Cachoeirinha ultrapassou a incidência de infectados por 100 mil habitantes de Porto Alegre, epicentro da COVID-19. O governo, apesar de confirmar preocupação, credita a explosão de casos à maior testagem dos últimos dias e considera o cenário “controlado”, principalmente pelos recuperados chegarem a 42, ou 72%. Sem torcida ou secação, mas analiso que a ‘ideologia dos números’ recomenda cautela para evitar algo pior.
O município tem hoje uma taxa 46.4 casos a cada 100 mil habitantes. Porto Alegre, 40.7. Para efeitos de comparação, Gravataí tem 14.2. A tese da maior testagem é confirmada. Cachoeirinha testou 451 pessoas, ou 0,3% dos 130 mil habitantes, e registra 58 casos. Gravataí, com 40 casos, não informou o número exato, mas não testou mais de 300, ou 0,1% dos 281 mil habitantes, conforme cálculo que faço tomando por base os casos descartados. Se testasse os mesmos 0,3%, seriam 843 testes e, aplicando a proporção, 112 infectados.
O dado perigoso, e que serve de alerta, é extraído de uma boa estatística: 42 pacientes, ou 72%, já estão recuperados. Como a testagem foi ampliada – do protocolo inicial, de casos mais graves, para pacientes com sintomas gripais (inclusive identificados a partir de contatos pelo APP de telemedicina da Prefeitura), além de pessoas que tiveram contato com infectados e comunidade em geral em testes rápidos – resultados mostraram pessoas já com anticorpos.
Ou seja, ‘curadas’ sem nem saber que tinham sido contaminadas. Porém, correspondem à categoria dos ‘assintomáticos’, que, conforme pesquisa da Science, uma das mais importantes revistas especializadas do mundo, responsáveis por 8 a cada 10 contágios.
Sempre lembro que o Brasil aparece em estudo da Imperial College, de Londres, com uma das maiores taxas de contágio do mundo: 1 infectado contamina 3. Nos EUA, epicentro mundial, é 1 para 1.5; na Alemanha, 1 para 1.
O alerta – e, no mapa do distanciamento controlado do Governo do RS, Cachoeirinha está na bandeira laranja, de risco médio – é que esse conjunto de informações aponta para um potencial contingente de outros infectados circulando pelas ruas sem sintomas da doença.
Não é um ‘fenômeno’ local, mas que merece atenção em Cachoeirinha pela densidade demográfica. Ou 'mais pessoas em menos espaço'. São 130 mil habitantes em apenas 42 quilômetros quadrados. Gravataí tem 281 mil habitantes em 463,758 km².
Para pesar na cor laranja da bandeira, o último boletim epidemiológico confirmou 23 casos somente nesta terça. Maio, nos primeiros 19 dias, registra 70%, ou 7 a cada 10 dos casos. São 40, das 58 confirmações de infecção pelo SARS-CoV-2. E os números atuais ainda não influenciam na conta da reabertura das atividades comerciais, industriais, de serviços e administração pública, no dia 4, devido à média de 14 dias de incubação do vírus.
As falas, em live nesta quarta-feira, foram corretas, pela prudência. A Prefeitura está cumprindo seu papel. Tem dado transparência aos dados, mas é natural que governantes tentem evitar o pânico da população.
– Não podemos relaxar. É preciso usar máscaras, cuidar a higiene e cumprir as regras sanitárias e de operação das atividades econômicas – disse o prefeito Miki Breier, aliviado por Cachoeirinha não ter nenhum óbito confirmados como consequência da COVID-19.
– O cuidado precisa ser de todos. Muita gente pode ter, não saber e contaminar um idoso, uma pessoa com comorbidade, e ter consequências piores – disse o vice-prefeito Maurício Medeiros, que está nas estatísticas dos recuperados da COVID-19.
– As poucas internações mostram que as atitudes corretas estão sendo tomadas – disse o secretário da Saúde Dyego Matielo, comemorando a alta da primeira paciente do ‘hospital de campanha’, que já atende com a estrutura completa de 8 UTIs com respiradores, em 60 leitos, para suportar dias piores e garantir a bandeira laranja.
Ao fim, a bandeira laranja está no meio, entre a verde e a amarela, e a vermelha e a preta. ‘Risco médio’ ainda recomenda muito cuidado. O governo sabe, e assim tem agido. Estranho seria se fosse diferente, já que das três pessoas que participaram da live uma já teve a COVID-19.
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