Retomada das sessões já tem polêmica e pode encerrar período de portas fechadas no legislativo
O que esperar da Câmara de Canoas na abertura do ano legislativo? Polêmica, bastante discussão, uma separação clara entre governo e oposição e um, apenas um, independente – resumo.
Analiso.
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1.
As polêmicas virão
2021 será recheado de polêmicas – das sérias às alegóricas. É o ano do início da legislatura e mesmo que os vereadores tenham o tempo de praxe para as discussões, em uma Câmara com muitos estreantes, é normal que os assuntos se prolongem.
Além disso, o palacinho amarelo na Quinze de Janeiro está sob novo comando. Governos que começam precisam promover leis que ajudem a definir cara e corpo à gestão. Com Jairo Jorge (PSD) não será diferente. E, na prática, já é assim.
Em janeiro, o prefeito enviou ao legislativo pelo menos 11 projetos de lei. Como exemplos, cito o da reforma administrativa – que teve por objetivo mudar a hierarquia no governo e economizar R$ 17 milhões em salários em quatro anos – e o da 'moratória municipal' – que parcela dívidas da prefeitura com fornecedores vencidadas até dezembro do ano passado para garantir o fluxo de caixa no início do ano ainda sob os efeitos de retração econômica da pandemia de Covid-19.
Outros virão. E certamente, as polêmicas também.
Para a sessão de hoje, por exemplo, os vereadores devem discutir o ajuste à lei que permitiu o parcelamento da cota pratronal da Prefeitura ao CanoasPrev. O 'carnê', feito em 10 vezes, precisa ser registrado junto ao Governo Federal para que a cidade mantenha a papelada de regularidade previdenciária em dia. E tem prazo: 20 de fevereiro.
Nesses casos, a urgência é a gasolina que ajuda a inflamar os discursos na tribuna – seja ela presencial ou online, tanto faz.
2.
Oposição 'Karol Concá'
A Oposição tem muito da estrela do BBB21, Karol Concá – mais pelo enfrentamento do que pelo preconceito que a rapper, por vezes, demonstra. Em Canoas, a Oposição não baixa a crista – como Karol também não baixa.
A prova tivemos também nas duas extraordinárias do ano, com nove e 11 horas de duração, respectivamente.
Esse posicionamento tem muito a ver com o líder natural que a Oposição tem: o veterano Juarez Hoy (PTB). Fiel a Luiz Carlos Busato e ao governo que ajudou a fazer com ele, Juarez em sido o fel da terra do governo na Câmara – e traz, com ele, pelo menos cinco votos: José Carlos Patrício (PP), Aloísio Bamberg (PP), Alexandre Gonçalves (PDT), Eric Douglas (PTB) e Dr. Laércio (PTB).
3.
Independência mas nem tanto
Jonas Dalagna (Novo) é o independente da vez. Eleito longe dos guarda-chuvas do governo e da oposição, se mantém como gravitando no centro das disputadas políticas na Câmara.
Ou quase isso.
Nas duas extraordinárias do ano, Jonas votou na maioria das vezes com a Oposição. Não é uma inclinação, mas uma posição política. O Novo teve candidato nas urnas, Camilo Bórnia, que acabou tendo um papel destacado na eleição. Chegou em terceiro numa disputa que já vinha se desenhando contada há muito tempo com a confirmação das candidaturas de Jairo e Busato. Camilo chegou a frente dos neo-bolsonaristas, do Republicanos que foi protagonista do páreo de 2016, do PT e das candidaturas alinhadas à esquerda. Agora, parece natural que Jonas não seja um 'adesista' ao governo – nem que feche os olhos e vote sempre no 'não' a tudo que interessa ao palacinho.
Por enquanto, e apenas por enquanto, tem sido mais do sétimo na conta de Juarez Hoy do que o 15º aliado da base.
4.
A base e o ferrolho
Falando em base, cabe ao petista Emílio Netto a tarefa de liderar a parte da Câmara que está com Jairo Jorge – 14 em 21, para ser preciso. Parece, mas não é uma tarefa fácil transformar um grupo tão heterogênio em um ferrolho blindado às provocações e cutucos da oposição.
Se engana quem pensa que a mera participação no governo resolve o voto na Câmara. Apoio se consolida com popularidade e prestígio, o que Jairo Jorge tem. Mas os desgastes fatalmente virão, especialmente em um ano em que as soluções que dependem de recursos e caixa podem se alongar no tempo. Alianças como a feita com o MDB, que deixou o governo Busato num dia para aderir à candidatura de Jairo nas 24h seguintes são comuns na política, mas exigem tempo de maturação. E vereadores de partidos pequenos costumam desconfiar quando os tubarões estão tranquilos – gerenciar 14 enquanto o tubarão finge que dorme não é fácil.
O ano legislativo que começa hoje testa também a articulação política sob o comando do vice-prefeito Nedy de Vargas Marques (Solidariedade). Vereador por seis mandatos e deputado por um, põe as habilidades à prova para manter a coesão de um grupo recém saído das urnas e cheio de demandas vindas delas.
Que os jogos comecem.