Que eles andaram conversando, ninguém mais nega – mas se estão, de fato, juntos, não confirmam; verdades e meias-mentiras sobre a aproximação do atual e do ex canoense
Mudou a estação, mas a máxima segue a mesma: mais fácil prever se chove do que como será a política em Canoas em dois anos. Em uma recente entrevista publicada nesta segunda, 10, pelo colega Marco Leite, o deputado federal Luiz Carlos Busato (União Brasil) disse que o partido não tem cargos no governo municipal mas ‘respeita’ muito o atual prefeito, Jairo Jorge, assim como seu vice, Nedy de Vargas Marques. É a senha: Busato e JJ, que andaram conversando durante o afastamento do chefe do executivo, estão em rota de aproximação. Muita coisa explica o fenômeno político que leva os adversários de 2016 e 2020 à uma parceria impensada há até dois anos, e outras tantas justificam o segredo em torno do assunto.
É esse o furo ou a barrigada da estação. E o outono está só começando.
Do começo. Durante seu afastamento, Jairo viu o vice fermentar. O tamanho político que Nedy alcançou como prefeito já o fazia flertar com 2024. Com uma ampla frente na Câmara e sem o ‘mito’ JJ a sombrear-lhe as decisões, Nedy iniciava 2023 com a perspectiva de levar às urnas uma coalizão tão ampla quando a que elegeu Jairo em 2020 – para ser candidato ele mesmo, Nedy, ou alguém com sua bênção. O distanciamento com JJ já consolidado e tido com irreversível obrigou o prefeito a um rompimento com o vice e, nessas horas, abrir conversas com quem pode ser aliado é a solução de sempre.
Em um momento entre novembro e dezembro do ano passado, JJ e Busato se encontraram com cordialidade. O advogado de Jairo em Brasília, Adão Paiani, é filiado ao União Brasil e conhece Busato desde os tempos em que o ex-prefeito exercia seus primeiros mandatos de deputado federal. Se foi o político que fez a ponte para o causídico ou vice-versa, não se tem certeza. Nem dá para garantir que JJ e Busato fizeram um acordo para 2024. O que me parece mais razoável, aliás, é que pouco tenham falado sobre sucessão, haja visto a antecedência. São experientes o suficiente para não ‘queimar a largada’, como se diz por aí.
Jairo, por princípio, tinha convicção no retorno ao final do segundo período de afastamento. A se considerar as condições jurídicas de hoje, é candidato em 2024 – só não irá às urnas se não quiser, portanto. Não teria motivos para negociar 2024 a um ano e tanto da eleição.
Busato, por sua vez, menos ainda. Eleito deputado, líder gaúcho do partido e um dos políticos não-tucanos mais próximos do governador Eduardo Leite, só depende de si para ser candidato em 2024. Concorre se quiser. É o único que, hoje, escolhe sua posição no pleito sozinho; para que, me digam, abriria mão desse poder de decisão com tanta água para rolar por baixo da ponte?
O mais certo é que JJ e Busato tenham acertado um trato de não agressão mútua. Quem se lembra dos governos anteriores de Jairo vai confirmar de memória que o PTB de Busato era parceiro do paço. Só romperam em 2016 por conta da eleição. É bem provável os vermos juntos em causas da cidade, como a interminável briga por mais financiamento hospitalar, uma negociada solução para o transporte público caótico que temos e a novíssima investida do Estado na retomada da RS-010, que parece ser a pauta de Eduardo Leite para o tema mobilidade no eixo da BR-116. Isso pode estreitar a relação a ponto de vermos JJ e Busato do mesmo lado em 2024? Sim, é claro. Mas não significa, necessariamente, que está tudo acertado ou que vá acontecer de qualquer jeito. A referência de Jairo Jorge em seu discurso de retorno ao paço, elogioso a Busato, e a frase de ‘respeito’ de Busato a JJ na entrevista a Marco Leite chancelam as especulações de uma aproximação. O que nascerá disso veremos nos próximos nove meses.
Afinal, 2024 é logo ali, mas já está começando.
