A Prefeitura de Cachoeirinha retirou o alerta para evacuação preventiva, emitido para 10 bairros inundados na enchente de maio, mas a sexta-feira fez a água bater no pescoço dos políticos.
Antes da análise, vamos às informações.
A água já foi drenada da região da casa de bombas da João Pessoa, onde as seis bombas não estavam funcionando; leia em Com casa de bombas em colapso, Cachoeirinha emite alerta de evacuação preventiva para 25 mil pessoas.
– O nível do Rio Gravataí não chegou à cota de inundação e acreditamos que entre em declínio nas próximas horas. Os arroios também baixaram. Retiramos o alerta preventivo para evacuação, mas mantemos a atenção e o monitoramento, já que a chuva deve voltar e prosseguir até quarta-feira – explicou ao Seguinte:, na manhã deste sábado, o coordenador da Defesa Civil, Vanderlei Marcos.
A água foi drenada com uso de uma bomba cedida por arrozeiro e outra pela Corsan. A Prefeitura aguarda para as próximas horas a chegada de mais duas locadas e outra cedida por empresário.
– Ficaremos com o bombeamento completo – disse, referindo-se a alternativa emergencial enquanto as seis bombas da casa da João Pessoa não são colocadas em funcionamento.
Vamos então para algo que emerge no pós-enchente: a antipolítica. Com a colaboração dos políticos.
Ontem, em programas populares da TV, o prefeito Cristian Wasem (MDB) foi alvo de críticas de moradores, que beiravam os xingamentos, pela suposta inoperância em, após 50 dias, não garantir o funcionamento da casa de bombas.
Já o vereador David Almansa (PT), seu principal oposicionista e adversário na eleição deste ano, foi vaiado e optou por ir embora da área de alagamento ao ser cobrado por estar ali supostamente “fazendo campanha”, como mostram vídeos que circularam pelas redes sociais.
Vanderlei Marcos, da Defesa Civil, apesar de também ouvir ‘elogios’, já garantiu uma espécie de salvo conduto, porque está por quase dois meses na linha de frente, com peito na água e pé no barro, como um escudo do prefeito, e as pessoas identificam isso.
Pesquisas feitas por governos e candidatos também tem mostrado o mau-humor do eleitorado gaúcho no pós-enchente.
Afogados em suas campanhas eleitorais permanentes e incapazes de sentar juntos à mesa, ou mesmo de se cumprimentarem, governo e oposição, municipal, estadual e federal, alimentam as narrativas de que o culpado é o outro, enquanto não conseguem demonstrar para a população onde está indo o dinheiro para o pós-enchente e menos ainda entregar a tranqüilidade de que tem projetos possíveis para mitigar catástrofes futuras.
Resta entre os inundados, invariavelmente ‘os pobres de sempre’, e, em Cachoeirinha, alguns remediados, além daqueles que só sentem a água pelos teclados dos celulares, a percepção de que os políticos não estão fazendo nada.
É o tal “povo pelo povo”.
Nesta noite de terror psicológico para moradores sob risco de nova inundação em Cachoeirinha, reputo o prefeito Cristian colaborou para esse dilúvio da antipolítica.
O único post que fez no Instagram sobre a crise de ontem foi compartilhamento de reels do empresário Gilvani Oglio, o Gringo, que informava ter recebido apelo do prefeito para ceder bombas em Cachoeirinha, e repetia o slogan do “povo pelo povo”.
Aos desavisados, sem um pronunciamento mais claro sobre o que a Prefeitura fez para enfrentar a crise, ficou parecendo que foi isso que resolveu o alagamento. Só que a água foi drenada antes de bombas do Gringo entrarem em funcionamento, conforme a Prefeitura.
Nada contra, tudo a favor do voluntariado. Mas o “povo pelo povo” é uma ideia insustentável, ao menos no prazo necessário para que se enfrente a crise climática com soluções e não apenas socorros emergenciais a cada chuva.
É preciso governo, não se iludam. Impostos são pagos para isso. O povo precisa trabalhar, viver e não salvar incompetências.