Mesmo sem Jairo Jorge presente, maioria do partido do prefeito apostará em Felipe Martini, como era o plano desde 2020. Márcio Freitas correu por fora e não pode mais ser desconsiderado
Ulysses Guimarães, o prócer do MDB, dizia que a política era como as nuvens: a gente olha, está de um jeito; olha de novo e está de outro. Pois parece que, em Canoas, as nuvens mexem-se mais do que pelas bandas do Planalto Central, onde o velho Ulysses marcou carreira e até promulgou uma Constituição.
Se perguntasse há duas semanas quem seria o candidato preferencial do governo a deputado estadual, emergiriam mais dúvidas do que certezas. Algo próprio da política, como das nuvens, no entanto, mudou. E o quadro, hoje, é mais sólido. De certa forma, retoma o que era uma certeza há meses atrás, antes da crise e da turbulência em que a Copa Livre transformou a política canoense.
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Felipe Martini, quatro meses após deixar o governo com planos de chegar à Assembleia e ‘ali, ali’ para ser indicado suplente da candidata ao Senado Ana Amélia Lemos, tem tudo para ser o ungido pelo grupo do PSD mais próximo a Jairo Jorge como candidato preferencial a deputado estadual. Não haverá pressão, porém: quem quiser, que vá com os seus. A bênção de Jairo Jorge ele já tinha, mas havia dúvidas de que a promessa do prefeito seria mantida. As queixas de que Martini não havia assumido a defesa do legado de JJ foram repetidas às matracas por aí – o que ele próprio admite, em conversa com o blog, mas fazendo questão de pontuar que, primeiro, era estratégico e, segundo, inoportuno. “A arena para defender o legado do Jairo é na eleição”, afirmou Martini, voltando de uma agenda extensa na noite de terça-feira, 19. “Qual o benefício de esticar esse assunto demais? Nem o Jairo iria querer isso. Ele deu aquela entrevista extraordinária à Gaúcha, mas no mais tem se mantido reservado”, comentou. “Qualquer movimento político que pareça afronta ao Judiciário não é oportuno”.
Márcio Freitas, que nada tinha a ver com a indefinição do PSD, cresceu por fora. Aproximou gente do governo e o ‘caldo engrossou’. Mobilizador e popular, defensor de Jairo ‘na vila’, não pode mais ser ignorado como ponta-de-lança da matriz política jairista. Quem Márcio já conquistou, fica com ele – inclusive, o prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques. É a política do ‘sem faca no pescoço’ que pode, ao fim e ao cabo, favorecer dissidências das trincheiras de Martini. Seria o suficiente para rachar ao meio a campanha do ex-secretário de Enfrentamento à Pandemia? Acredito que não.
No PSD, ainda reside o temor de que Márcio faça uma votação tamanha que o coloque em 2024 como postulante à prefeitura. Esse argumento reforça a importância de Martini buscar o eleitor identificado com Jairo para chamar de seu. Se vão se entender bem para isso? Não sei. De algum modo, Márcio e Martini terão de encontrar um meio de convivência pacífica se quiserem protagonizar uma eleição mais vitoriosa do que trágica para o projeto político que representam. Em tese, não correm a carreira sobre os mesmos votos – o que é alento; mas no calor da campanha…