos tempo para balas-clavas, porretes, tacos de basebol, relhos, nem para outros artefatos da violência, brutalidade e radicalismo. Sabemos que estas rivalidades todas estão em desarmonia com os ensinamentos de Jesus Cristo, de quem nos declaramos seguidores, discípulos. Sabemos que o amor com que agimos na sociedade tem um poder transformador muito maior que qualquer outra força. Cremos na honra, defesa e manutenção da lei e da ordem. Por isso, vamos colaborar para o bem de todos sempre que nos for requerido pelas autoridades. Combatemos a desagregação familiar respeitando e amando nossa esposa e filhos, ensinando-os pelo exemplo. Buscamos construir uma sociedade melhor por trabalho e esforço pessoal, procurando ser autossuficientes e estendendo a mão aos que têm menos oportunidades de cuidarem de si e dos seus.
Enquanto juristas discutem a legalidade ou ilegalidade do aborto, somos nós que procuramos educar melhor os adolescentes da comunidade quanto a suas escolhas e cuidamos das jovens grávidas, que precisam mais de amor e apoio do que de julgamento. Enquanto quem deveria nos representar discute qual esfera de poder tem autoridade para decretar lockdown, seguimos trabalhando, apesar do risco de contágio, pois se não o fizermos perderemos a capacidade de cuidar de nossas famílias e igualmente, do próximo. Quanto aos políticos, não somos cegos e estamos conscientes de nosso papel transformador da sociedade, inclusive pelas urnas. Não existe marketing político, nem recomendação de líder religioso capaz de nos iludir. Votamos, oramos pelos que elegemos e fazemos nossa parte, porque entendemos que nenhum representante do povo conseguirá melhorar o mundo sozinho.
Somos bons cristãos de verdade. Entendemos que todas as pessoas têm direito ao arbítrio, que em uma sociedade democrática como a nossa podem escolher sua opção sexual, ter opinião sobre qualquer coisa e permanecer dignas de respeito, livres de toda e qualquer discriminação. Cremos no bem que todos são capazes de fazer, independente de raça, religião, posição social, profissão, opção sexual, nível de escolaridade, partido político, time que torce, filosofia que defende, deficiência, etc. Por confiarmos nos ideais cristãos, na capacidade e na força do bem, sabemos que venceremos juntos a pandemia e continuaremos sendo benevolentes, para resolver, ou amenizar, os problemas que já tínhamos antes e que, provavelmente, serão agravados pela grave crise sanitária e econômica que estamos vivendo. Pode ser a maior até agora, mas não é primeira, nem será a última. Sabemos como vencê-la, porque bons cristãos são responsáveis por si, pelos seus e pelos outros.