Mesmo com 'ajuda' do governo e leilão de terreno no Centro, empresa de ônibus não consegue honrar pagamentos e nova greve está por vir
Cobrador de ônibus há seis anos, Antônio – que pede para não ter o nome verdadeiro revelado – franze a testa quando perguntado sobre a Sogal, a empresa que lhe dá o emprego, mas atrasa salários e até a pensão dos filhos. "Não sei", resume. "Tá bem difícil. A gente precisa ser grato pelo trabalho que tem, mas estão mexendo com os filhos da gente".
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Antônio é pai de dois menos, um com nove e outro de seis anos de idade. Quando arrumou o emprego de cobrador na Sogal, garantiu para eles 30% de seu ordenado. "É pouco, eu sei, mas é o que dá para pagar", diz, disfarçando o constrangimento de quem leva uma vida difícil. O 'engorde' das horas extras está pendurado desde o ano passado, quando pandemia correu um monte de passageiros das roletas. E a parte 'dos piás' no ordenado do mês – que para Antônio é sagrado – a empresa está descontado e não repassa para família. "Assim não dá", reclama. "Eu alcanço um dinheiro para eles por fora, mas o certo é aquele que a empresa desconta".
Segundo ele, a pensão dos filhos foi descontada regularmente do 13º e do salário recebido em janeiro, referente ao mês trabalhado em dezembro. Os valores, no entanto, ainda não chegaram à conta da ex-companheira de Antônio, que tem sido paciente com o pai de seus filhos. "Mas se ela quisesse, me complicava. E por algo que eu já paguei", afirma.
Demitidos ainda esperam
Semana passada, o leiloeiro Marcelo Cemin informou ao juiz Luiz Fernando Bohn Henzel a venda pelo melhor lance de um terreno pertencente à Sogal no Centro de Canoas. Rendeu R$ 1,3 milhão. O dinheiro que se pensava iria para quitar os acordos de demissão feito no ano passado terá de ser dividido com outras obrigações trabalhistas da empresa – inclusive o FGTS, que também está atrasado.
Só depois de um cálculo apontado pelo juiz é que cada trabalhador demitido saberá quanto poderá receber. O temor geral é que mesmo uma venda milionária dessas acabe por não quitar os valores de dezembro e janeiro, que está prestes a vencer, no dia 30.
Poucas explicações
E as pensões? Antônio conta que já procurou a empresa e só houve que estão providenciando, que a roleta não tem rendido o suficiente para os compromissos do mês e que assim que possível, os valores serão depositados.
A última esperança da família que depende do trabalho do pai para por comida na mesa e de tantos outros funcionários da empresa em situação equivalente parece ser uma nova greve. O movimento já é discutido em grupos de WhatsApp e conversas no pátio da garagem.
Quinta-feira, 28, estão programando um ato em frente aos portões da Sogal, de novo. Se motoristas e cobradores pararem, será a segunda vez em um mês que a cidade ficará sem ônibus nas ruas. E nas paradas, o povo aguarda uma solução para a interminável crise da Sogal enquanto espera um ônibus que pode não vir.
Outro lado
A Sogal tem sido regularmente procurada para se manifestar nas reportagens publicadas pelo blog, mas não retorna nossos contatos.