Assustou o prefeito a possibilidade de Cachoeirinha perder três companhias para o Pólo Integrado da Química RS, localizado entre Montenegro e Triunfo.
Miki Breier encarregou o secretário do Planejamento Elvis Valcarengui de procurar a Crivella, a Quimicapar e a Tecpon para tentar reverter a adesão nesta segunda ao protocolo de intenções de transferência de operação para a nova área, a partir de 2021.
Junto a outras quatro empresas de Porto Alegre e Campo Bom, a projeção do Sindicato das Indústrias Químicas do Rio Grande do Sul (Sindiquim) é de um investimento de R$ 200 milhões nesta etapa.
– Empresas já saíram em troca de incentivos e depois voltaram porque, em escala, perdiam dinheiro. A logística de Cachoeirinha é melhor – alertou Miki Breier, há minutos, ao Seguinte:.
O prefeito não entrará em uma guerra fiscal com Montenegro, onde o prefeito Kadu Müller já oferece auxílio na terraplenagem e vai enviar à Câmara um projeto de incentivos tributários para atrair empresas.
– A guerra fiscal é extremamente predatória aos municípios. Não vamos ceder a barganhas. Nem temos condições. Como ajudar uma empresa e não todas as outras? – argumenta Miki, diferenciando o caso da atração da GM para Gravataí, quando era o vice-prefeito.
– O retorno era inquestionável – resume, dizendo ainda aguardar um estudo sobre os impactos na receita municipal e empregos gerados pelas três empresas em Cachoeirinha.
O Polo Integrado está há dois anos no papel. As sete empresas que assinaram o protocolo de intenção de instalação neste setembro ocuparão uma área de 700 hectares. O terreno pertence ao governo do Estado e fica próximo do pólo petroquímico de Triunfo.
Conforme reportagem de Fernando Soares, em ZH, os lotes serão negociados para as empresas químicas ao custo aproximado de R$ 40 mil o hectare. Toda a estrutura de água, luz, saneamento, fibra ótica e pavimentação de vias foi feita pelo Estado. Na primeira fase de implantação são oferecidos 27 lotes, que vão de 4 mil a 71 mil metros quadrados.
– Após estas fábricas de cosméticos, artigos de limpeza, tintas e saneantes, há intenção de posteriormente abrir espaço para a indústria do plástico – disse à ZH Newton Battastini, presidente do Sindiquim gaúcho, que defende o Polo como atrativo “principalmente para pequenas e médias empresas que querem ampliar a estrutura”.
Ao jornalista, o diretor da Crivella, empresa que fabrica produtos de higiene no Distrito Industrial de Cachoeirinha, disse que pretende ampliar a área de produção.
– Pretendemos ir para o pólo para ficarmos centralizados com outras empreas do setor e ao lado do pólo petroquímico – explicou Iberê Costa, cuja empresa sairá de uma área de 10 mil metros quadrados para um espaço de 30 mil metros quadrados entre a RS-124 e a BR-386.
Caso o negócio se confirme, só na Crivella, serão 60 empregos perdidos em Cachoeirinha.
Moda dos anos 90, a guerra fiscal provoca um prejuízo de R$ 100 bilhões por ano no Brasil, com renúncia fiscal provocada pelos cinco principais tributos (PIS, Cofins, ICMS, IPI e ISS), conforme o economista Bernard Appy, do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF). No RS, Gravataí é o ‘vilão da história’, já que, como já tratei em 2017 no artigo O dia em que a GM escolheu Gravataí e na seqüente série sobre os 20 anos do anuncia da GM, o município ganhou a guerra fiscal oferecendo nada e recebendo tudo.
Na última barganha dos norte-americanos, em 1997, Gravataí ofereceu 30 anos de isenção de IPTU, cinco a mais que Eldorado. Até aquele ano, pré-Plano Diretor, o imposto era o ITR, por ser uma área rural, e não custava mais de R$ 1 por hectare. A cada ano, pouco mais de R$ 50 mil eram arrecadados. Isentou também o ISSQN da obra, que não chegou a R$ 100 mil. Além de batizar de Avenida GM o acesso ao complexo automotivo que inauguraria em 19 de julho de 2000.
Já no combo dos polpudos incentivos oferecidos pelo governador Antônio Britto à época, as estimativas eram de que o contrato, até hoje aplaudido por muitos e contestado por tantos, chegaria a um investimento de 600 milhões de dólares. Contrário ao negócio, estudo da bancada do PT aponta perdas três vezes maiores para os cofres do Estado, além dos empregos não chegarem à metade dos 100 mil estimados em 97.
– Incontestável que para Gravataí foi um grande negócio – resume Bordignon, que à época, ameaçado até de expulsão, virou o malvado favorito no partido e nas esquerdas gaudérias.
Para efeitos de comparação, sem falar nos R$ 300 milhões que, mesmo em crise, a GM direciona para o Orçamento de Gravataí ano passado, dos empregos gerados até 2016, mais de 8 mil foram registrados no município.
Ao fim, como diz o CEO no jatinho, “there is no free lunch”. Não há almoço de graça, seja para uma empresa média no Distrito Industrial de Cachoeirinha, ou para os 497 municípios gaúchos que pagam a conta para Gravataí passar bem com a GM.
Por isso, não culpo Miki caso empresas químicas pioneteiem.