Transporte

CANOAS | A Sogal, a ’caixa-preta’ e a ’chincha curta’: em 20 dias de Junta Governativa, o que avançou

Sistema de transporte público em Canoas, hoje, tem o desafio de contornar a crise financeira e a pandemia ao mesmo tempo. Foto: Derli Colombo-PMC/Arquivo

Grupo criado em acordo judicial acompanha gestão em uma das mais tradicionais empresas da cidade, mas que arrasta-se em uma crise sem precendentes

Em 17 de março, Prefeitura, Sindicato dos Rodoviários e Sogal anunciaram um acordo judicial que instituia uma Junta Governativa para acompanhar a gestão da empresa. O plano é ajudar o transporte público a sair da UTI, que sofre não só com as sequelas de um ano de pandemia, mas também com a concorrência dos aplicativos e um sistema que, hoje, gera poucos resultados. Cada parte acertada indicou dois integrantes e pelo menos duas vezes por semana, o grupo vem se reunindo em uma sala dentro da sede da Sogal, na Avenida Armando Fajardo, com café, água gelada e ata para registrar tudo que é combinado.

 

LEIA MAIS

CANOAS | Todo final de mês é um novo ’Dia D’ na Sogal; pensões de março foram pagas no dia 30

CANOAS | Em áudio, presidente do Sindicato dos Rodoviário pede afastamento e demissão

 

A primeira informação sobre a Junta é a de que a direção da Sogal recebeu bem o trabalho que o grupo fará por lá. Vista como uma gestão 'fechada' e 'familiar', a abertura percebida agora pode ser encarada como um gesto para o entendimento. Sem transparência, o barco afunda – ou, no caso, o ônibus para. "Estamos avaliando as receitas da empresa, a despesa, a operação do dia a dia. A ideia é abrir a caixa-preta e dar transparência", comenta Lucas Lacerda, diretor de Transporte da Prefeitura e um dos integrantes do governo na Junta. "A direção da empresa tem colaborado conosco nesse sentido, sim".

Segundo a Sogal, a operação do transporte em Canoas é deficitária – ou seja, entra menos na roleta do que se gasta para pôr os ônibus na rua. Além da concorrência com os aplicativos, a Sogal viu o volume de passageiros minguar em mais de 70% com a chegada da pandemia conforme o relato informal de um dirigente da empresa. E, claro, há outros custos drenando o caixa da firma.

A Junta Governativa vem questionando, por exemplo, a compra de 18 ônibus semi-novos feita em novembro de 2018 ao preço de R$ 19,8 milhões. Hoje, todos estão parados no pátio. Por eles, a empresa paga um financiamento feito em 60 meses e com parcelas de cerca de R$ 200 mil. Para se ter uma ideia, são necessários mais de 43 mil passageiros pagantes só para quitar a parcela financiada do mês, gente suficiente para lotar quase mil ônibus.

Os veículos ficaram famosos ao se verem envolvidos em uma polêmica, na época, por terem sido apresentados como novos quando, na verdade, já tinham sido usados em vias rápidas na cidade do Rio de Janeiro. São ônibus maiores, com piso baixo e suspensão a ar, que garantem maior conforto em viagem. Além da manutenção mais cara e o consumo alto – fazem praticamente um quilômetro por litro de diesel enquanto um ônibus convencional pode fazer de 2,5 a três -, eles não se adequam ao uso durante o período de pandemia; equipados com ar-condicionado, não tem janelas que possam ser abertas para ventilação.

Preço do diesel, custos trabalhistas, manutenção e multas – só em março foram 88, segundo a Prefeitura, chegando ao valor de R$ 64,4 mil – pressionam o combalido caixa da Sogal. A empresa reduziu em cerca de 30% o número de funcionários de 2020 para cá, especialmente através de um Programa de Demissão Voluntária. O problema é que para quitação dos acordos, a Sogal precisa de fluxo de caixa – e é exatamente aí que parece estar o desequilíbrio. O número de passageiros transportados e o custo por quilômetro rodado estão no centro da discussão sobre a viabilidade do modelo de transporte que Canoas tem hoje. Mas nunca foram tratados de forma ampla e transparente. O gesto de boas-vindas da Sogal com a Junta Governativa precisa avançar: a relação de uma das mais tradicionais empresas da cidade com os cidadãos que usam seus serviços deve ser, no mímino, franca. 

A Junta Governativa ainda tem mais 70 dias para encontrar o buraco da bala e estancar a sangria – que, no caso, será apontar uma solução de transporte viável dentro da atual concessão ou propor uma nova, com ou sem a Sogal. 

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade