Cachoeirinha aderiu ao uso facultativo de máscaras também em ambientes fechados. Segue o uso obrigatório em serviços de atendimento em saúde, para os servidores, trabalhadores, pacientes, acompanhantes e visitantes, bem como no transporte coletivo, para os trabalhadores e usuários.
Já opinei sobre a polêmica sexta, em Por que não tirar a máscara; Gravataí e Porto Alegre liberaram, Cachoeirinha não, quando se você pegasse um uber em Gravataí poderia estar sem máscara, era preciso botar em Cachoeirinha e poderia retirar em Porto Alegre.
Semana passada, quando máscaras ao ar livre se tornaram facultativas, em Gravataí e Cachoeirinha vão tirar a máscara como Porto Alegre; É debate para o momento? O que governo e oposição querem ’vender’? O chato já alertei para o que reputo um mau sinal, quando ainda há riscos, principalmente para muita gente ainda vulnerável à covid e suas variáveis.
Uso como exemplo dados de Gravataí.
A ‘ideologia dos números’ mostra que a média móvel dos últimos 10 dias é de mais de 110 casos a cada 24h. São quase 5 por hora. Menor que os 10/h de janeiro, mas maior que os 4/h de fevereiro.
A média de vidas perdidas nos últimos 10 dias é de 1,1 por dia; a mesma de janeiro e fevereiro, mas maior do que o período entre setembro e dezembro, 0.5/dia.
Nesta sexta a pandemia, que começou em março de 2020, soma oficialmente 34.917 casos e 1.038 mortes.
Isso é bom ou ruim?
Bom, perto da tragédia que aconteceria caso não tivéssemos 9 a cada 10 adultos vacinados. Mas ainda não permite comparar a covid com ‘gripezinha’. O número de óbitos ainda é 5 vezes maior do que a H1N1, por exemplo.
Seguindo nesta média chegaremos ao fim de 2022 com quase 1.400 mortes.
É menos da metade do que os 3 mil que teríamos se tivéssemos os números do pico da pandemia, entre março e abril do ano passado, quando seis gravataienses morriam a cada 24h devido a complicações da covid.
Mas são 300 pessoas que vão morrer; uma vida por dia. A média da gripe é de um óbito por semana.
Para quem não sabe ainda, a vacina tornou a ômicron mais leve, mas, mesmo com dose de reforço, um idoso tem a mesma proteção que um adulto de 40 sem nenhuma vacina.
São esses idosos, e outras pessoas com comorbidades, que seguem alvo da letalidade da covid.
Pelo meu controle dos casos, quase 9 a cada 10 dos óbitos de 2022 são de pessoas acima dos 60 anos; e com algum tipo de comorbidade, nem que seja a comum hipertensão.
É esse o grupo de risco. É esse o grupo que, posso apostar, receberá a retirada das máscaras como um comunicado de que a pandemia acabou – observem nas ruas.
– Para várias pessoas, como idosos e imunossuprimidos, ainda é fundamental o uso de máscaras em qualquer ambiente, mas sobretudo nos ambientes internos –apelou hoje, em GZH, o infectologista Alexandre Zavascki, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos especialistas consultados pela Prefeitura de Porto Alegre antes da liberação das máscaras.
Preocupa-me também a recente variante asiática e a nova onda que parece assolar a Europa.
Nos principais países europeus, após dois meses de queda voltaram a subir os casos, internações e mortes nas duas últimas semanas.
O Reino Unido, que retirou a obrigatoriedade de máscaras a partir de fevereiro, é um dos que registra maior avanço da covid. Será coincidência?
Não seria melhor esperar um pouco mais para tirar as máscaras?
Inegável é que a máscara representa a proteção mais simples e efetiva para evitar o contágio.
Como analisei em As mensagens atravessadas do ’bota máscara, tira máscara’; Média em Gravataí é de uma vida perdida por dia, e especialistas citados no artigo também alertam, o preocupante é a mensagem que emula o ‘bota máscara, tira a máscara’.
Como não sou negacionista, se os técnicos e cientistas ajudaram os políticos a tirar as máscaras, resta-me aceitar.
Já na análise do Zeitgeist, o ‘espírito do tempo’, permito-me opinar. Qual o ganho? Sabemos todos que aqueles sem máscara na rua não são punidos, mas é perceptível que o uso por alguns incentiva os cuidados em outros.
Minha única certeza é que, com ou sem decretos de governos, vou seguir uma cultura dos países asiáticos que, pela experiência com endemias, usam máscara no dia-a-dia.
Se a ideia é botar no intervalo do Big Brother que a pandemia acabou, os óbitos por todas as causas, inclusive covid, em fevereiro de 2022 chegaram a 125 mil, virtualmente empatando com os 126 mil de fevereiro de 2021.
Conclui assim artigos anteriores: “… chato como um Dr. Stockmann, em Um Inimigo do Povo, de Ibsen, mais uma vez associo-me ao cientista Miguel Nicolelis, brasileiro com incontestáveis acertos nos alertas que fez para as sequentes ondas de uma imprevisível pandemia: a maioria dos políticos e da imprensa tenta convencer que a normalidade voltou, mas a realidade não os obedece…”.
Após a decisão de São Paulo de retirar obrigatoriedade de máscaras, achei outra ‘chata’. A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo.
– Ainda não é hora. É precipitado quando a doença cresce na Europa e Ásia e logo o Brasil pode ter infectados pela nova variante deltacrom – alerta aquela que é uma das cientistas mais respeitadas do Brasil.
Que o anúncio de hoje, comemorado pelos políticos e parte da mídia, não seja o necessário recuo de amanhã.
Torço que não.
Protegido e protegendo, com máscara, em ambientes abertos ou fechados.
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