opinião

Bordignon prefeito vai brigar com o mundo?

Bordignon, em outubro, com alunos da turma 102, do Carlos Bina

Provavelmente, não.

Daniel Bordignon tem tido um comportamento condizente com sua estatura política, nestes dias de indefinição na eleição que nunca termina em Gravataí.

Altivo, sem se envolver publicamente em (quase) nenhuma polêmica, vai feliz dar suas aulas de toda semana na escola estadual Carlos Bina, próxima a sua casa, no Parque dos Anjos.

As únicas entrevistas que deu até agora foram em momentos praticamente obrigatórios. Uma logo após a eleição e outra quando o TSE validou seus votos e, minutos depois, o Seguinte: já bateu à sua porta ouvindo-o em primeira mão como, naquele momento, prefeito eleito.

 

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Quando sete horas depois o STJ decretou o trânsito em julgado da condenação que suspende seus direitos políticos, o mais votado nas urnas, com 45.374 votos, novamente se recolheu a sua rotina de professor de História.

 

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Dois motivos parecem claros a qualquer analista que entende um pouco da mais antiga das profissões, a política.

Nem pela memória privilegiada, mas por ter vivido, participado e influenciado na vida pública da aldeia nas últimas três décadas, Bordignon sabe que, se assumir o governo, ou seu partido permanecer na Prefeitura com o vice Cláudio Ávila, é preciso compor.

Seu PDT viu eleitos apenas três vereadores num universo de 21 onde, para facilitar um pouco a conversa futura, 11 são oposição ao atual governo, de Marco Alba (PMDB).

Bordignon já fez isso em seus dois mandatos (1997-2004). Compôs bases políticas fortes, arranjando sem aparecer acordos pluripartidários para a Presidência da Câmara, que sinalizavam a abertura do diálogo com outras forças políticas.

– Recebia a todos os vereadores que vinham ao meu gabinete. Quando algum chegava, parava qualquer reunião para recebê-lo. Um vereador é o representante de toda uma comunidade – costuma repetir, mais ou menos nestas palavras, em bate-papos que adora travar sobre seus governos e jeitos de fazer política.

Aos mais boquiabertos de hoje, é preciso lembrar que Bordignon costurou alianças tão improváveis quanto sua aproximação com Cláudio Ávila, algoz do impeachment da prefeita Rita Sanco e o avião nas torres gêmeas da dinastia de quase 20 anos e quatro governos do PT em Gravataí.

A história grava que Bordignon atraiu para o primeiro governo o PDT, que tinha sido seu principal adversário na eleição, com José Mota. Algo como o PMDB – sem Marco, porque Mota saltou da carroça – participar de um futuro governo.

E, no segundo mandato, trouxe para os cargos da administração municipal o PSB, que também tinha sido adversário na eleição – novamente com Mota que, outra vez, preferiu arrastar suas sandálias para outras paragens.

 

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O outro motivo para Bordignon encarnar o bom moço é que ele adora ser prefeito e quer fazer um bom governo. Os mais próximos tem fé e mesmo os adversários sabem que ali está um obcecado por tentar fazer as coisas acontecerem. Ainda mais após o calvário de concorrer em três eleições sob impugnação.

Contrariando muitas expectativas do meio político, que conhece mais que o eleitor o temperamento de Bordignon, é provável que, ao lado da bandeira branca de Gravataí, uma imaginária bandeira da paz também tremule na sacada da Prefeitura, caso em algum momento ele consiga tomar posse como prefeito.

Uma aposta fácil de ganhar é que – mesmo que com Bordignon a Prefeitura de Gravataí se torne o maior governo de esquerda no Rio Grande do Sul, ou o que restou dela, e o PDT tenha em Ciro Gomes o (pelo menos até agora) único nome ‘limpo’ desse campo para a disputa da Presidência da República – não será a aldeia transformada em um ‘bunker da resistência’.

Como na época em que participou das tratativas para a conquista da GM por Gravataí, e era constantemente atropelado por algumas das maiores lideranças do partido no estado pela contrariedade de petistas aos incentivos fiscais concedidos à montadora, Bordignon sabe muito bem entender o recado das urnas nas eleições municipais de todo país.

Ele vai cuidar da cidade, após todo esse mico que Gravataí está passando.

Sabe que, para dar andamento a coisas boas do atual governo, e conseguir pelo menos algumas das migalhas de Brasília que sobrarão aos municípios, não será prudente cavar uma trincheira contra o governo Michel Temer (PMDB).

(Com Sartori não é preciso se preocupar, porque pela inexistência, ninguém mais conta com um governo estadual que não consegue nem pagar salários).

Sonhasse sentar novamente na cadeira apenas por ideologia, Bordignon teria enfrentado os moinhos de vento como um Dom Quixote no PT. Não teria pago um custo pessoal, porque político não é mensurável sem o uso do “se”, como pagou deixando ao tempo o partido que fundou, liderou e foi ‘mito’ por mais de 30 anos.

É uma análise, que pode não acontecer. Até porque, por regra, na política as boas intenções diminuem na razão direta da aproximação do dia da posse.

 

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