e agora?

Caixa de inquietudes

Dia desses estava conferindo o que havia dentro de duas caixas oriundas de minha última mudança – lá se vão quase dois anos. Encontrei álbuns de fotografias, com imagens captadas por mim, antes do surgimento das máquinas digitais.

Em sua maioria, estampam paisagens de lugares por onde andei. Olhei atentamente e percebi não só montanhas, rios, árvores, flores, parques e tantos outros cantos e recantos, mas também pessoas. Gente que nunca vi, nem sei o nome. Falta nitidez às figuras retratadas. Evidenciam que eram apenas figurantes, flagrados indefesos e sem intencionalidade, no lugar que eu queria fotografar.

Quem seriam eles? Onde andarão? Será que por algum acaso do destino eu encontrarei algum? E se isso acontecer reconheceria? Sou uma estranha para eles. Para mim, nem tanto! Não sabem, mas estão em minha casa. Fazem parte da minha história.

Noutra caixa estavam fotos de eventos em que participei. Pessoas conhecidas lá estão. Ainda as encontro pelos caminhos da vida.  Outras não. Também nessas fotografias não apareço. Estava atrás das lentes. Não sou fotógrafa, apenas queria, para além da memória (ela pode falhar!), gravar no papel que estive presente, que vi e vivi alguns momentos ímpares em minha jornada neste mundo.

De repente constatei que os dois recipientes se tornaram caixas fartas de inquietudes. Cópias sem qualidade técnica ou artística ocupando espaço físico e simbólico. Era tempo de tomar atitude. Dispensar todo ou parte do conteúdo?

Percebi que, em seu ritmo, o passado vai tomando seu lugar e permitindo o surgimento de outras imagens. Sempre cabe outro ângulo, outro traço, outro gesto para esculpir a nova vida que se impõe no tempo presente.

Não preciso mais da fotografia impressa. Ela cabe no mundo digital. Como nasci na era analógica, ainda não consegui me desfazer dos álbuns de fotografias. O que fazer?

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