Ex- comandante do Bem-Estar Animal de Canoas foi alvo de operação da Polícia Civil que a investiga por mortes de cães e gatos. Ela se defende
Foi a “bomba” do dia — e olhe que, em se tratando de Canoas, as bombas são quase rotina.
Antes das 7h, a Polícia Civil já estava na sede da Secretaria do Bem-Estar Animal, na Avenida Boqueirão, e em mais dois endereços em Porto Alegre e Arroio dos Ratos ligados à ex-secretária da pasta, Paula Lopes. Ela é investigada desde abril depois que uma denúncia levada às autoridades levantou suspeitas sobre o número de mortes de cães e gatos, principalmente, praticados por meio de eutanásia.
A prática é autorizada em meio veterinário quando o tratamento para uma determinada doença submete o animal a maior sofrimento dos que a própria morte. Não é, no entanto, admitida como forma de controle populacional ou para “livrar-se” dos indesejados. Quando é esse o caso, deixa de ser eutanásia e passa a tratar-se de um crime — um crime abjeto.
Segundo a Polícia Civil, 239 animais foram eutanasiados em Canoas e estão em investigação. Nesta quinta, quando estiveram no Bem-Estar Animal, os agentes encontraram 14 carcaças congeladas e obtiveram a informação de aos menos duas vezes por semana, às terças e quintas, os corpos eram coletados para incineração em uma universidade local.
Num sítio de uma parente de Paula em Arroio dos Ratos, a Polícia encontrou uma enorme quantidade de remédios de uso veterinário — mais de mil frascos. A suspeita é de que eram usados para o abate dos animais, mas isso ainda precisa ser esclarecido. A Polícia também quer saber de onde esses medicamentos foram tirados e se, eventualmente, foram desviados do Bem-Estar Animal de Canoas.
Importante dizer, aqui, que é a conduta da ex-secretária que está sendo investigada, não o governo; até o momento, não houveram indícios de que a eutanásia em larga escala tenha sido adotada como política pública.
Aliás, sobre isso, o prefeito Airton Souza publicou em suas redes sociais uma nota pública revelando que convidou Paula Lopes para ocupar a pasta, em janeiro deste ano, por seu histórico como protetora e que, assim como seus milhares de seguidores, está impactado com a notícia da investigação. Ele garante que o episódio servirá de aprendizado e reforçou o compromisso com a causa animal.
Além disso, escalou o procurador-geral de Canoas, Éber Bündchen, para acompanhar o caso na fase policial.
Na Câmara, uma comissão especial para acompanhar o caso também foi aberta a pedido de todos os 21 vereadores. Será presidida por Cris Moraes (PV), representante da causa animal no parlamento canoense.
Ainda perto do final da manhã, Paula postou um vídeo no Instagram dizendo que está bem e que seu celular foi entregue à investigação. Ela afirma que não cometeu crime algum e imputa à política a denúncia contra si. Disse que nos próximos dias iria esclarecer mais a respeito da situação.
A se confirmarem os fatos, é de dar nojo. Os cães e gatos abrigados no Bem-Estar Animal, em parte, ainda são os resgatados da enchente. São animais que a sociedade não vê, que esqueceu — mas que tem o direito a vida tanto quanto o ‘pet’ dos casarões do Bela Vista ou Moinhos de Vento. Estão lá porque é nosso dever como sociedade poupá-los das ruas e, a medida do possível, encontrar um novo lar onde possam ser amados e cuidados.
Não são corpos dispensáveis.
Não são lixo para serem incinerados por quilo.
Não são um estorvo.