Água gelada para um calorão de quase 30 graus na tarde desta quarta-feira, 1º de janeiro de 2025, e cerca de uma dezena de servidores que guardavam os próprios da Prefeitura, esperavam pelo novo prefeito de Viamão, Rafael Bortoletti, que pouco antes havia sido empossado como primeiro mandatário do município em concorrida solenidade realizada no Plenário Tapir Rocha, da Câmara de Vereadores. E foi só! Bortoletti atravessou a avenida Coronel Marcos de Andrade, na Praça Júlio de Castilhos, já sabendo o que lhe esperava no gabinete que vai ocupar pelos próximos quatro anos. No lugar de uma transmissão de cargo, como recomendam os bons modos ensinados de pai para filho, ainda mais entre correligionários (ambos do PSDB) em se tratando de ato político, Bortoletti encontrou uma sala vazia.
O ex-prefeito Nilton Magalhães ignorou a liturgia do cargo, deu as costas e ninguém sabe, ninguém viu, para onde foi sem entregar as chaves da Prefeitura ao sucessor, ou seja, sem lhe apertar a mão após ambos assinarem, protocolarmente e entre sorrisos, a ata de transmissão de cargo. Repetiu o gesto de André Pacheco, prefeito então afastado da função pelo Ministério Público, acusado de ilicitudes administrativas, e que havia retornado ao comando do município nos últimos dias de dezembro de 2020. No começo de janeiro de 2021, não compareceu ao ato solene e nem fez a transmissão de cargo ao seu sucessor, o atual deputado estadual Professor Valdir Bonatto (PSDB). Ao contrário de agora, quando a cordialidade tinha um sabor de café frio, Pacheco e Bonatto não nutriam simpatias mútuas e não poderiam ser convidados, jamais, para sentarem-se à mesma mesa.
“Não me surpreende nada”, disse Bortoletti, de forma comedida, ao Seguinte:/Diário de Viamão, quando questionado se a atitude de Magalhães lhe causava, pelo menos, estranheza. Vida que segue. Entre centenas de pedidos de fotos, apertos de mãos e tapinhas nas costas, ainda na Câmara, o novo prefeito parecia mais preocupado em convocar o secretariado para a primeira reunião geral, às 7h desta quinta-feira, dia 2 de janeiro. “Vamos começar a trabalhar com determinação para atender o que a nossa população necessita e está pedindo. Vamos mudar Viamão”, reforçou, uma referência à bandeira da campanha que lhe rendeu quase 50 mil votos em 6 de outubro, o equivalente a 48,49% dos votos válidos e mais de 15 mil de diferença sobre o segundo colocado, Guto Lopes, que concorreu pelo PDT.
Antes, Bortoletti e seu vice, Maninho Fauri, assistiram à posse dos 21 vereadores – 16 deles da base governista – junto com familiares. O prefeito ladeado pelos pais, Ênio e Rosângela Bortoletti. O vice, inicialmente com a mãe, Volmira, e depois também com a companhia da esposa Cristiane e da filha, Martina. Cada um dos vereadores teve espaço de fala na tribuna do Legislativo, e com uma ou duas exceções oposicionistas, todos desejaram boa sorte aos novos mandatários, apelaram para que cumpram a promessa de mudar Viamão e recomendaram atenção às principais necessidades da comunidade, como infraestrutura viária, educação, saúde e segurança, entre outras demandas. Depois de prestarem juramento, foi a vez dos novos governantes de Viamão se manifestarem, já como prefeito e vice empossados.
Fauri abriu os trabalhos. Lembrou da experiência adquirida ao longo de mais de 20 anos de vida pública, com três mandatos de vereador na Câmara de Viamão, sendo que em uma das eleições conquistou o recorde, ainda a ser quebrado, de candidato mais votado, com 3.146 votos. Foi duas vezes candidato a deputado estadual e concorreu uma vez a prefeito municipal. “Mas foi agora, ao lado do Rafael (Bortoletti, candidato majoritário) que conquistamos os 49.914 votos que nos dão a legitimidade para assumirmos a Prefeitura e trabalharmos para fazer as mudanças que as pessoas precisam”, disse Maninho Fauri, num discurso de improviso, antes de reafirmar o compromisso de desenvolver a cidade. E brincou, falando sério: “A caneta estará com o Rafael, mas quero contribuir em cada passo para o bem-estar da nossa comunidade”.
Já o prefeito Rafael Bortoletti fez um discurso focado em um tema no qual bate com frequência: a necessidade de zelar pelos munícipes. “O destino me conduziu para cuidar das mais de 220 mil pessoas da nossa comunidade, e vou honrar com o compromisso que assumi e que levou à eleição da nossa chapa em outubro”, afirmou.
O DISCURSO
Confira o discurso de Bortoletti logo após ter sido empossado prefeito municipal de Viamão.
“Eu acredito que todo mundo nessa vida tem uma missão. O médico, o professor, o policial. Nada acontece por acaso. Todas as nossas decisões, nossos momentos bons e ruins, todos os encontros, todas as despedidas, nos levam no caminho dessa missão.
No caso da política é um pouco diferente. Não se trata só do meu caminho. Não é sobre os ensinamentos que minha família me deu. Não é sobre a minha indignação com o sistema de saúde que me levou a querer entrar na política. Não é sobre o dia que assumi o compromisso de concorrer a prefeito da cidade.
É sobre como todos os nossos caminhos se cruzaram e trouxeram todos nós até aqui. E quando eu digo nós, eu falo de quem votou nessa chapa, em quem escolheu outro candidato e até mesmo aqueles que não compareceram às urnas. Todos nós, viamonenses. Eu jamais imaginei estar aqui. Mas o destino conduziu a minha caminhada para cuidar da mais de 220 mil pessoas que chamam Viamão de lar. E vou honrar esse compromisso.
Durante a nossa campanha, a palavra que mais falamos foi mudança. Não é fácil dizer isso, fazendo parte de um projeto que já existe. Mas eu acredito que a mudança não acontece somente na ruptura. Ela nasce na esperança, na resiliência e no trabalho. O povo viamonense reconheceu os avanços, mas quer mais. O viamonense já sente orgulho da cidade, mas sabe que podemos ir além. Não basta apenas a continuidade.
Ele quer que o ritmo de pavimentação continue, mas também espera a chegada de grandes empresas que gerem empregos. Quer saúde pública eficiente e lazer de qualidade. Quer uma educação inclusiva e atenta às necessidades, como o cuidado com os autistas. Deseja uma gestão conectada com as pessoas, transparente, que dê respostas rápidas e Viamão a um novo patamar.
O recado é claro: o povo não quer mais uma Viamão atrasada e precária. Quer uma cidade moderna, desenvolvida, que cuide de sua gente, ofereça emprego, crie oportunidades e acolha a todos. É para isso que fomos eleitos. E estamos preparados para esta missão: eu, Maninho e todos os que hoje assumem esse compromisso. Viamão vai acelerar. Viamão vai crescer, e nós, todos nós, vamos construir uma cidade muito melhor para se viver!
(…)
Eu quero encerrar meu discurso falando com umas das pessoas mais importantes da minha vida, da minha maior saudade, e que eu tenho certeza que está nos olhando aqui, hoje. Vó, eu nunca esqueci dos teus ensinamentos. Do teu jeito de sempre querer ajudar os outros. Do que tu me disse, que o que vale na vida não é o dinheiro, mas sim quem a gente é e os amigos que a gente faz.
E tu pode ter certeza que eu vou carregar esses ensinamentos todos os dias comigo. Muito obrigado!”
